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Invasão cubana em Rondônia
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O jogo estava 2 a 0 e o treinador Tiago Bazicoto mandou Keko para o aquecimento. Faltavam 15 minutos. Ele entrou e logo recebeu uma bola ainda em seu campo. Com velocidade, ganhou terreno, livrou-se de um marcador e chutou cruzado. Um gol muito parecido com o de Rojas, pelo São Paulo contra o Santo André, pelo Paulistão. O Porto Velho venceu o Rondoniense por 3 x 1.
Tudo normal. Com duas exceções:
1) Keko é Sander Fernández, atacante cubano. Chegou há dez dias, com os compatriotas Sandro Cutino, zagueiro e Sandy Sánchez, goleiro.
2) O Porto Velho Esporte Clube se chamava 14 Bis. Foi fundado por funcionários da base da Força Aérea Brasileira em Rondônia. O presidente é
Jeanderson Maranhão, sargento da FAB.
Militares dando emprego a cubano? Tudo normal, a Guerra Fria acabou há décadas.
Normal? Em um país que abriu mão de um convênio que trazia médicos cubanos ao Brasil? Não, não é normal.
Gérson Saraiva, gerente de comunicação do Porto Velho, prefere ver apenas o lado esportivo da contratação. "O mundo está muito polarizado. Nós não queremos ideologia. Contratamos três bons jogadores e nem sabemos se eles são comunistas ou contra o governo atual".
Eles chegaram há dez dias e houve integração total com os companheiros. "Quando fazem um gol nos treinos, o time faz dancinha caribenha. São pessoas alegres e jogam bem".
O gol de Keko foi importante para levar o Porto Velho às semifinais do campeonato rondoniense (rumo ao bi), foi comemorado de forma coletiva, não teve punho levantado, homenagem a Fidel ou protesto contra o bloqueio norte-americano a Cuba. Nada disso. Um trenzinho cheio de ginga, talvez uma homenagem à Locomotiva, símbolo do clube.
O fato de terem passagens pela seleção cubana ajudou na contratação. "Nosso departamento de estatística levou em conta. Se é de seleção, mesmo que Cuba não seja uma potência, já mostra alguma coisa. E eles chegaram com uniforme próprio, mochilas e camisetas da Joma, que veste a seleção cubana", conta Gerson Saraiva. Ele lembra que é difícil a formação de jogadores em Rondônia e que sempre é necessário trazer atletas de fora.
O Porto Velho foi fundado em 2018. Seu time feminino já chegou às oitavas de final da Campeonato Brasileiro da Série A-2. O masculino foi campeão estadual no ano passado e disputou a Copa do Brasil. Por causa da pandemia, precisou enfrentar o Ferroviário do Ceará em Duque de Caxias. Foi eliminado por 1 x 0.
A folha salarial, da cozinheira ao treinador, é de R$ 80 mil. A diretoria comemora o fato de, na próxima Copa do Brasil, Rondônia estar incluída na região Centro-Oeste. "Vai nos dar uma visibilidade maior, tecnicamente e também para o marketing", diz Saraiva.
Quem sabe, com mais cubanos.
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