Presidente do Santos não abre mão de ter Marcos Leonardo até dezembro
Em entrevista à coluna, Andres Rueda, presidente do Santos, falou da situação de Marcos Leonardo. Afirmou que, agora, só aceita negociar valores com eventuais interessados se o jogador permanecer na Vila Belmiro até dezembro. O atleta, que está de olho numa possível transferência para a Roma, voltou a treinar no CT santista nesta terça (15), após ter treinado nos últimos dias separadamente a seu próprio pedido. Sem citar nomes e valores, Rueda diz que só recebeu uma proposta pelo atacante e não a considerou nem razoável.
O dirigente também falou sobre a situação dramática vivida por sua equipe na atual temporada. Ele afirma ter vergonha dos resultados de seu time, que está na zona de rebaixamento do Brasileirão, ocupando a 17ª posição. Porém, o dirigente não demonstra o mesmo sentimento em relação ao elenco que montou e tem dado vexames, como a derrota por 4 a 0 para o Fortaleza, no último domingo (13). Pelo contrário, o cartola exalta a qualidade que vê no plantel santista. Confira, a seguir, a entrevista.
Como está a situação do Marcos Leonardo? O senhor prometeu que nessa janela o venderia?
Rueda - Não, não, muita coisa se falou. O clube nunca promete para um jogador que ele vai ser vendido. A minha relação com o Marcos Leonardo sempre foi sincera, sempre foi colocado que se houver uma proposta boa para o jogador e boa para o clube, o clube vai pensar. Não é só para ele, para qualquer jogador, tá? Porém, infelizmente, as poucas propostas que vieram, aliás, veio uma proposta, que não era boa para o clube. Tanto que no contrato do jogador existe uma cláusula que é muito clara. É o seguinte: existindo uma proposta para vender o jogador por 12 milhões de euros (cerca de R$ 65,2 milhões), se o Santos não aceitar, o jogador tem direito a um reajuste. E você vê que não tem proposta. Eu entendo o jogador, a vontade de ir, mas isso já está desenhado. Tem que ser uma proposta boa para o clube, e essa proposta que foi colocada, no nosso entendimento, ficou muito aquém de uma proposta no mínimo razoável.
Mas ainda tem negociação neste momento?
Rueda - Da nossa parte, naquele momento em que a gente negociava valores, já teve o ponto final. Agora, nessa situação em que o clube está, eu não abro mão de poder contar com ele até dezembro. Qualquer coisa para negociar valores agora, a gente conta com o futebol do Marcos Leonardo até dezembro.
Ele só sai agora se alguém pagar a multa?
Rueda - Só sai pela multa, ou pode até ser uma venda, desde que eu tenha que entregar [o jogador] só em dezembro.
Na sua avaliação, o Santos acertou mais ou errou mais nas contratações durante a sua gestão?
Rueda - Eu diria que erros e acertos se equilibraram, porém não vão deixar nenhum rombo financeiro para o Santos. A maioria dos jogadores que não se encaixaram, estão emprestados, com os outros times pagando quase praticamente a totalidade dos seus salários, e o contrato é curto. Tenho certeza que não vão onerar o caixa do clube. No momento certo, vão ser negociados ou vão ser aproveitados por futuras comissões técnicas. Faz parte, mas futebol é assim. Porém, aqui eu falo o seguinte: todos os acertos e erros foram feitos com critério profissional. Nossa área de scout, com ok da comissão técnica, ok do diretor de futebol e com o ok financeiro.
Quer dizer, o senhor está satisfeito com o seu sistema para buscar jogadores, com a área de scout. O senhor não vê pontos que precisam ser aperfeiçoados nesse sentido?
Rueda - Tudo na vida sempre tem que ser aperfeiçoado. Eu digo o seguinte: o esquema funciona. O difícil disso, você tem o componente financeiro. Você pode ter os melhores scouts do mundo, a melhor comissão técnica, melhor diretoria, mas se você não tem dinheiro, obviamente, a qualidade de contratações vai ser inferior ao que você desejaria. Eu posso dizer, nessa janela [atual], a gente com uma situação um pouquinho melhor financeira, o nível de contratação, o nível de jogador contratado, aumentou muito. Está aí o Jean Lucas, com grande performance e tal. Agora, não adianta, o time tem que jogar, tem que tirar das costas essa pressão do lado psicológico, tem que encaixar, tem que jogar, senão, não adianta nada disso. Agora a bola está com eles. Elenco, agora, a gente tem. Estamos ainda nesse final de janela na Europa tentando trazer mais alguns jogadores. Está se incorporando o [Tomás] Rincón, venezuelano da seleção [nota da coluna: Rincón tem 35 anos, estava livre no mercado e na última temporada europeia defendeu a Sampdoria, rebaixada na Série A do Campeonato Italiano]. A gente está de olho no mercado para trazer mais experiência e trazer um pouquinho mais de qualidade para o nosso elenco.
O senhor acha que não conseguiu segurar mais os técnicos durante a sua gestão por quê?
Rueda - Meu entendimento do lado técnico é uma coisa de médio a longo prazo. Agora, sem dúvida essas foram escolhas que, eu não tenho como dizer, erradas para aquele momento, sem poder dar o tempo necessário para o treinador, porque um time de futebol é movido a resultado. Chega um momento em que o resultado não aparece, o nível de pressão da torcida, do conselho e tal, acabam criando um ambiente negativo para o próprio treinador. Ninguém troca o técnico porque quer. O projeto nosso é de médio a longo prazo. Agora, pressão de resultados, chega uma hora em que o próprio técnico se vê sem condições de prosseguir o trabalho.
Dentro desse contexto todo que a gente conversou, na sua opinião, por que o Santos está nessa situação no Campeonato Brasileiro, na zona de rebaixamento?
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Quero receberRueda - Se eu tivesse certeza, a gente não estaria nessa situação. Porque a gente comenta muito isso, e não é de agora. O nosso plantel de jogadores não é para estar nessa situação que está. Por muito tempo, a gente teve um ataque que, se colocasse no papel, era um dos melhores do Brasil. Ângelo Soteldo, Marcos Leonardo, Mendoza. É um ataque de respeito. No meio de campo, você tem Rodrigo Fernández, Dodi, Lucas Lima. A defesa, Joaquim, que até o começo desse ano era considerado um dos melhores zagueiros do país. Tinha briga, todos os times querendo levar, propostas do exterior e tal. Agora, infelizmente desandou, e cabe a gente botar o trem na linha de novo. Esses jogadores têm qualidade e não estão mostrando. Mas tem qualidade, e é o que eu falo sempre para eles. Cabe a eles reverter essa situação, junto com a diretoria, junto com todo mundo.
O senhor tem uma avaliação mais específica de como desandou?
Rueda - Olha, se você me perguntar [sobre] o ambiente... O ambiente é muito bom. Não teve nada dos jogadores contra o técnico, contra a coordenação, o ambiente sempre foi bom. Tem muito trabalho, o pessoal se dedica muito na parte dos treinos. Agora, no campo, no jogo, não estão entregando o que eles têm de competência, têm condições de entregar. Agora, é uma série de coisas, tem o peso desses anos [com maus resultados]. Agora, não pode ser só o peso. Se você colocar as contratações na outra janela, a gente trouxe 12 jogadores. Já era justamente dizendo: "poxa, a gente tem que trazer pessoal que não tenha esse problema de ter a pressão do passado". Mais essa janela, para realmente arejar o ambiente. Colocar jogador que não tenha aquela pressão do passado. E, até agora, o pessoal não tem tido o desempenho que a gente espera. Mas tenho certeza que a qualidade, com o trabalho que a gente está fazendo, a gente vai conseguir reverter essa situação.
O senhor sempre falou muito da sua preocupação com a gestão financeira. Como o senhor vai entregar o Santos financeiramente para o seu sucessor?
O Santos estava insolvente. Tinha mais de R$ 200 milhões de dívidas em estágio de execução. Todas as dívidas que travavam o clube foram renegociadas e estão sendo honradas em 100% até agora. Então, vou entregar o clube com alguma dívida porque, o clube, se não faz nada [nenhum gasto fora do comum], já termina o ano com quase 100 milhões de déficit. Porém, todas as dívidas [estão] mapeadas para serem honradas. Uma situação bem melhor do que a gente estava antes. Eram meses de salários atrasados, contas bloqueadas, isso foi administrado e a próxima gestão vai receber o clube numa situação completamente diferente. Um coisa que é motivo de orgulho para mim, na atual fase do futebol brasileiro, você ficar dois anos e oito meses com salário sem atrasar um mês.
O senhor vai entregar o futebol muito abaixo do que esperava?
Rueda - Em matéria de resultados, baixíssimo. Vergonhoso, sinto vergonha dos resultados no futebol, por mim e pelo elenco. Agora, eu repito, esse elenco, que foi montado até o momento com os parcos recursos que a gente tinha para investir, não é para estar na situação em que está.
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