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Opinião: Andrés vê rejeição da torcida crescer, mas amplia domínio político

Andrés Sanchez - Zanone Fraissat/Folhapress
Andrés Sanchez Imagem: Zanone Fraissat/Folhapress

04/01/2021 11h55

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Com a posse de Duílio Monteiro Alves na presidência nesta segunda (4) se encerra mais uma gestão de Andrés Sanchez no Corinthians. O termômetro das redes sociais mostra que ele deixa o cargo com uma rejeição maior entre os torcedores do que quando assumiu.

Internamente no Parque São Jorge o movimento é inverso. Andrés sai ainda mais fortalecido. E a vitória de Duílio, seu escolhido para disputar a eleição, mostra isso.

Em sua mais recente passagem pela presidência, Andrés repetiu ações comuns no clube desde que seu grupo assumiu o poder e que boa parte da torcida já não suportava mais.

Nesse pacote estão, principalmente, as chegadas de jogadores sem histórico animador e que não vingaram. As seguidas contratações para o time sub-23, criado com o objetivo de absorver os atletas da base que "estouraram" a idade, também incomodaram o torcedor.

A torcida ainda se irritou com informações divulgadas pela diretoria e que depois descobriu-se que não estavam corretas. Foi assim com detalhes do contrato do BMG e com a porcentagem a qual o clube terá direito numa eventual futura venda do lateral Carlos Augusto pelo Monza.

A gestão de Andrés também foi marcada por seguidos atrasos nos salários dos jogadores. Enquanto o time lutava para se afastar da zona de rebaixamento do Brasileirão, a falta de pagamento chegou a completar três meses.

Para resolver o problema, Andrés antecipou junto a uma instituição financeira os 18 milhões de euros que seriam pagos pelo Benfica parceladamente pela compra de Pedrinho. Ele também conseguiu que Will Dantas, empresário do jogador, aceitasse receber seus 30% a partir de 2021.

A antecipação de receitas é comum não só nas gestões de Andrés, mas na maioria dos clubes brasileiros.

Em meio aos problemas financeiros e aos maus resultados no Brasileiro, Andrés conseguiu realizar o maior feito de sua última administração: vendeu os naming rights do estádio alvinegro, que passou a se chamar Neo Química Arena.

Na operação, recorreu a um velho parceiro, como faz rotineiramente, pois a empresa já havia sido patrocinadora do clube.

Depois de mais de um ano de tentativas, Sanchez deixou um acordo encaminhado com a Caixa para encerrar a cobrança feita na Justiça pelo banco por conta de atrasos no pagamento das prestações do financiamento de R$ 400 milhões feito junto ao BNDES por meio da Caixa. Uma nova forma de pagamento está praticamente costurada. O cartola teve a ajuda do conselheiro Edgard Soares, membro da comissão do conselho deliberativo para assuntos relativos aos estádio e que já havia colaborado em acordo com a Odebrecht também nesta gestão de Sanchez.

Externamente, as ações do presidente em relação ao estádio soaram como grandes trunfos eleitorais para que ele ajudasse seu escolhido a se eleger.

Porém, na prática, valeu mais sua habilidade na política interna, principalmente para manter históricos cabos eleitorais fiéis à sua causa.

As estratégias escolhidas por Andrés, Duílio e seus principais colaboradores foram tão bem sucedidas que a oposição tradicional saiu do pleito arrasada. Nomes como Antônio Roque Citadini, Paulo Garcia e Osmar Stabile apoiaram Mário Gobbi, ex-aliado de Sanchez e que ficou em último no pleito, atrás também de Augusto Melo.

O momento era considerado ideal para a oposição ganhar a eleição, mas o grupo de Andrés atropelou os opositores.

Nesse cenário, o encerramento de mais um capítulo da história de Sanchez no Corinthians reforça que o desejo do torcedor é o que menos importa nas eleições do clube. Isso só pode mudar se o sócio-torcedor tiver direito a voto. Caso contrário o time conhecido por ser do povo cada vez mais parecerá pertencer a um pequeno grupo. Andrés deu ao clube a cara de um negócio de família.