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Ronaldinho nos tribunais: no Paraguai, prisão virou 'atração turística'

Ronaldinho Gaúcho durante audiência no Paraguai  - Reprodução
Ronaldinho Gaúcho durante audiência no Paraguai Imagem: Reprodução

27/10/2022 12h00

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Reportagem publicada pelo UOL Esporte nesta quinta (27) traz levantamento que encontrou 85 processos com o envolvimento de Ronaldinho Gaúcho no Brasil. Porém, o mais famoso caso em que o ex-atleta enfrentou os tribunais aconteceu no Paraguai, em 2020. O ex-jogador do Barcelona e seu irmão, Assis, ficaram quase seis meses presos. Este colunista passou nove dias em Assunção no início do caso e relembra aqui o episódio.

Os irmãos foram acusados de entrarem no Paraguai com documentos falsos que conferiam a eles nacionalidade paraguaia. Ambos sempre negaram saber que a documentação era falsa.

Em 7 de março, Ronaldinho e Assis foram levados para um quartel da Polícia Nacional paraguaia em Assunção. O local, que também funciona como prisão, ganhou status de ponto turístico graças à prisão do ex-craque.

Fãs do jogador iam até lá para tentar entrar e encontrar o ídolo. Muitos vestiam camisas de clubes que R10 defendeu. Até presos que raramente eram visitados passaram a receber mais visitas.

O movimento do lado de fora ajudava a entender a reação de parte dos paraguaios à prisão do ex-jogador. Na ocasião era fácil encontrar nas ruas de Assunção quem defendesse Ronaldinho, alegando que sua prisão era injusta e lançando, sem provas, desconfianças em relação às autoridades envolvidas no caso.

Enquanto perto da entrada do quartel havia até certa euforia entre os fãs de Ronaldinho, do lado de dentro, ele e seu irmão não estavam confinados numa cela. Ambos tinham liberdade para circular livremente. Ronaldinho fez amizade fácil, jogou futebol e futevôlei, participou de churrasco e recebeu mimos que fãs enviavam para a prisão, como tortas e sucos.

Na "Agrupación Especializada de la Policia Nacional" o ex-jogador ficou 32 dias. Lá, ele completou 40 anos. O bolo foi levado por um de seus advogados.

Em 7 de abril, a defesa dos irmãos conseguiu que a Justiça transformasse a prisão preventiva em domiciliar. Eles puderam deixar o quartel usado como cadeia mediante o pagamento de fiança de US$ 1,6 milhão (cerca de R$ 8,3 milhões na ocasião).

A primeira ideia era que eles ficassem numa casa, mas não foi dada permissão. A dupla, então, foi para o luxuoso hotel Palmorga, na região central de Assunção. Por causa das restrições geradas pela pandemia de covid-19, o local chegou a ter apenas os dois como hóspedes. Os irmãos tinham piscina, academia e internet à disposição. Ronaldinho até participou de lives de grupos de pagode.

Em 24 de agosto, a Justiça paraguaia autorizou os irmãos a deixarem a prisão domiciliar e a retornarem ao Brasil.

Foi concedida suspensão condicional do procedimento para Ronaldinho e pena de dois anos com suspensão da execução para Assis. Ronaldinho teve que pagar US$ 90.000 (cerca de R$ 504 mil pela cotação da época). Foi estipulado o montante de US$ 110.000 (aproximadamente R$ 617 mil) para Assis. As quantias foram pagas para compensar dano social. Os valores foram descontados do US$ 1,6 milhão que os dois depositaram como fiança.

Assis se comprometeu a comparecer às autoridades judiciais brasileiras a cada quatro meses durante dois anos. A investigação concluiu que Ronaldinho não sabia que estava usando um passaporte adulterado, mas seu irmão sim.

Os advogados deles afirmam que Assis foi fisgado pela ideia apresentada a ele por um empresário e uma empresária de ter documento paraguaio para poder abrir empresa no país pagando menos impostos. Asseguram que ele não sabia da falsificação.

A defesa dos irmãos chegou a cogitar entrar com uma ação pedindo reparação do Estado paraguaio por injustiças enfrentadas por eles, em sua opinião, durante o caso. No entanto, a ideia foi abandonada. "Preferimos deixar no passado", disse à coluna Sérgio Queiroz, advogado dos ex-jogadores.