Topo

Perrone

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Leila abraça 'regra' que barra acesso direto de conselheiros a contratos

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, concede entrevista coletiva em Abu Dhabi - Reprodução/Palmeiras
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, concede entrevista coletiva em Abu Dhabi Imagem: Reprodução/Palmeiras

01/04/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Conselheiros oposicionistas do Palmeiras reclamam de falta de transparência no clube. Eles estão em campanha para ter acesso a contratos e outros documentos que julgam precisar examinar para poderem exercer suas funções como membros do Conselho Deliberativo (CD). Entre a papelada que desejam analisar está o contrato de patrocínio da Crefisa, empresa presidida pela presidente do clube.

As reivindicações provocam um embate da oposição com cartolas graúdos no clube. Os presidentes do Conselho Deliberativo, Seraphim Del Grande, e do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização), Tommaso Mancini, alegam que os conselheiros não podem ter acesso direto aos contratos de patrocínio, entre outros documentos. Leila Pereira apoia essa determinação.

"Os contratos de patrocínio são liberados para análise do Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), órgão formado por ex-presidentes do clube e também por membros eleitos justamente pelo Conselho Deliberativo (CD). Sempre que algum conselheiro desejar esclarecimentos sobre esses contratos, deve pedi-los aos 'cofistas'", disse Leila por meio do departamento de comunicação do clube à coluna.

A pergunta havia sido se ela se opõe à exibição de contratos como os da Crefisa e da FAM, suas empresas, a conselheiros.

Para os opositores tal veto os impede de atuar como manda o estatuto. Essa queda de braço ganhou novo round na última segunda-feira (28) em reunião do Conselho Deliberativo.

O conselheiro Felipe Giocondo, do grupo Ocupa Palestra, crítico da ala que está no poder, falou das dificuldades para obter informações e pediu esclarecimentos sobre se é possível ter acesso a contratos e outros documentos. Segundo membros da oposição, o presidente do conselho disse que o acesso direto de conselheiros a contratos não é possível.

"Foi falado a eles que o COF é o representante de todos os conselheiros. Então, eles devem se dirigir ao COF e pedir ao presidente. Se o presidente do COF quiser mostrar (contratos) para eles, sem fotografar nada, pode até mostrar para eles. O que não pode é entregar para eles o contrato. É uma coisa interna do clube", afirmou Seraphim a este colunista.

"O artigo 108 do estatuto fala que compete ao presidente do COF ter acesso a todas essas documentações e mostrar todas as documentações", completou o cartola máximo do CD.

Indagado sobre o tema pela coluna, o presidente do COF foi claro ao dizer que os conselheiros não podem ter acesso direto aos contratos.

"De acordo com o artigo 108 do estatuto eu posso ver o contrato. Posso até falar para eles do contrato. Mas não posso mostrar para eles o contrato", disse Mancini. O dirigente afirmou que fez resumos de todos os contratos para dar explicações a quem tem dúvidas.

Porém, Mancini coloca mais uma barreira entre conselheiros e a papelada. "Eles têm que pedir para os 'cofistas' em quem eles votaram e falar o que eles precisam. Eles vão ter as informações por intermédio de quem eles votaram. Eu tenho tudo lá e atendo a todos os 'cofistas'. Não tenho condições de atender 250 conselheiros na minha sala", declarou Mancini.

O conselheiro Giocondo disse que numa reunião em 11 de janeiro ele e colegas ouviram do presidente do COF que só Leila poderia autorizar a liberação dos contratos para conselheiros.

Leila Pereira

O integrante do Ocupa Palestra também alega que foi procurado por aliado de Leila que assegurou que ela havia dado a liberação. Depois, ele foi informado pelo presidente do COF de que não teria acesso direto aos documentos.

Mancini disse para ele procurar o "cofista" em que votou para fazer a solicitação e que o COF é um órgão independente no Palmeiras, com regras próprias.

Indagado sobre o assunto, Mancini respondeu com a seguinte mensagem: "quem falou em liberar os contratos foi a presidente Leila, mas esse assunto é prerrogativa do COF, e eu como presidente do COF tenho que respeitar o nosso estatuto".

A coluna perguntou ao departamento de comunicação do Palmeiras se a presidente confirmava a versão do mandatário do COF e ouviu como resposta de Leila que ninguém está autorizado a falar em nome dela.

Crefisa

Os conselheiros que afirmam existir falta de transparência no clube citam artigo do estatuto que indica ser de competência do Conselho Deliberativo "requisitar papéis e documentos da administração necessários ao julgamento da matéria sujeita à sua decisão".

"Entendo que se o conselheiro tem o dever de fiscalizar, ele tem que ter também os meios para fazê-lo adequadamente. Isso está expresso no estatuto", afirmou Luiz Moncau, membro do conselho que também integra o Ocupa Palestra.

"Na verdade nós queremos estabelecer um rito de fiscalização por parte dos conselheiros, que hoje têm acesso a muito pouca coisa. Inclusive os 'cofistas' estão reclamando que nem eles têm acesso a contratos. Não pedimos acesso específico a nenhum contrato, mas sinalizamos, por exemplo, a importância que tem o conselho conhecer os detalhes do contrato da Crefisa, já que a Leila figura nas duas partes", declarou Giocondo.

Balanço

Conselheiros oposicionistas também reclamam que só receberam informações detalhadas sobre o balanço de 2021 ao chegarem para a reunião em que ele seria votado, na última segunda.

Antes, afirmam, tiveram acesso a informações incompletas. Por isso, decidiram se abster de votar e protocolaram documento no conselho registrando a abstenção. A peça é assinada por 31 conselheiros. O balanço foi aprovado pelo conselho.

O presidente do órgão disse que os conselheiros receberam o balanço sem as notas explicativas 20 dias antes da reunião. E que o complemento foi entregue no dia da sessão. Segundo ele, a queixa dos conselheiros acontece porque no ano passado eles tiveram acesso ao balanço completo antes da votação por causa de contratempo provocado pela pandemia de Covid-19.

No entanto, no documento em que a abstenção é explicada os conselheiros apontam outros itens além das notas explicativas que não foram entregues, segundo eles.

Outro pedido de oposicionistas é por uma reforma estatutária visando fortalecer a transparência e a fiscalização por arte dos integrantes do conselho.