Mauro Cezar Pereira

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Flamengo e Paquetá: coragem para correr o risco ou apenas agenda positiva?

Lucas Paquetá foi denunciado pela Associação de Futebol da Inglaterra (FA) em maio. A acusação: suposto envolvimento em esquema de apostas. As partidas do West Ham nas quais teria participado aconteceram entre 2022 e 2023. O meia diz ser inocente. Sua situação é delicadíssima, e o Flamengo surge como interessado em repatriá-lo em meio às circunstâncias.

Após nove meses de investigação, a FA concluiu que o brasileiro violou a regra E5.1 da FA, que proíbe jogadores de participarem em manipulação de resultado ou de condução de um jogo. "Um jogador não pode, direta ou indiretamente, tentar influenciar, para fins impróprios, o resultado, o progresso, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência em conexão com um jogo ou competição."

A Football Association tem um documento de conhecimento público com as regras sobre apostas e manipulação de resultados. Nele, deixa claro que todos os envolvidos com o futebol são proibidos de apostar em qualquer partida ou campeonato no mundo. Importante: o veto abrange o compartilhamento de informações com quem possa utilizá-las para apostar.

Sandro Tonali, do Newcastle, foi suspenso por apostar em vitórias de seu próprio time (algo que não depende apenas de uma ação dele), desde os tempos em que defendia Milan e Brescia. A promotoria da Federação de Futebol da Itália (FIGC) fez acordo com a defesa do meia: 10 meses de suspensão, mais oito meses de atividades de reabilitação, além de apresentar que terapia faz contra o vício em apostas, que ele mesmo admite.

Sobre Paquetá, o relatório da FA recomenda "banimento para sempre", de acordo com o que vem publicando há meses a imprensa inglesa. O jogador já foi às redes sociais onde escreveu estar surpreso e decepcionado, alegando ter cooperado com a investigação. O ponto é: diante da maneira como a FA pede punição, acredita-se que tenham provas muito contundentes.

A penalidade pode ser uma suspensão de seis meses ou mesmo o afastamento definitivo do futebol. Uma comissão independente é responsável pelo veredicto e ainda caberia recurso ao Comitê de Apelações. Isso significa que o imbróglio pode se arrastar por meses e meses. Enquanto isso, o jogador seguirá atuando por seu clube e na seleção brasileira, quando convocado.

A defesa de Lucas Paquetá sabe das dificuldades que terá pela frente, mas segue sem a noção de quando uma decisão será tomada, com punição ou absolvição do atleta. Fato é que ele já perdeu a oportunidade de se transferir para o Manchester City no começo da temporada passada. Agora o Flamengo surge querendo repatriá-lo. Mas se penalizado ele poderia atuar fora da Inglaterra?

Em 2018, Bradley Wood foi condenado a seis anos de suspensão. O lateral do Lincoln City (hoje na terceira divisão) foi considerado culpado por receber dois cartões amarelos intencionalmente. Em 2021, Kynan Isaac, do Stratford Town (atualmente na sétima divisão), foi punido por 10 anos. O lateral apostou que ele mesmo levaria um cartão amarelo.

O caso de Paquetá é mais grave, afinal, trata-se de um jogador da Premier League, com visibilidade infinitamente maior. E ele é investigado por advertências recebidas não em um jogo, mas em quatro! Todos da primeira divisão inglesa: contra o Leicester (12 de novembro de 2022), Aston Villa (12 de março de 2023), Leeds (21 de maio de 2023) e Bournemouth (12 de agosto de 2023).

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O Flamengo imagina que, caso seja punido, o jogador possa ficar livre para atuar em outros países ou continentes. Mas a FA aceitaria passivamente que Paquetá continuasse a jogar futebol profissionalmente caso seja punido? Não pressionaria a Fifa para ampliar a penalização, tornando-a global? A Premier League toleraria isso? Será? Tudo é muito complexo e arriscado.

No final, só uma certeza: o torcedor rubro-negro se empolgou com a possibilidade de recebê-lo de volta. E o tema ofusca por um momento o noticiário sobre Gabigol e a possiblidade de ele se transferir para o Palmeiras. É a chamada agenda positiva, embora no momento nem faça tanto sentido, ante o ótimo desempenho do time comandado por Tite na Série A.

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