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OPINIÃO

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Qatar não é o primeiro a usar a Copa para "lavar" sua imagem

Faixa pede boicote à Copa do Catar em jogo da liga alemã, 10 de novembro de 2022. Imagem: Boycott Qatar 2022/Twitter/Reprodução - Imagem: Boycott Qatar 2022/Twitter/Reprodução
Faixa pede boicote à Copa do Catar em jogo da liga alemã, 10 de novembro de 2022. Imagem: Boycott Qatar 2022/Twitter/Reprodução Imagem: Imagem: Boycott Qatar 2022/Twitter/Reprodução

23/11/2022 17h33Atualizada em 23/11/2022 17h41

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O texto abaixo é do cientista politico Pedro Rodrigues Alves.

Em dezembro de 2010 os olhos do mundo se voltaram ao Qatar, quando ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2022. Desde então, as discussões esportivas foram sendo inundadas por polêmicas acerca do país sede, que passa por questões de direitos humanos acerca da precária condição de trabalho à posicionamentos contra a comunidade LGBTQIA+.
O episódio 43 do podcast Maldita Politicagem aborda as Copas que foram utilizadas para 'lavar' regimes políticos autoritários e que violaram direitos, torceram o espírito desportivo e ofuscaram o congraçamento multicultural que o evento deveria promover.
Ao secretário-geral da Copa, Hassan Al Thawadi, afirma que a sociedade do Catar sofre com preconceitos e estereótipos. Portanto, a Copa de 2022 não é apenas um evento esportivo, é também um evento político, uma tentativa de mudar a imagem do país no mundo. Isso pode ser compreendido como um exemplo da utilização do sport washing. O termo em inglês se refere a ideia de lavar utilizando-se o esporte, de forma direta é o uso de eventos esportivos para lavar a imagem de um país.
Esse fenômeno não é algo recente na história, podemos pensar em exemplos históricos como a Olimpíadas de 1936, que ocorreu na Alemanha sob o comando de Adolf Hitler, onde vitória alemã foi utilizada como argumento para sustentar uma suposta superioridade da raça ariana.
Dentro da realidade brasileira, podemos pensar na Copa de 1970. O então presidente Médici utilizou a competição e a vitória brasileira no mundial para vender a imagem do Brasil como um país unidos e sem conflitos. Essa tentativa se materializou na música do Brasil na Copa: "90 milhões em ação, para frente Brasil, no meu coração. Todos juntos vamos, para frente Brasil, Salve a seleção!".
A Copa do Qatar tem o mesmo efeito, busca abrir as fronteiras e passar uma imagem diferente do país ao mundo. Porém, trazer todos os olhares do mundo pode ter um resultado diferente do desejado, como ocorreu com o exemplo alemão, onde a vitória do atleta negro Jesse Owens, dia EUA, desafiou a superioridade ariana.
Em matéria divulgada pelo The Guardian, da Inglaterra, mais de 6500 trabalhadores morreram no Catar desde que o anúncio de que seria sede da Copa. Esse número é composto por imigrantes de países do sul da Ásia, como Índia, Nepal e Paquistão.
Outro fator exposto é a criminalização da homossexualidade no país sede. O embaixador do Catar na Copa do Mundo e ex-jogador nacional Khalid Salman, em entrevista à emissora da Alemanha, afirma que ser gay é "haram", ou seja, proibido e de origem de "dano mental". Apesar das falas do Major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari dizendo que o país é seguro a todos, é proibido a circulação da bandeira em defesa da comunidade LGBTQIA+ e a demonstração de carinho de forma pública é passível de prisão no país.
Temos que tomar o cuidado para não realizar uma imposição cultural de nossa visão de mundo, mas é praticamente impossível ficar indiferente aos casos de ataques aos direitos humanos que as lentes do mundo têm observado no Catar, lentes essas trazidas pelo próprio país.
Expediente:
O Maldita Politicagem é um podcast educacional nas áreas de socióloga e ciência política e que sai todas as terças-feiras nos principais agregadores de áudio. Durante o período da copa serão publicados boletins semanais sobre temas políticos envolvendo o evento. E um pouco sobre futebol também.
Maldita Politicagem no Instagram e twitter: https://www.instagram.com/malditapoliticagem/
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