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REPORTAGEM

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Diretor de judô recebe em conta pessoal taxa de inscrição de evento no SPFC

23/09/2022 04h00

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Com Thiago Braga, do UOL, em São Paulo

André Luis Cipriani, diretor estatutário (não remunerado) de judô do São Paulo recebeu em sua conta corrente pessoal dinheiro de taxas de inscrições relativas a um evento realizado no clube. Procurado, o departamento de comunicação tricolor afirmou que esse procedimento não é padrão e que o caso está sendo analisado a partir dos questionamentos feitos pela coluna (leia mais adiante a resposta completa). Se forem detectadas irregularidades, medidas serão tomadas.

A determinação de que o Pix deveria ser realizado para o cartola aparece no regulamento do Festival de Judô Professor Francisco Carvalho Filho, realizado no último dia 4 no Ginásio 4 do clube.

Procurado pela coluna, Cipriani afirmou que recebeu o dinheiro em sua conta porque ele organizou o evento, não o clube, que apenas cedeu o ginásio (leia a entrevista neste post).

Porém, o regulamento do festival diz que "o São Paulo tem o prazer de convidá-los" para o festival. O documento é assinado por Cipriani, um coordenador técnico e um técnico.

O diretor declarou que todo o dinheiro que recebeu foi usado para pagar gastos gerados pelo evento. Ele afirma também que precisou colocar cerca de R$ 200 do próprio bolso para completar o pagamento das despesas.

Cada inscrição custava R$ 35, além de um quilo de alimento para doação. Segundo o dirigente, 214 atletas de outras agremiações participaram do evento. Os judocas tricolores não precisaram fazer o pagamento. Ou seja, de acordo com as contas de Cipriani, foram transferidos para sua conta R$ 7.490.

O item 13 do regulamento detalhava assim o pagamento: "Será recolhida taxa de inscrição de R$ 35 e um quilo de alimento não perecível (menos sal, açúcar) para cada atleta. A taxa deverá ser paga até o dia 25 de agosto através da chave Pix (CPF do diretor de judô) em nome de André Luis Cipriani e enviado o comprovante para o e-mail (endereço eletrônico do dirigente) ou através do WhatsApp (telefone do diretor)".

Já o item 9 indicava que as entidades participantes deveriam enviar planilhas de inscrição para o São Paulo por meio do e-mail do cartola ou do endereço eletrônico do departamento de judô.

O que diz o São Paulo?

A coluna enviou questionamentos sobre o assunto ao departamento de comunicação tricolor. A resposta foi dada com a seguinte nota:

"O São Paulo Futebol Clube, por meio dos seus departamentos, tenta incentivar os esportes além do futebol. Desta forma, o uso das salas dos departamentos para competições de giro rápido são autorizadas. No entanto, o procedimento de pagamento de inscrição relatado não é padrão, sendo analisado pelo setores responsáveis. Em caso de irregularidades, medidas cabíveis serão tomadas".

O que diz o diretor?

Leia a seguir a entrevista feita pela coluna com Cipriani por telefone.

Tive acesso ao regulamento de um festival de judô feito no São Paulo, no último dia 4, e ali aparece que os inscritos tinham que fazer um Pix na sua conta. Era isso mesmo?

André Luis Cipriani - Esse torneio é um negócio particular, né? Foi feito [o pix] para pagar despesas de medalhas, essas coisas.

Normalmente a taxa de inscrição é enviada para a conta do clube, certo?

Cipriani - É, mas não tinha nada a ver com o clube, foi feito com o pessoal de fora.

Só para eu entender: quem organizou o torneio?

Cipriani - Fui eu, particularmente. Particularmente, não. Pelo judô, mas para pagar as despesas do evento.

Quem organizou não foi o São Paulo, então?

Cipriani - Não.

E para usar o clube, você pede?

Cipriani - Eu peço autorização porque os alunos do São Paulo também usam. E aí a gente não cobra nada do pessoal do São Paulo.

Os atletas do São Paulo não precisam pagar inscrição?

Cipriani - Isso mesmo.

E o clube autoriza você a usar as dependências dele sem custo?

Cipriani - [Autoriza] a fazer o evento. Exatamente. E não gera despesa para o clube.

Nenhuma?

Cipriani - Nenhuma.

Tem alguma, né? Despesa de luz, água...

Cipriani - O espaço seria usado para os atletas do São Paulo do mesmo jeito.

Para treino?

Cipriani - É, normal. Usa o mesmo espaço.

Quantos atletas participaram?

Cipriani - Foram 212, 214 atletas. Porque tem que tirar os nossos atletas. Os nossos atletas não entram na conta de inscrição. O total [de atletas de fora] deu 214.

A taxa de inscrição de cada atleta era de R$ 35, certo?

Cipriani - Isso. De medalhas [entregues a todos os participantes] foram gastos, a R$ 16 cada uma... Foram 350 medalhas [R$ 5.600].

Teve que pagar arbitragem?

Cipriani - Não. Arbitragem foi nossa. A gente foi usando o pessoal de fora [integrantes dos clubes participantes]. Ninguém pagou arbitragem. Todo mundo traz.

A despesa acabou sendo toda usada na realização do evento?

Cipriani - É. Não tem lucro isso. É só para os nossos atletas se beneficiarem, brincarem, se divertirem.

O regulamento fala que: "o São Paulo tem o prazer de convidá-los".

Cipriani - É porque eu convidei em nome do judô [do clube].

Mas não seria mais fácil fazer o processo pelo São Paulo mesmo?

Cipriani - É, então, depois que eu montei isso tudo que eu... Como foi o primeiro, eu acabei... Porque eu não queria dar despesa. O intuito foi não gerar despesa. Porque o departamento do judô arrecada muito pouco. Existem pouquíssimos atletas pagantes. E sócios. Então, é um departamento que não se sustenta. A intenção é não gerar despesas. Foi feito isso para agradar aos nossos atletas e não gerar despesas.

Os próximos você pretende fazer pelo clube diretamente ou vai continuar assim?

Cipriani - A ideia é fazer tudo pelo clube porque a gente fez para ver como iria ficar. Como seria a adesão. E agora pretende fazer um grandão. Não vai ser um festival, vai ser um campeonato mesmo. E aí é feito pelo clube porque precisa de um monte de estrutura, vai usar um ginásio maior. Então, primeiro a gente fez um evento para a gente conhecer como ficava. E quanto seria, se daria, por exemplo... A intenção é não bancar com o dinheiro do clube. Fizemos sem gerar despesas porque não é essa a intenção.

Mas, se cada atleta vai pagar uma taxa de inscrição que dá para cobrir o gasto com medalha e tudo, não iria gerar despesas para o São Paulo fazendo na conta do clube do mesmo jeito. Certo?

Cipriani - Eu é que na hora não pensei nisso. Como foi o primeiro, para mim é novidade. A gente participa de vários torneios de fora e todos eles são feitos pelos próprios professores. Então, tem um evento da academia fulano de tal. O professor que faz. A gente faz tudo em nome do professor. Aí prestam contas para o São Paulo, dão tudo. Tanto que aí [no festival no Tricolor] não teve nem prestação de contas para o São Paulo.

Porque você fez tudo diretamente.

Cipriani - É. Nenhuma dessas instituições desses atletas pediu nada. O próprio comprovante foi o próprio depósito.

Os atletas do São Paulo não precisaram pagar inscrição. Mesmo assim, não houve prejuízo?

Cipriani - Você não perdeu nada. Porque teve troféu e medalhas. Para ser sincero, gastei duzentos e pouquinho do meu bolso.

Teve troféu também?

Cipriani - Teve trofeuzinho. A intenção era arrecadar alimentos. Foram arrecadados em torno de 600 quilos de alimentos. O incentivo foi, você traz o alimento, e as cinco instituições que mais trouxessem alimentos ganhariam troféus.

Para quem foram doados os alimentos?

Cipriani - Estão sendo distribuídos pelo São Paulo. Para as instituições que o São Paulo distribui.