Indiferença marca atuais e ex-dirigentes do Fla, 5 anos após incêndio no CT
Quinta-feira, 8 de fevereiro de 2019. Por volta das 5 horas da manhã, um incêndio no Centro de Treinamentos do Flamengo consumiu o alojamento de conteiners onde dormiam 26 garotos que jogavam futebol nas divisões de base do clube. Dez morreram. Até hoje ninguém foi responsabilizado.
Christian Esmério tinha 15 anos; Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 14; Pablo Henrique da Silva Matos, 14; Bernardo Pisetta, 15; Vitor Isaias, 15; Samuel Thomas Rosa, 15; Athila Paixão, 14; Jorge Eduardo, 15; Gedson Santos, 14 e Rykelmo Viana, 16 anos de idade.
Os garotos do Ninho perderam suas vidas numa tragédia posterior a uma série de irregularidades no CT, que viriam a público posteriormente. A página mais triste, macabra e ao mesmo tempo revoltante da história do Flamengo foi há 1.826 dias e a sensação de impunidade persiste.
O blog conversou com Darlei Pisetta, pai de Bernardo, que morreu no incêndio, hoje teria 20 anos e poderia ser goleiro do próprio Flamengo. Ele fala sobre o distanciamento e falta de suporte da atual diretoria às famílias dos meninos e como a antiga gestão simplesmente os ignora.
A direção do Flamengo mantém algum contato com os familiares dos meninos, pelo menos em momentos como esse, dos cinco anos do incêndio?
A diretoria do clube não mantém contato conosco. Temos contato, às vezes, com a menina do RH (Recursos Humanos) do Flamengo, que às vezes fala com a gente. Quanto à diretoria do Flamengo, nenhum contato, desde o dia do acidente eu praticamente não tive contato com o pessoal da diretoria. Tive no começo contato com o (Rodrigo) Dunshee (vice-presidente e vice jurídico do clube), mas foram poucas vezes. Questão de presidente, não tivemos contato com ele não. Nunca me procuraram também, nem as outras famílias, pelo que estou sabendo.
A direção do clube ofereceu algum suporte depois do acordo indenizatório?
Depois do acordo não ofereceram nada de ajuda psicológica, de remédios, enfim, não teve nenhum tipo de ajuda, não. Fechado o acordo, morreu o assunto, mais ou menos dessa forma. Sinceramente, talvez pudessem oferecer às famílias um suporte, psicológico ou até financeiro, não na questão de dar dinheiro, mas na questão de uma educação financeira. Acredito que para muitas famílias apareceu um valor razoável em suas contas e talvez não tenham noção de como lidar com isso. Eu, inclusive, falei com o pessoal do RH do Flamengo para que tentasse dar essa educação financeira a algumas das famílias pelo menos, as que quiserem, nem todas aceitariam também. Mas não teve nada de procura, não.
E a antiga gestão, que inaugurou novas instalações do CT dois meses antes do incêndio, chegou a procurar os familiares, ofereceu algum suporte?
Não, a gestão antiga também não nos procurou, inclusive, no lançamento do livro (de Daniela Arbex), "Longe do Ninho" (segunda-feira), estava lá o (Eduardo) Bandeira (de Mello, presidente do clube de 2013 a 2018), nós estávamos em cinco familiares e ele em momento algum veio nos cumprimentar, ou nos dirigiu a palavra. Então essa é uma omissão muito grande, de toda a diretoria antiga, ninguém nos procurou e até o presente momento ninguém nunca nos dirigiu a palavra.
O novo museu do clube não faz referência aos meninos, os familiares chegaram a questionar a diretoria do Flamengo a respeito?
Antes da inauguração do museu novo tinha sim uma área destinada aos meninos. Tinha lá dez bustos com dez camisas com os nomes dos meninos. Um negócio bem legal, muito bem feito. Mas com a reforma e inauguração do museu (em 4 de agosto de 2023) eles tiraram do local. Eu questionei as pessoas até onde eu consigo chegar, que é o pessoal do RH. Falei também com Maurício (Gomes de) Matos (vice-presidente de embaixadas e consulados do Flamengo), referente a isso, e a informação que recebemos foi de que o Flamengo já fez um memorial para os meninos dentro do CT. Até o ano passado, quando eu estive no CT, na missa em 8 de fevereiro, tinha sim lá uma obra que eles dizem que é o memorial dos meninos. Mas não existe nenhuma identificação dizendo que é um memorial dos meninos, com os nomes dos meninos. Quer dizer, é uma obra, uma capela, sem identificação alguma. Talvez tenham colocado agora, mas até então não tenho nenhuma informação de que isso foi mudado.
As famílias mantêm contato?
Sim, temos um grupo de WhatsApp e muitas vezes conversamos, sim. Eu tenho mais proximidade com algumas famílias aqui de Santa Catarina e do Paraná, por estarem mais próximos da gente. As outras famílias, mais pelo WhatsApp. Mas a gente vem conversando com quase todas as famílias todas as semanas.
Cinco anos após o incêndio, ninguém foi responsabilizado. O senhor ainda tem esperança na justiça?
Com certeza a gente tem bastante esperança de que isso se resolva o quanto antes. Acho que alguém tem que ser punido sim, responsabilizado, porque foi uma tragédia praticamente anunciada, Problemas na parte elétrica do ar condicionado um dia antes, várias intimações ao Flamengo sobre as adequações que teriam de ser feitas e não foram cumpridas, várias multas, então tanto a gestão anterior quanto a que assumiu, acredito que estavam sabendo das condições nas quais estavam os alojamentos.
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