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Exausto e atolado na grama: o drama de corintiano do 'caso das muletas'
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Pulando, apoiado numa perna só, o corintiano Milton Leandro Fiani de Pina, 45, relata ter vivido momentos dramáticos após não conseguir entrar com suas muletas no setor de visitantes do estádio Major Levy Sobrinho, em Limeira. O torcedor saiu da capital paulista para ver o Corinthians jogar contra a Internacional, no último sábado (21). Ele afirma que a Polícia Militar o impediu de entrar com seu instrumento de apoio na arquibancada reservada para a Fiel.
"Na saída do estádio, indo para o ônibus, atolei na grama (que estava com barro). Só não caí porque tinha um poste e me segurei nele. Os motoristas dos ônibus viram e trouxeram as muletas", contou Pina à coluna.
O relato é da parte final da saga enfrentada pelo integrante da Gaviões da Fiel, conhecido como Perna da Orfanato (região de São Paulo) por amigos na torcida. O sofrimento começou depois que a Polícia Militar avisou que ele teria que entrar pelo setor destinado a PCDs (Pessoas Com Deficiência). Na tentativa de evitar que novo episódio semelhante aconteça, o torcedor se prepara para entrar na Justiça.
Mostrando o barro na ponta da peça que o ajuda a se locomover, o corintiano, que amputou a perna direita após um acidente de moto, diz que já tinha atolado no gramado quando ainda estava com as muletas, logo após chegar ao estádio.
"Na minha hora de ser revistado, um primeiro sargento, que era o responsável, falou: 'você não vai entrar com muleta. Aqui é interior, e a gente cumpre a lei. Só vai entrar por aqui se seus companheiros te carregarem ou se estiver de cadeira de rodas. Vou pedir para você ir no setor para PCDs'", contou o corintiano.
Pina diz que, então, deixou que um amigo levasse as muletas para o ônibus e foi para o estádio aos pulos, encarando até a inclinação de uma rampa. Isso depois, segundo sua versão, de dar outras sugestões ao policial. Uma delas era assinar um termo se responsabilizando pelas muletas.
"Saí pulando numa perna, só segurando as coisas no meu bolso. Estava tão 'adrenalizado' que subi a rampa a milhão. Passei pelos PMs, eles nem me revistaram".
O integrante da Gaviões da Fiel ficou exausto. "Cheguei na curvinha [que existe no local], estava morto. Pensei: 'como a muleta faz falta'. Eu sou fumante. Perdi as forças, Passei pelos fundos e encostei no portão. Até eu ver o jogo, mesmo, demorou uma meia hora, por causa de tudo o que aconteceu. Parece que você acabou de ser espancado. Mas aí você vê pessoas e está tudo normal para elas", disse.
Como começou
O torcedor do Corinthians conta que comprou uma entrada inteira para o setor visitante, em vez de adquirir o tíquete para PCD. Ele também narra que ao ser informado que deveria se dirigir para a área reservada para PCDs perguntou se esse local ficava na torcida mandante.
"Ele [policial] disse que sim. Falou que eu teria que tirar a camisa. Sou de organizada. Como eu iria tirar a camisa [da Gaviões]? Tenho tatuagens pelo corpo e estava com a bermuda da Gaviões", contou durante a entrevista por videoconferência levantando a camisa e mostrando um gavião tatuado no peito.
Esse diálogo aconteceu já com a partida em andamento. Segundo o torcedor, as torcidas organizadas corintianas chegaram atrasadas por causa de lentidão na revista feita por policiais que escoltavam a caravana.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que orientou torcedores PCDs que estavam no setor destinado aos visitantes a se dirigirem a outra área.
"A Polícia Militar informa que, no jogo mencionado, integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel tentaram adentrar ao estádio Maj. José Levy Sobrinho pelo portão 6 (torcida visitante) utilizando muletas. Esclarecemos que os torcedores foram alertados sobre os requisitos de permanência no setor em questão e que estava sendo disponibilizado, pelo promotor do evento, um camarote apropriado e com todas as condições de segurança necessárias para atender às necessidades dos PCDs, o que foi recusado", diz trecho do comunicado.
Perigo na saída
Imagine você, se equilibrando em uma perna, sair de um estádio ao mesmo tempo que milhares de torcedores. Essa possibilidade preocupou Pina ao final da partida. Por isso, ele diz ter pedido para o mesmo policial para sair antes de o portão que segurava os visitantes ser aberto a todos.
"Ele falou: 'senta no seu lugar e não enche o saco'. Quando abriu, eu saí me escorando no portão, fui acelerando, pulando porque saiba que tinha gente atrás de mim", lembrou.
Dores
Antes da aventura final na saída, Pina tinha passado a partida se apoiando num corrimão. Todo o esforço teve reflexo no dia seguinte. "Tive dores na batata da perna e na coluna. Não estou acostumado a ficar sem as muletas", afirmou.
Ele conta que vai frequentemente aos jogos do Corinthians em Itaquera e fora de casa e sempre fica no setor em que permanecem as torcidas organizadas alvinegras.
Acidente
Miltão, como o torcedor é chamado por alguns de seus amigos, sofreu um acidente de moto em 2009. Após longo período fazendo tratamento, ele precisou amputar a perna direita, em agosto de 2013.
Na Justiça
Pina pretende tomar medidas judiciais por causa do episódio. Marcos Rafael Gervatauskas advogado e amigo do torcedor, cuida do caso. "Vou preparar um habeas corpus preventivo, com pedido de liminar, para ele poder entrar em todos os estádios com a muleta, que é parte do corpo dele. Posteriormente, vamos juntar provas e testemunhas para uma ação indenizatória. Inicialmente, seria contra o mandante, mas preciso estudar melhor para ver também [a situação] da Secretaria de Segurança Pública. Vamos fazer uma denúncia no Ministério Público sobre a atuação da Polícia Militar", disse o advogado.
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