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Tuma Jr. fala em 'golpe' no Corinthians para barrar candidato de oposição

Pela segunda vez, Romeu Tuma Júnior renunciou ao seu posto na Comissão Eleitoral do Corinthians. Indagado pela coluna sobre o motivo para a sua nova desistência, o conselheiro enviou, nesta quinta (20), uma nota na qual fala numa manobra da situação, chamada por ele de "golpe" para impugnar a candidatura do opositor Augusto Melo.

A estratégia da situação seria conquistar a presidência e a maioria no órgão que organiza a eleição para, num segundo momento, impugnar a candidatura do oposicionista alegando que ele tem uma condenação na Justiça e que isso, supostamente, fere o estatuto. Vale lembrar que Augusto foi candidato na última eleição, já tendo a condenação. Na ocasião, Tuma era o presidente da comissão eleitoral.

Na primeira vez que deixou o colegiado, o Tuma afirmou que o órgão sofria boicote por parte dos situacionistas, que negaram tal ação. Já a segunda renúncia ocorreu depois de duas reuniões frustradas para escolher o presidente da comissão entre seus membros. Tuma chegou a se candidatar.

"Diante do exposto, sinto-me na obrigação de vir a público e esclarecer o que, de fato, está por trás das brigas por cargos e comando da Comissão Eleitoral do SCCP, especialmente porque não posso admitir que tal golpe prospere, o que traria prejuízos incalculáveis para a imagem do clube", escreveu Tuma em sua nota.

"Está claro por várias fontes de informações que o objetivo de alguns personagens em 'comandar' a Comissão Eleitoral é impugnar a candidatura legítima do candidato da oposição sob alegação de que o mesmo foi condenado. Tal atitude contraria o previsto no Estatuto do SCCP, pois essa eventual condenação não está prevista, citada e/ou listada no rol de inelegibilidade do atual estatuto", diz o texto escrito pelo conselheiro.

Depois da saída de Tuma, Paulino Tritapepe Neto entrou em sua vaga. Ivaney Cayres foi eleito presidente do órgão. Carlos Roberto Elias, que já foi advogado de André Luiz de Oliveira, o André Negão, candidato situacionista, foi escolhido como secretário. Os três podem ser considerados situacionistas. Porém, na comissão, os cinco membros asusmem o compromisso de neutralidade.

Nome citado

Em seu comunicado, Tuma cita o nome do conselheiro que faria o pedido de impugnação. "Já fui, inclusive, avisado de que o conselheiro Nadir será o responsável por tal ato e que a comissão precisa ter maioria de integrantes alinhados com a "situação", dentre os quais o presidente, para acolher o pedido e fazer com que a candidatura da oposição seja inviabilizada (cassada) e o candidato da situação seja proclamado concorrente único", afirmou Tuma em sua nota.

Ele se referiu ao conselheiro Nadir Campos Júnior. Indagado se está preparando o pedido de impugnação de Augusto para apresentar depois da inscrição da chapa, Nadir respondeu: "Sei apenas que quem tem condenação com trânsito em julgado não pode concorrer a cargos no Corinthians".

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As inscrições das chapas para a eleição, que acontece em novembro, não estão abertas. Por isso, nenhum pedido de impugnação poderia ser feito agora. Sobre a possibilidade de golpe, Nadir afirmou: Entre os vários conselheiros e associados que conversei hoje um deles foi o próprio Sr. Augusto Pereira de Melo. Me parece que é consenso (situação e oposição) que todos buscam alternativas para um Corinthians ainda mais forte e democrático. Golpe no Corinthians? Aqui não. A nação corinthiana não deixaria", declarou Nadir. Cayres não respondeu à mensagem enviada pelo blog. Por sua vez, Elias não quis se manifestar.

Condenação

O estatuto proíbe sócios que tenham sido condenados definitivamente de se candidatarem até oito anos depois do cumprimento da pena. Augusto teve uma condenação por não pagamento de impostos de uma empresa. Alega que vendeu a empresa, o comprador não pagou tributos, faleceu e ele acabou sendo processado, tendo realizado serviços sociais como cumprimento de pena. O crime de sonegação fiscal não está expressamente listado pelo estatuto como impedimento.

Surpresa

Procurada pela coluna, a assessoria de André Negão, candidato situacionista, enviou o posicionamento da chapa sobre as declarações de Tuma:

"Essa denúncia feita pelo conselheiro causa surpresa e espanto à chapa de André Luiz de Oliveira. O questionamento sobre possível impedimento na participação de Augusto Melo nas eleições presidenciais do clube nos leva à seguinte pergunta: existe algo irregular que impeça a sua candidatura? Há algo que desabone o candidato ou o torne ficha suja?"

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Augusto

O grupo "Corinthians Mais Forte", liderado por Augusto, disse em nota que "o nome disso todos já sabem: golpe". "E aproveitamos também para deixar recado bem claro aqui: quem quiser nos vencer, terá de ser no voto!".

Declarações na íntegra

Em seu comunicado, Tuma Júnior dá detalhes sobre o imbróglio na comissão eleitoral e crítica ações de Alexandre Husni, presidente do Conselho Deliberativo, que nomeou o colegiado.

A seguir, leia a nota de Tuma na íntegra. Na sequência, veja a resposta de Husni enviada à coluna.

"Com intuito de esclarecer os últimos acontecimentos que motivaram minha saída da Comissão Eleitoral do Sport Club Corinthians Paulista, em gesto de transparência e lealdade para com meus pares do Conselho Deliberativo, associados e associadas do clube, simpatizantes, torcedores e torcedoras, registro os principais pontos:

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1 - Incapacidade dos integrantes da Comissão Eleitoral ligados ao campo situacionista de chegar a um consenso para escolha do presidente da mesma, evidenciando lamentável intransigência que, por algum motivo muito estranho, estavam lutando de forma injustificável para ter o "comando" da Comissão.

2 - Ignorarem e refutarem deliberadamente, com a inexplicável anuência do Presidente do Conselho Deliberativo, o que prevê o estatuto do clube que, por mais de uma vez, determina que nos casos de empate para definição de ocupante de cargos relevantes - inclusive o de presidente da diretoria e membros do Conselho -, deve-se adotar os critérios de "detentor de matrícula mais antiga" e "o mais idoso", nessa ordem. Portanto, de acordo com essas premissas, a presidência da Comissão deveria ficar com o Conselheiro Carlos Senger. Em vez disso, o presidente do Conselho Deliberativo "lançou" o conselheiro Domingos Zainaghi para ser candidato ao cargo, o qual rejeitou a indicação, até porque tratava-se de solução absolutamente inusitada e fora dos limites do Estatuto do SCCP e do regimento do CD.

3 - Por mais de uma vez, nos últimos dias, o presidente do Conselho Deliberativo ameaçou destituir todos os integrantes da comissão, após impasse na escolha do Presidente quando um dos postulantes, de forma estranha, afirmou categoricamente que foi convidado por ele com o compromisso de assumir tal função. Assim deixei claro a ele que não aceitaria tal comportamento e que nada seria feito "na marra". Ao se repetir essa ameaça de forma eloquente, como já havia advertido, disse ao Presidente que eu deixaria a Comissão antes daquele ato extremo ocorrer.

4 - A Ata da última reunião da comissão (assinada por todos os presentes no momento da lavratura), realizada em 18/07/23, foi redigida de forma simplista e incompleta, omitindo deliberadamente várias informações importantes que marcaram aquele encontro, inclusive o motivo de minha saída da sala. Prova disso é que na redação da mesma constaram declarações de votos que demonstram de forma clara e cristalina que fui eleito presidente do colegiado e depois autoritariamente destituído, quando deixei a sala em protesto pelas atitudes arbitrárias e autoritárias do presidente do Conselho Deliberativo, que a meu ver colocam em risco a condução do próximo processo eleitoral.

5 - A nomeação apressada de novo membro da comissão, sendo esse o secretário do Conselho Deliberativo, o mesmo que se elegeu na Chapa do Presidente do CD e do candidato André Luiz de Oliveira, fato que gerou estranheza.

6 - Não há solução fora do Estatuto. Com empate elege-se o mais antigo. Se não aceitam, se fazem arranjos, se criam caminhos fora das regras, é "golpe".

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Diante do exposto, sinto-me na obrigação de vir a público e esclarecer o que, de fato, está por trás das brigas por cargos e comando da Comissão Eleitoral do SCCP, especialmente porque não posso admitir que tal golpe prospere, o que traria prejuízos incalculáveis para a imagem do clube:

A - Está claro por várias fontes de informações que o objetivo de alguns personagens em "comandar" a Comissão Eleitoral é impugnar a candidatura legítima do candidato da oposição sob alegação de que o mesmo foi condenado. Tal atitude contraria o previsto no Estatuto do SCCP, pois essa eventual condenação não está prevista, citada e/ou listada no rol de inelegibilidade do atual Estatuto. Prova disso é que o referido candidato concorreu normalmente nas eleições de 2017 e 2020. Já fui, inclusive, avisado de que o conselheiro Nadir será o responsável por tal ato e que a Comissão precisa ter maioria de integrantes alinhados com a "situação", dentre os quais o Presidente, para acolher o pedido e fazer com que a candidatura da oposição seja inviabilizada (cassada) e o candidato da situação seja proclamado concorrente único.

B - Esse "golpe" passou a ser melhor engendrado como "Plano B", quando sentiram forte resistência em viabilizar a contratação de "urnas eletrônicas" para as eleições, devido os alertas que fiz ao Presidente do Conselho e as várias outras manifestações nesse sentido vindas de inúmeros candidatos e candidatas, sobretudo de torcedores e associados do clube, que rejeitam eleições em com sistema eletrônico suscetível a fraude como ocorrido nas eleições de 2018 e comprovado pela Justiça.

C - Alguém pode perguntar, mas não é exagero tanto barulho por causa da Comissão Eleitoral? Engano de quem pensa assim. Pelo estatuto é a Comissão a responsável por toda a organização das eleições. Isso não é pouca coisa e não pode ser tratada da forma irresponsável como tem sido. Não cabe a ela esse protagonismo marcado por incapacidade e incompetência.

D - Sempre respeitei e ajudei o Presidente do Conselho Alexandre Husni, por ser da minha índole e por ser do meu caráter. Nem a traição que ele me impôs na eleição do Conselho, a qual reconheceu e já se desculpou, foi motivo para que eu lhe negasse qualquer apoio.

E - Quando ele me nomeou para a Comissão, por livre e espontânea vontade, me informou que estava sofrendo pressão de um ex-presidente que lhe cobra fidelidade por ter lhe "dado uma vice-presidência na diretoria e a presidência do Conselho".

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F - Ele não pode interferir nas decisões da Comissão de forma arbitrária como tem feito, por exemplo ao cancelar a reunião marcada pelo presidente em exercício da Comissão Carlos João Eduardo Senger para a última sexta-feira. Assim como não pode também, exercer pressão sobre alguns membros específicos da Comissão e continuar ameaçando de destituição se não fizerem o que ele quer, como reiteradas vezes fez.

G - Já faz mais de 50 dias que a Comissão foi nomeada e nenhum Ato ou Ação foi permitida para a efetiva organização das eleições, sequer houve a disponibilização da listagem se associados e suas condições estatutárias/financeiras, para que fosse possível verificar a regularidade ou não de inúmeras denúncias recebidas, inclusive com relação à concessão de anistia, o que é proibido pelo Estatuto no período de 12 meses antes das Eleições.

Despeço-me convicto de minha obrigação como corinthiano e conselheiro de zelar pela transparência, justiça, integridade e limpeza do processo eleitoral, para o bem da Democracia e da nossa História como Nação Corinthiana.

A resposta de Husni

"Aconteceu o seguinte: houve um empate de 2x2 entre duas candidaturas à presidencia da Comissão, composta por cinco membros. O quinto na ordem de votação adotou a postura de não fazer uma escolha dentre dois, porque, na visão dele, a comissão deveria chegar a um consenso de, unanimemente, eleger um nome. Isso não seria possível, porque justamente eu fiz questão de nomear uma comissão politicamente plural. Agora, caso o Romeu entenda que hoje está desequilibrada a representação entre situação e oposição, ficou por culpa dele que pediu para sair, aliás, por duas vezes e eu aceitei o seu retorno por amizade.

E golpe no Corinthians, não, isso aconteceu em outros lugares, não aqui, e não com Alexandre Husni na presidência do Conselho Deliberativo porque impasse não se resolve com omissão e ausência, mas com diálogo, comportamento e atitudes propositivas, com mais Corinthians e menos vaidades pessoais.

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Lamento profundamente essa exposição de assuntos internos do clube, que não nos favorece em nada. Falar em democracia é bonito no discurso, meu caro, saber conviver com ela é outro problema".

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