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Acusado de injúria racial diz ser cartola do Boca. Corinthians planeja agir

Torcida do Boca Juniors durante partida contra o Corinthians - Ettore Chiereguini/AGIF
Torcida do Boca Juniors durante partida contra o Corinthians Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

30/06/2022 21h02

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Com Tales Torraga, colunista do UOL

Em audiência de custódia após ser indiciado por injúria racial durante o jogo de seu time contra o Corinthians, na última terça (28), Sebastián Palazzo disse ser dirigente do Boca Juniors. Ele foi solto após pagar fiança de R$ 20 mil e responderá ao processo em liberdade.

Conforme apurou a coluna, o Corinthians espera ter em mãos a transcrição oficial da audiência para enviar a informação para a Conmebol. Um relato sobre os atos racistas já foi encaminhado pelo clube à Confederação Sul-Americana.

Como mostrou a "Folha de S.Paulo", Palazzo aparece em uma relação de conselheiros publicada pelo site do Boca. De acordo com página oficial da agremiação, ele integra uma comissão que recebe pedidos dos sócios em diversas modalidades.

A coluna teve acesso a vídeo com trecho da audiência em que Palazzo fala sobre sua ligação com o clube argentino.

"Trabalho, sou economista. Tenho uma empresa, 30 funcionários em Buenos Aires. Sou dirigente do Boca. Sou da diretoria atual. Trabalho para o clube, sempre viajando com a torcida, para que cheguem bem, nos ônibus, acompanhando...", afirmou Palazzo durante a audiência.

Ele negou ter imitado um macaco na arquibancada. Declarou que fez gestos de sobe e desce com as mãos em referência a uma música que os fãs do Boca cantam. É uma alusão ao fato de o time nunca ter sido rebaixado, diferentemente do River Plate, principal rival. Vale lembrar que o Corinthians já foi rebaixado no Brasileirão.

"Em todos os jogos, para todos os times, nós cantamos 'sobem e descem, parecem um elevador'. Tinha um torcedor que me dizia careca, e eu dizia sobe e desce, parece um elevador, nada mais", afirmou o argentino em seu depoimento

A coluna mandou, por e-mail, questionamentos à assessoria de imprensa do Boca sobre as alegações de Palazzo, mas não obteve resposta até a conclusão deste post. Caso as perguntas sejam respondidas, esta publicação será atualizada.

Além de Palazzo, Frederico Jose Ruta, foi solto após pagamento de fiança. Ele é acusado de fazer saudações nazistas e também responderá em liberdade.

Racismo é crime inafiançável. Porém, O juiz José Fernando Steinberg esclareceu em sua decisão que, legalmente, não seria possível converter o flagrante em prisão preventiva já que a pena seria inferior a quatro anos de detenção.

O artigo 313 do Código de Processo Penal diz que "será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos", entre outras situações.

"Quanto ao delito de racismo, muito embora, em tese, não seja suscetível de fiança, pelo Art. 5ª XLII Constituição Federal de 1988, há de se considerar que, em vista da pena máxima cominada ao delito, não se permite a conversão do flagrante em prisão preventiva, por ausência de requisito objetivo da pena, uma vez que a pena máxima não chegaria a quatro anos. Portanto, a fiança aparece como única medida viável e proporcional, sem a qual haveria um tratamento penal mais leve para um delito de igual ou maior gravidade que a injúria racial", explicou o juiz em sua decisão.

Outro torcedor, José Rolambo Lisa Ragga, também foi indiciado por injúria racial. Pelo menos até o final da manhã desta quinta (30), ele continuava preso. O Ministério Público tem a informação de que o argentino vive no Brasil em situação de rua e não tem R$ 20 mil para pagar a fiança.