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REPORTAGEM

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Taxas de sócios e empréstimo de sogra. O que clubes fazem por grana na mão

Paulo Rogério Pinheiro, presidente do Goiás, diz que seu clube já quitou empréstimo feito pela sogra do atacante Vinícius - Reprodução/TV
Paulo Rogério Pinheiro, presidente do Goiás, diz que seu clube já quitou empréstimo feito pela sogra do atacante Vinícius Imagem: Reprodução/TV

25/06/2023 04h00

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Sobra criatividade para os dirigentes brasileiros quando seus times precisam de dinheiro. Os balanços de 2022 dos clubes que estão na Série A em 2023 mostram um cardápio variado no quesito antecipação de receitas e garantias dadas para convencer os bancos a emprestarem grana.

Análise feita pela coluna nas demonstrações financeiras dos participantes do Brasileirão atual encontrou recebíveis de mensalidades de sócios e de pagamentos com cartões de crédito dados como garantias, entre outras estratégias. Tem até dinheiro emprestado por sogra de jogador.

Corinthians, Athletico-PR, Cuiabá e Red Bull Bragantino não estão na lista a seguir porque não foi encontrado em suas demonstrações financeiras esse tipo de operação. Confira.

A grande questão é que se os clubes tivessem um equilíbrio orçamentário, eles não precisariam usar um recurso do futuro para pagar conta do presente e pagar juros. Então, o motivo da antecipação é má gestão

Amir Somoggi, sócio da Sports Value Marketing Esportivo

São Paulo

O balanço registra que o clube usou como garantia para conseguir dinheiro em bancos até mensalidades pagas pelos sócios. O mesmo aconteceu com receitas a serem recebidas pela venda de jogadores, por contratos de direitos de transmissão, de licenciamento de marca e de cessão de espaços firmados com terceiros. Em 31 de dezembro de 2022, o montante em empréstimos era de R$ 204.537.000.

Por meio de seu departamento de comunicação, o São Paulo explicou assim as operações:

"Ao negociar uma antecipação o clube apresenta ao banco todas as suas entradas futuras possíveis, como numa espécie de avaliação de crédito. Não quer dizer que todas as verbas serão usadas como garantia, mas elas ajudam a facilitar a liberação do valor.

Em 2022 o São Paulo aumentou seu valor de antecipações, porém baseado em uma previsão de entrada futura maior do que em anos anteriores (quando não havia previsão semelhante). Na análise global, o clube adianta receitas, mas proporcionalmente compromete menos os recebíveis futuros, pois em volume eles são maiores, com entradas previstas ao longo dos próximos anos".

Palmeiras

O Alviverde antecipou em 2022 R$ 20.667.000 que tinha para receber do Botafogo pela venda de Patrick de Paula. O dinheiro foi adiantado pelo Banco Tricury, que cobrou taxa mensal de 0,87% a 1,29%.

Segundo seu balanço, em 31 dezembro do ano passado, o Palmeiras contabilizava R$ 38.287.000 em antecipações referentes a contratos de publicidade e patrocínio.

"Trata-se de uma antecipação realizada junto à Crefisa, empresa patrocinadora do clube", informou o departamento de comunicação palmeirense.

O documento referente às finanças do Alviverde registra antecipação de recebíveis relacionada ao contrato de transmissão do Paulistão de 2023.

No ano passado, o Palmeiras também fez empréstimo de R$ 14.428.000 no banco BTG Pactual dando como garantia valores que tinha para receber em cartão de crédito.

"A antecipação [de receitas] se fez necessária em função do descasamento do fluxo de caixa e foi utilizada para o pagamento de diferentes obrigações. Importante salientar que os valores antecipados em 2022 já foram supridos em 2023 com as negociações de Danilo, Wesley e Endrick", diz o clube, por meio do departamento de comunicação.

Flamengo

Em 31 de dezembro de 2022, o Flamengo tinha R$ 35.498.000 a pagar referentes a empréstimo de R$ 70 milhões feito em 2021 no Banco BRB. Entre as garantias da operação estão contratos com Globo e Adidas.

Segundo Fernando Góes, diretor financeiro do clube, a operação consistiu em receber os pagamentos em conta do Flamengo no BRB. Em caso de inadimplência, o banco poderia pegar parcelas recebidas pela agremiação nesta conta. Porém, o rubro-negro pagou antecipadamente a dívida em abril de 2023.

"O que a gente deu em garantia foi o domicílio bancário de alguns contratos. O banco queria ver o dinheiro circulando por ali, mas ele não teria o direito de ir na Globo e dizer: 'o cara não me pagou, paga para mim'", explicou Góes. Segundo o diretor, o empréstimo foi feito por causa de dificuldades enfrentadas durante a pandemia de Covid-19.

Goiás

Em 2022, o clube recebeu empréstimo de R$ 500 mil, com taxa de juros de 6% ao ano, de Marisa G.Oliveira. Por meio da assessoria de imprensa da agremiação, o presidente Paulo Rogério Pinheiro disse que Marisa "é sogra do atleta Vinicius e nos fez um empréstimo para o pagamento da contratação definitiva do atleta". A garantia da operação foi pessoal do dirigente e o clube já quitou a dívida, segundo Pinheiro.

Internacional

O balanço do Colorado diz que o clube "concedeu como garantia aos empréstimos e financiamentos aproximadamente 20% dos recebíveis por direitos de televisionamento contratados com a Rede Globo de Televisão, além de aproximadamente 15% dos recebíveis dos sócios".

"Não é uma antecipação de recebíveis. Trata-se de ter um lastro para a operação de crédito. Muitos sócios-torcedores fazem o pagamento no mesmo banco que faz a operação de empréstimo. O banco sabe o valor que passa pela conta e aquilo lastreia o empréstimo", disse Giovane Zanardo, CEO do Inter. A operação com a Globo é similar.

Santos

O Santos registra no balanço antecipação de cotas concedida pela Globo referentes à transmissão do Brasileirão de 2023. Também houve adiantamento de receita relativa ao Paulistão de 2023 realizado pela FPF. Em 31 de dezembro do ano passado, o Peixe anotou R$ 30.185.000 antecipados com a Globo. Em relação à FPF, a dívida pelas antecipações era de R$ 23.609.000 em dezembro de 2022.

À coluna do jornalista Rodrigo Mattos no UOL, o Santos informou em maio que já havia quitado o débito com a FPF e que tinha começado a amortizar a dívida com a Globo.

Grêmio

O balanço do clube diz que em função das dificuldades de fluxo de caixa, foi necessário buscar novas fontes de financiamento para suportar a operação e os novos investimentos, necessários ao acesso à Série A do Brasileirão.

Foram antecipadas cotas de transmissão de TV fechada e aberta do Brasileirão de 2023 nos valores de R$ 13.720.000 e R$ 16.464.000, respectivamente.

Além disso, o Grêmio antecipou com o BMG R$ 25 milhões do contrato de pay-per-view com a Globo. O banco passou a receber as cotas pagas pela emissora.

Em 2022 foram feitos empréstimos no Banrisul garantidos por recebíveis referentes a cartão de débito. "O clube oferece como garantia os recebíveis do quadro social e loja que são creditados no próprio Banrisul. Estes valores servem de lastro para a tomada de crédito junto a esta instituição", explicou o Grêmio por meio de seu departamento de comunicação.

Há ainda um empréstimo de R$ 11 milhões, tomado no BMG em dezembro do ano passado, que aparece no balanço sendo garantido por aval do presidente [Alberto Guerra].

Fluminense

O balanço descreve que em 2022 foram antecipados cerca de R$ 25,5 milhões referentes à venda de um jogador. Os pagamentos que o clube receberia passaram a ser feitos para a instituição financeira. Também foram realizados empréstimos com receitas dos direitos de transmissão dos jogos e do programa de sócio-torcedor como garantias.

Além disso, o Fluminense antecipou o recebimento de uma parcela de R$ 26.298.000 do contrato de transmissão do Brasileirão de 2023. A coluna perguntou à assessoria de imprensa do clube o que motivou a antecipação, mas não obteve resposta.

Bahia

Em 2022, por meio do Bradesco, o Bahia fez antecipações de mensalidades pagas por sócios com cartão de crédito à vista num total de R$ 17.014.000. No ano passado foram pagos R$ 17.543.000 relativos à operação. Em dezembro de 2022, o saldo a ser quitado era de R$ 651.000. Quase todo o dinheiro adiantado entraria no ano passado.

O objetivo mais importante era não atrasar salários, que eram pagos todo dia 10. Pegávamos a receita dos 30 dias seguintes e antecipávamos. Isso foi um diferencial na manutenção do clima positivo no clube para voltarmos à Série A

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia

Fortaleza

Em dezembro de 2022, o clube registrava R$ 750 mil a quitar de adiantamentos e antecipações de cotas. De acordo com Maurício Guimarães, diretor financeiro do Fortaleza, o valor se refere a uma antecipação de cota da Copa do Nordeste.

A agremiação também antecipou R$ 14.913.904,22 em pagamentos feitos em cartões de crédito por sócios-torcedores e em vendas de lojas com vencimento ainda em 2022.

Atlético-MG

Em dezembro de 2022, o balanço apontava R$ 67.007.000 em adiantamentos. O montante se refere principalmente a antecipações de direitos de transmissão. A coluna perguntou ao departamento de comunicação do Galo se há dinheiro de luvas nessa quantia. O clube respondeu que as informações do balanço são públicas, mas as demais se referem a contratos internos.

As demonstrações financeiras atleticanas também registram que os financiamentos bancários estão garantidos por avais de dirigentes e direitos creditórios do clube.

Cruzeiro

Adiantou parcela de R$ 28.675.000 relativa aos direitos de transmissão do Brasileirão-2023. Além desse adiantamento, valores a receber de cotas de TV, patrocínios e parcerias foram apresentados como garantias em operações de empréstimos.

Botafogo

O balanço mostra garantias dadas em operações antigas, como cessão de direitos de atleta apresentada aos irmãos Walter e João Moreira Salles em contrato datado de 2016.

Vasco

Entre outras operações, em dezembro do ano passado, o clube tinha R$ 5.706.000 para pagar ao Safra por empréstimo feito em 2021 com garantias dadas pelo empresário Carlos Leite e pelo presidente do clube, Jorge Salgado.

América-MG

Em dezembro de 2022, a agremiação tinha cerca de R$ 35,4 milhões em empréstimos para pagar. "O América não antecipa cota de TV de anos posteriores ao da disputa do campeonato. As operações bancárias que fizemos têm como garantias receitas imobiliárias do clube", diz resposta enviada pela assessoria de imprensa.

Coritiba

Contabilizava no final de 2022 R$ 1.722.769 em mensalidades de sócios antecipadas. A nota explicativa que trata de antecipações recebidas aponta R$ 27,16 milhões em direitos de transmissão adiantados. Não há detalhamento sobre se a quantia se trata de pagamento de luvas ou de cota antecipada. A assessoria de imprensa do Coritiba não respondeu à coluna.

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