Por que toleramos xingamentos de Fernando Diniz, mas não os de Anitta?
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Recentemente, choveram críticas à cantora Anitta por conta dos palavrões proferidos para seus empregados e outras grosserias protagonizadas por ela na série documental que retrata sua trajetória.
Enquanto a celebridade chocava grande parte do público, Fernando Diniz escapava praticamente ileso no julgamento popular e da imprensa, mesmo apresentando comportamento similar.
Na última quarta (6), o treinador do São Paulo voltou a insultar um comandado. Chamou Tchê Tchê de "mascaradinho", "perninha" e "ingrato do c..." na derrota por 4 a 2 para o Red Bull Bragantino.
Não foi surpresa para ninguém. Aprendemos a aceitar as ofensas dele a seus subordinados, mas não toleramos a mesma estupidez em outras áreas.
Quantas vezes vimos a relação de tapas e beijos do técnico do São Paulo com Luciano ser tratada como normal e divertida?
Normal não é. Experimente esguichar água no seu chefe após ele fazer uma cobrança para ver o que acontece.
Por que somos mais tolerantes com Diniz do que com Anitta ou com outros chefes que ofendem seus subordinados?
Na minha opinião, isso é reflexo do mundo paralelo que criamos para o futebol. Os criadores somos nós, torcedores, jornalistas, jogadores, técnicos e dirigentes.
Construímos uma bolha na qual se pode quase tudo. O exemplo mais básico é o da criança que tem permissão para falar palavrão no estádio, mas não em casa.
O que você diria de alguém que comete uma fraude num processo seletivo em busca de uma vaga de emprego prejudicando seus concorrentes? Provavelmente, você condenaria o trapaceiro.
No futebol, porém, na maioria das vezes impera outra lógica. O trapaceiro quase sempre é abraçado pelo torcedor de seu time. E se ele for honesto a ponto de impedir uma marcação da arbitragem injustamente favorável a seu time, será massacrado pela maioria de seus fãs. Rodrigo Caio que o diga.
A passada de pano para as grosserias de Diniz fazem parte dessa ilha chamada futebol. Nela, praticamente tudo é permitido em nome da vitória.
Claramente é uma distorção provocada pela sociedade. Diniz tratar com xingamentos seus comandados é tão grave quanto Anitta ou outro chefe fazer isso.
O futebol não deveria dar alvará para que se pratique o que é condenável nas outras áreas.
A justificativa de que não é possível pedir "por favor" no calor de um jogo não serve. Uma coisa é dispensar formalidades e até certas gentilezas. Outra coisa é xingar seus subordinados.
Também não é uma explicação plausível Diniz dizer que esse é seu jeito de trabalhar e pronto. Já pensou a balbúrdia que seria se todo chefe xingasse seus funcionários e todos fossem obrigados a aceitar esse estilo?
Fosse outro seu emprego, Diniz teria seus barracos analisados por seus superiores. É o que a nova diretoria tricolor, que prega o profissionalismo, deveria fazer. Internamente, da mesma forma que Diniz disse que trataria o caso com Tchê Tchê, expulso contra o Red Bull Bragantino por agredir Cuello.
Vale lembrar que a discussão entre jogador e treinador começou depois de o atleta questionar se não poderia falar com o chefe.
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