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REPORTAGEM

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Da arquibancada ao conselho. Como chegada de Cuca mexeu com Corinthians

Cuca, técnico do Corinthians, em partida contra o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro - Isabela Azine/AGIF
Cuca, técnico do Corinthians, em partida contra o Goiás, pelo Campeonato Brasileiro Imagem: Isabela Azine/AGIF

Perrone

25/04/2023 11h31

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Da arquibancada ao Conselho Deliberativo, passando pelos times masculino e feminino de futebol, o Corinthians sente os reflexos da polêmica em torno da contratação de Cuca. É como se um terremoto afetasse diferentes áreas do clube.

A turbulência é causada por conta da rejeição que o treinador sofre por ter sido acusado em 1987 de participação num episódio de estupro contra uma menina de 13 anos na Suíça.

Em 1989, quando era jogador, Cuca foi condenado a 15 meses de prisão com base em artigo da lei suíça que enquadra pessoas que, tendo conhecimento que a outra pessoa está incapaz de discernir ou oferecer resistência, tenha relação sexual ou cometa um ato similar.

Ele nunca cumpriu a pena, apesar de, antes do julgamento, ter ficado cerca de 30 dias preso na Suíça, assim como três colegas de Grêmio. Cuca nega ter cometido crime.

Confira a seguir as áreas ligadas ao clube afetadas com a rejeição ao treinador.

1 - Time masculino

Nesta quarta (26), o Corinthians enfrenta o Remo precisando vencer por três gols de diferença para seguir vivo na Copa do Brasil. Outra opção é aplicar vantagem de dois gols e vencer nos pênaltis.

Porém, enquanto se prepara para o jogo decisivo, o time precisa lidar com questionamentos sobre a chegada de Cuca.

Róger Guedes, por exemplo, foi questionado sobre o tema depois da derrota por 3 a 1 para o Goiás, no último domingo.

"Sobre os protestos, a gente não quer falar nada sobre isso. Ele já deu a explicação dele, já falou a parte dele que é inocente, então estamos fechados com ele, é o técnico do Corinthians, nosso treinador e vamos lutar com ele até o final", afirmou Guedes.

Cuca, por sua vez, precisou responder sobre o assunto nas duas entrevistas coletivas que concedeu até aqui.

Num cenário ideal, neste momento o treinador deveria estar focado apenas no jogo contra o Remo. Porém, nesta segunda, ele precisou responder para a imprensa se tinha pedido para o presidente Duilio Monteiro Alves desfazer seu contrato. A informação fora divulgada pelo ex-jogador Vampeta, comentarista da Rádio Jovem Pan. Cuca negou o pedido.

Em outra demonstração da agitação causada pela contratação de Cuca, na última sexta, houve protesto no CT do clube organizado pelo Movimento Toda Poderosa Corinthiana.

2 - Time feminino

Aos 87 minutos do jogo da equipe masculina com o Goiás, jogadoras do time feminino e o técnico Arthur Elias divulgaram manifesto no qual falam da importância do "Respeita as minas", frase usada como marca pelo clube.

O manifesto não cita o nome de Cuca, mas a relação é óbvia, até no tempo de partida escolhido, já que faz referência ao ano em que o caso aconteceu.

Nesta segunda, depois da derrota por 2 a 0 para o Inter, pelo Brasileirão feminino, Elias foi indagado sobre o assunto.

"O grupo de atletas quis fazer um posicionamento sobre esse tema. Elas falam de maneira geral, dos direitos, se orgulham do que é vestir essa camisa do Corinthians. Não foi nenhum tipo de manifesto, de protesto. As meninas não personificaram, não é na figura do Cuca, ou do nosso presidente", afirmou o treinador.

Tamires, capitã corintiana, respondeu sobre o assunto no intervalo da partida contra o Colorado. "A gente se posicionou, falou o que tinha que ser falado, agora é focar no jogo", disse à jogadora.

3 - Torcida

Cinco das seis torcidas organizadas do Corinthians se posicionaram contra a chegada de Cuca. Camisa 12, Estopim da Fiel, Coringão Chope, Pavilhão 9 e Fiel Macabara soltaram notas criticando a contratação. Só a Gaviões da Fiel não se manifestou.

As organizadas vinham se manifestando de maneira semelhante em temas relevantes. O 'caso Cuca' quebrou essa rotina. Há um grupo que reúne representantes de todas as uniformizadas alvinegras para discutir assuntos importantes

4 - Conselho

O tema "Cuca" também "invadiu" o Conselho Deliberativo corintiano, que nesta segunda aprovou o balanço de 2022.

Foi lido um manifesto escrito pelas conselheiras Ana Lucia Tomé Órfão, Susy Miranda e Renata Ribeiro Rainone. "Para além do Cuca, o Corinthians tomou uma decisão que simbolicamente passa a pior mensagem possível. A pior mensagem para as mulheres. A pior mensagem para o mercado, para sua marca, para seus patrocinadores ou qualquer outra coisa que lhes pareça mais relevante do que a nossa dignidade como mulheres", diz trecho do texto.

5 - Parque São Jorge

Enquanto acontecia a reunião do conselho, do lado de fora do Parque São Jorge, a sede do Corinthians, torcedoras e torcedores protestavam contra a contratação de Cuca.