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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem Pelé, nosso Nobel, Brasil fica menor e o futebol, mais triste

29/12/2022 16h02

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Pelé morreu

São dez letras.

Pelé morreu. Assim, com ponto final, são onze caracteres.

Pelé, o maior camisa 10 —e maior jogador de todos os tempos— do esporte com onze de cada lado, o mais completo e apaixonante de todos os esportes.

Pelé é e continuará sendo muito mais do que o maior jogador de todos os tempos do maior esporte de todos os tempos.

O Atleta do Século, o Homem dos 1200 gols, o Pacificador de Guerras, é o que o Brasil produziu que ficou mais perto da perfeição. A própria perfeição.

Pelé.

Quem mais?

Alberto Santos Dumont, o inventor do avião? Mas o que é um avião diante de mil gols? O que são mil aviões diante de um gol de Pelé?

Oscar Niemeyer, que, como Garrincha, provou que a mais bela distância entre dois pontos é uma curva? Nem o gênio Niemeyer desafiaria a lógica de tempo e espaço como o garoto de 17 anos que deu um chapéu no zagueiro galês e fez o gol — uma jóia minimalista, um haikai — diante de um assustado goleiro.

Pelé é nosso prêmio Nobel.

É nossa carta na manga.

"Quantos gols Mario Vargas Llosa fez?", podemos dizer aos peruanos.

"Escolha o mais belo poema de Gabriela Mistral que eu te respondo com um gol de Pelé", dizemos aos chilenos.

E você, colombiano, não me venha com o realismo fantástico de Gabo que te mostro um drible de Pelé.

Borges + Bioy Casares? Ah, amigo argentino, você ouviu falar de Pelé e Coutinho?

Messi e Maradona? Pelé.

Einstein? Madame Curie? Saramago? Pelé. Pelé. Pelé.

E quando um cubano lembrar do enxadrista Capablanca, lembraremos que nunca houve torre que aprisionasse Pelé e que bispos, papas, reis e rainhas se curvaram a ele.

Pelé era gigante mesmo com suas contradições.

Nunca se posicionou contra o racismo, mas quem fez mais pela autoestima de milhões de pretos e pobres e subjugados pelo mundo? Qual garoto africano não viu em Pelé, ou em Muhammad Ali, a sua personificação? "O melhor de todos é um dos meus. Tem minha cor", dizem.

Pelé nunca se posicionou a favor de trabalhadores, mas sua lei libertou jogadores brasileiros da escravidão do passe. Basta ver quem é contra até hoje.

Pelé não é e nunca foi uma divindade. Também errou, como nós todos os pobres mortais. Impossível falar de sua partida, celebrar sua vida sem lembrar como nunca reconheceu a filha Sandra, mesmo quando ela agonizava.

O Rei foi tirano.

Culpemos o Édison, cultuemos Pelé.

Veja a trajetória de Pelé em fotos