Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Menon: Desisto do futebol
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A última vez que fui ao estádio foi em 5/3/2020, quando o São Paulo de Pato e Daniel perdeu para o Binacional, em Juliaca, no Peru, pertinho do maravilhoso e inesquecível Lago Titicaca.
A pandemia estava começando e poucas vezes sai de casa. Pensava muito em voltar aos estádios. A chuva me impediu duas vezes de ir ao Canindé, nas últimas semanas.
Agora, não! Chega. Pra mim, deu!
Na verdade, nunca fui um frequentador assíduo, como muitos de vocês. Nasci em uma cidade pequena, Aguaí, e futebol, para mim, era através das ondas do rádio. Rádio Bandeirantes, com Fiori Gigliotti, Flávio Araújo, Enio Rodrigues, Borghi Jr...
Ir ao Morumbi, poucas vezes. Eu, meu pai e primos dele vínhamos de Kombi. A Kombi do meu avô.
Me lembro de um São Paulo x Colônia, da Alemanha. Gerson e Overath.
Em 1972, vim fazer cursinho em São Paulo. Fui bastante ao Morumbi e Pacaembu. Teve um jogo da seleção contra a Bulgária, se não me engano. Me recusei a ficar em pé para cantar o Hino Nacional. Um juvenil protesto contra a ditadura militar brasileira, com minúsculas.
Fui fazer faculdade em Lins e só voltei a São Paulo em 1984. Em 78, de férias, vi São Paulo x Operário, a primeira vez que a torcida tricolor lotou o Morumbi.
A partir de 84, me esbaldei. Muitos e muitos jogos aplaudindo os Menudos. Era feliz com Muller e Careca.
Em 1988, comecei a trabalhar em jornal. E, então, foram milhares de jogos no Brasil, América do Sul, Coreia, Japão, Alemanha, Estados Unidos.
Trabalho bom!
Você ainda ganha pra isso, né, perguntou um dia o saudoso Gilmar Vilanova, lateral esquerdo do São Luís, em Aguaí.
Agora, não tenho mais coragem. De ir ao Shopping Bourbon em dia de jogo do Palmeiras. Ou em outro shopping perto de algum outro estádio.
Torcida do Bahia joga bomba no ônibus do...Bahia. Danilo Fernandes atingido.
Torcida do São Paulo joga bomba no ônibus do São Paulo.
Torcida do Paraná entra em campo para agredir seus jogadores.
E a faca atirada em campo por torcedor do São Paulo em jogo da Copinha?
Torcida do Inter joga pedra em ônibus do Grêmio. Villasanti no hospital.
Não vou aqui vilanizar torcida de futebol. Mas o poder público (com minúsculas) precisa prender os bandidos.
Sei que a violência não é de hoje. Em 95, estava no Pacaembu quando um palmeirense foi assassinado.
Sei que a semana pode ter sido atípica e que a violência está por aí, espalhada nesse país de milicianos
Sei.
Nada mudou.
Só eu.
Tenho 68 anos. Tenho um bom sobrepeso. Subo escadas com dificuldades. Não posso correr para ficar longe de uma briga. Ou de um arrastão.
Não dá mais pra mim.
Minha degeneração física, aliada à degeneração ética do Brasil, forma uma parceria que me impede de colocar em prática um sonho que tenho acalentado nos últimos dois anos.
Joguei a toalha.
Estou triste. Muito triste.
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