Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nunca esquecerei Gilmar Fubá, o alegre ladrão de "tetas de nega"
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Trabalhei no Lance! de 1998 a 2000. Ali, fiz uma das minhas melhores matérias. O nome era "Eu venci a fome" e trazia depoimentos de atletas que alcançaram a fama, mesmo vindo de condições sociais adversas. Muito adversas.
Edinanci comia formigas com arroz. Edmilson ia cortar cana com o pai e, para amortecer a fome, bebia um gole de pinga. Os dois tinham menos de dez anos.
O sonho de Popó era comer lasanha. Uma namorada o convidou para conhecer os pais e prometeu lasanha no almoço. Então, deu o fora em Popó. Em prantos, ele aceitou o rompimento, mas pediu para o almoço ser mantido. E se fartou de lasanha.
Gilmar Fubá contou que ele e um amigo adoravam um doce chamado de "teta de nega" (o politicamente incorreto imperava). Sem dinheiro para comprar, eles se escondiam perto de uma padaria e esperavam alguma mulher comprar.
Então, saiam do esconderijo, gritavam com força e, se o pacote com doce caia, pegavam rapidamente e comiam tudo.
Explicou o apelido: não havia dinheiro para leite e a sua mamadeira era de fubá com muita água.
E a primeira vez em que se concentrou? Ficou maravilhado com tanta comida e fez um prato enorme, que mais parecia a torre Eiffel. Não sabia que era permitido repetir.
Gilmar superou tudo e fez 128 jogos por um dos maiores clubes do mundo. Hoje, foi vencido pelo câncer.
Já entrevistei muita gente, de Pelé a Maradona, de Romário a Eder Jofre. Sempre tive vergonha de pedir uma foto.
Ficam na lembrança.
Nunca esquecerei Gilmar Fubá, o ladrão de tetas de nega.
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