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OPINIÃO

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Duilio é o culpado pelo caos no Corinthians, não quem pediu a saída de Cuca

27/04/2023 10h52

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O Corinthians chega ao final de abril, às vésperas do clássico de sábado (29) contra o Palmeiras, sem treinador, sem padrão de jogo e sem diretor de futebol.

No dia em que deveria estar apenas comemorando a classificação para as oitavas de final da Copa do Brasil, o alvinegro junta os cacos após a desastrosa passagem de Cuca, que durou apenas dois jogos.

A situação calamitosa não é culpa da grande ala da torcida que pediu a saída do treinador por causa de sua condenação em 1989 por envolvimento no episódio de estupro de uma menina de 13 anos na Suíça.

O caos corintiano é fruto da má gestão de Duilio Monteiro Alves no futebol. O Corinthians chegou até aqui por causa da mania de seu presidente de fazer apostas arriscadas. O dirigente arrisca, perde, mas volta a arriscar e a perder.

No final de 2021, Duilio poderia ter trocado Sylvinho por um treinador mais cascudo. Mas bancou o jovem técnico. Foi uma decisão de alto risco. O mais provável aconteceu. Ainda no início do ano, o Corinthians precisou trocar de comandante e buscou Vítor Pereira.

No final de 2022, Duilio teve a coragem de iniciar o mesmo roteiro. A aposta de risco dessa vez foi em Fernando Lázaro, ex-analista de desempenho e que era auxiliar de VP.

A chance de alguém que nunca treinou um time ter dificuldades assumindo uma equipe grande, evidentemente, é alta, apesar do sucesso do ex-assistente Carille em sua primeira passagem pelo Corinthians.

De novo, Duilio quebrou a cara. Diante dos erros de Lázaro, ele decidiu trocar de treinador e acertou às pressas com Cuca, na semana passada.

Foi uma nova aposta do presidente com grande chance de terminar em desastre. Duilio apostou que poderia dobrar a rejeição ao treinador. Quando os críticos abrissem os olhos, Cuca já estaria treinando o time. Os descontentes não teriam mais o que fazer. As primeiras vitórias calariam o movimento contrário ao técnico.

Deu tudo muito errado, Cinco das seis torcidas organizadas que apoiam o time se manifestaram contra a chegada de Cuca. O silêncio da Gaviões da Fiel não bastou para dar sustentação ao treinador.

No clube do slogan "Respeita as minas" e que há um bom tempo vê seu time feminino ser mais forte do que o masculino, havia a chance de as jogadoras se incomodarem com a presença de Cuca por causa do episódio na Suíça.

Não deu outra. Só que as atletas foram mais corajosas do que o presidente alvinegro poderia imaginar e se manifestaram publicamente, com classe. O técnico da equipe feminina também reproduziu a manifestação, depois disse que ela não era direcionada ao treinador do masculino. Ficou clara a possibilidade de um incômodo entre jogadoras e seu chefe, Arthur Elias.

Nem um palmeirense cheio de más intenções seria mais eficiente do que Duilio na missão de ferir o Corinthians. Numa tacada só, o presidente provocou um terremoto que atingiu a equipe masculina e teve reflexo na feminina.

O mais inacreditável é que o cartola alvinegro praticamente nasceu no Parque São Jorge, mas demonstrou no episódio envolvendo Cuca que não conhece direito seu clube e sua torcida. Pelo menos não como deveria.

Era evidente que parcela grande da Fiel sentiria os ideais corintianos traídos com a chegada de Cuca, principalmente o lema "Respeita as minas". Quem conhece a torcida alvinegra sabe que ela não se calaria facilmente.

Também era óbvio que a repercussão da contratação e dessa insatisfação na mídia seria gigantesca. Simplesmente porque sempre foi assim com o Corinthians. Já era dessa forma quando o pai de Duilio, Adilson Monteiro Alves, se destacou como dirigente da Democracia Corintiana.

O atual presidente não tem desculpa para dizer que não sabia o que aconteceria. Foi como enfiar o dedo na tomada e apostar que não levaria choque.

Aconteceu o mais provável. Cuca não resistiu à pressão e pediu para sair depois da vitória por 2 a 0 sobre o Remo, com novo triunfo nos pênaltis, nesta quarta (26), em Itaquera, pela Copa do Brasil.

Há quem diga que o Corinthians não tinha outra opção no mercado. Cuca seria o único nome viável. Aqui precisamos lembrar que, se isso aconteceu, foi porque Duilio errou ao fazer nova aposta num técnico sem experiência. No caso, em alguém que nunca tinha trabalhado como treinador.

Provavelmente, o Corinthians não teria ido atrás de Cuca se o filho de Adilson Monteiro Alves tivesse feito o mais indicado: contratado um treinador mais preparado no final do ano passado em vez de efetivar Lázaro. O que acontece agora é reflexo das escolhas erradas do presidente corintiano. Seus erros fizeram o Corinthians sangrar.

Presenciamos hoje o amadorismo em alto grau no futebol alvinegro. Um clube no qual o presidente passou a acumular o cargo de diretor de futebol, após a saída de Roberto de Andrade, cartola amador, já que não era remunerado. Isso enquanto os principais rivais contam com diretores de futebol profissionais.

O que sobra da passagem de Cuca pelo Corinthians é o fato de a gestão trapalhona de Duilio no futebol ficar exposta. Só não enxerga quem não quer.