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Como Copa América atende a interesses de Bolsonaro
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Em março de 2020, depois de a CBF suspender as competições sob sua responsabilidade no país, Jair Bolsonaro classificou durante entrevista a paralisação do futebol em território nacional como histeria.
O episódio ajuda a entender como a realização da Copa América em estádios brasileiros atende aos interesses do presidente.
A relação entre suspensão de partidas e histeria deixa claro que para Bolsonaro o futebol pode contribuir para uma sensação de falsa normalidade em meio à dura crise sanitária.
Esse papel a competição entre seleções pode ter agora. Tenho a sensação de que a qualquer momento Bolsonaro vai disparar: "se o Brasil estivesse lidando tão mal com a pandemia como dizem, não conseguiria realizar uma competição que Argentina e Colômbia não conseguiram tocar". Como se fosse possível disfarçar a tragédia sanitária que vivemos.
Os especialistas temem o risco de uma piora ainda maior na pandemia de covid-19 no inverno brasileiro. Quando a estação mais fria do ano começar, a Copa América já estará em andamento, pronta para ocupar um espaço no noticiário maior do que teria se o torneio acontecesse longe daqui.
O presidente sempre disse entender que a imprensa brasileira fala demais sobre a pandemia e que isso é tóxico para a população. Nada melhor do que o futebol para fisgar a atenção do povo.
Mesmo antes de o torneio começar, sua capacidade de atrair os holofotes já pôde ser sentida. A Copa América virou assunto até na CPI da Covid.
Por alguns instantes, em vez de ouvirmos sobre cloroquina, demora para compra de vacinas, imunidade de rebanho e ministério paralelo, ouvimos a respeito de Copa América, ainda que seja de forma negativa.
Tentativas jurídicas de impedir a competição devem fazer o torneio concorrer mais ainda com as notícias que irritam o presidente.
Se você não notou, repare. Bolsonaro agora tem falado sobre a Copa América. Nesta terça (1º), durante discurso, ele chegou até a dar parabéns para o Ministério da Saúde, a outros ministros envolvidos e para a CBF por assegurarem a realização da Copa América no Brasil.
Bingo! O torneio rejeitado pela Argentina serve também para Bolsonaro criar uma agenda positiva para seu governo. Ainda que esse positivismo só seja enxergado por quem tem a mesma miopia que ele. Uma visão que não enxerga o risco de juntar gente que vive em diferentes partes do mundo para jogar bola num país destroçado pela pandemia. Não vê o desrespeito com parentes dos mais de 465.310 mortos e com médicos exaustos por combater o novo coronavírus e os efeitos do negacionismo presidencial.
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