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REPORTAGEM

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Como jogo com reservas e protesto silencioso transformaram arena corintiana

Protesto das organizadas do Corinthians criticou diretoria e elenco - Reprodução/TV Globo
Protesto das organizadas do Corinthians criticou diretoria e elenco Imagem: Reprodução/TV Globo

29/06/2023 07h55

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Na saída da estação Corinthians-Itaquera, o movimento de torcedores abaixo do normal já indicava algo de diferente antes da partida do Alvinegro com o Liverpool, do Uruguai, na última quarta (28). Era possível caminhar normalmente pela passagem que costuma ficar entupida pela mistura de corintianos e vendedores ambulantes.

O trânsito livre refletia o interesse reduzido despertado pelo jogo válido pela última rodada da fase de grupos da Libertadores, com o Timão já eliminado. Em disputa estava apenas uma vaga nos playoffs da Copa Sul-Americana. Já era sabido que Vanderlei Luxemburgo escalaria reservas.

Conforme a Neo Química Arena ficava mais próxima, a sensação de que o público estava um pouco diferente aumentava. A quantidade de crianças era maior do que a habitual.

Na área de acesso às entradas dos setores do estádio, quem andava apressado precisava desviar de uma galera que parava para tirar fotos e parecia estar na casa corintiana pela primeira vez.

Já do lado de dentro, frases como: "O que você achou do estádio?" confirmavam que a procura menor do que a costumeira pelos ingressos colocou nas arquibancadas muita gente que normalmente não tem chance de ver o Corinthians jogar in loco.

Porém, os marinheiros de primeira viagem mergulharam numa atmosfera diferente. Um potente silêncio instalado na no setor norte, local em que ficam as torcidas organizadas, mudou o ambiente no estádio.

Nada daquela vibração da torcida que empurra o time. Para quem estava no setor sul, por exemplo, os membros das uniformizadas pareciam brincar de estátua, já que trocaram suas coreografias pela inércia e a boca fechada.

As torcidas organizadas resolveram protestar contra a diretoria e os jogadores do durante a maior parte do primeiro tempo fazendo silêncio.

Foi estranho. A seção era a de estar acompanhando uma partida preliminar que gera pequeno engajamento dos torcedores. Estavam presentes 26.556 pessoas.

Era possível ouvir as broncas individuais dos torcedores a cada erro dos atletas e as lamentações com a apatia das organizadas. Alguns pais estavam mais interessados em registrar com as câmeras dos celulares as reações dos filhos do que em assistir à partida. Alguns torcedores se esforçavam para identificar as caras novas na equipe.

Havia também os que tentavam ler as faixas seguradas pelos membros das organizadas com mensagens de críticas deixando o jogo em segundo plano.

Foi o caso de um grupinho que se formou ao lado do celular de uma torcedora que tirou fotos do manifesto.

"Corinthians, retiro de jogadores. É velho, machucado ou ruim de bola? Jogue aqui", dizia uma das mensagens exibidas.

Fora do setor norte, de maneira descoordenada, torcedores tentavam emplacar os cantos tradicionais de incentivo. Mas sem a colaboração da Gaviões da Fiel e demais organizadas não rolou aquele canto envolvente que contagia a equipe.

O Corinthians havia acabado de abrir o placar, com Matheus Araújo, quando as uniformizadas quebraram o silêncio.

O fim do protesto foi como se tivessem ligado o estádio na tomada. De repente, aquele ar de jogo desinteressante deu lugar a uma vibração de partida decisiva.

Aos poucos, a Neo Química Arena voltou ao normal, com as organizadas cantando o tempo inteiro e o restante do estádio acompanhando o tom só nos momentos mais empolgantes.

Foi o que aconteceu quando Carlos Miguel, uma das estrelas do "expressinho" corintiano defendeu pênalti batido por Betancourt e também o rebote, no segundo tempo.

O placar apontava 3 a 0 para os donos da casa nos últimos minutos quando a Gaviões da Fiel decidiu entoar gritos de protesto, como já havia feito no intervalo. O presidente Duilio Monteiro Alves e Alessandro Nunes, gerente de futebol, tiveram as suas saídas do clube pedidas. Rolou também um implacável "fora todo mundo".

Nesse momento, porém, muitas das crianças que curtiram um programa diferente em Itaquera já tinham deixado a arquibancada.

Após o jogo, na caminhada até o metrô, o futuro do time na Sul-Americana e a atuação dos jovens escalados por Luxa, especialmente a de Carlos Miguel, dominavam a atenção dos que presenciaram uma noite atípica em Itaquera.