Crise do Bota escancara risco de deixar atletas decidirem troca de técnico
A evaporação da vantagem do Botafogo no Brasileiro serve de exemplo para os clubes do país num tema em qual todos eles esbarram em algum momento: até que ponto ceder aos desejos dos jogadores?
Em agosto, o Glorioso chegou a ter 13 pontos de vantagem sobre o vice-líder, que na ocasião era o Grêmio. Hoje, está empatado em pontos com o Palmeiras, mas tem uma vitória a mais e um jogo a menos.
O Bota passou pela primeira vez por instabilidade na atual edição do Brasileirão com Bruno Lage, substituto de Luís Castro, que deixou o clube para treinar o Al Nassr.
A situação desandou de vez depois que os jogadores pediram a cabeça de Lage, que foi substituído por Lúcio Flávio. O ex-auxiliar passou a ter como assistente o ex-zagueiro Joel Carli, nome de confiança dos jogadores.
Assim, a diretoria virou refém da vontade dos atletas e os atendeu. A impressão é a de que prevaleceram chavões como: "não dá para trocar o time inteiro, então, trocamos o técnico". Ou: "vamos fazer o que os jogadores querem, agora eles têm a obrigação de ganhar".
Claro que não é fácil lidar com a situação de ver praticamente o elenco inteiro pedindo a saída de um treinador. Tal fato mostra a quebra de confiança dos jogadores no técnico, situação insustentável.
Por outro lado, demitir o treinador e colocar em seu lugar uma dupla que agrada aos atletas, mas não tem rodagem, é arriscado.
O primeiro risco é o de a direção perder o controle da situação e deixar os atletas no comando. É salutar ouvir as reivindicações dos jogadores. No entanto, eles não são especialistas em gestão. As decisões devem ser tomadas por profissionais preparados para isso.
O segundo risco é o de colocar no cargo um treinador que não está pronto para admissão. Não há nada no currículo de Lúcio Flávio que indicasse ser ele o cara para ajudar o time a contornar um momento delicado.
O ex-auxiliar ainda pode fazer a equipe se recuperar na competição, entretanto, o mais recomendado para o Fogão após a saída de Lage era um técnico experiente.
A experiência seria fundamental para lidar não só com as dificuldades dentro de campo, mas também com um elenco que acabara de conseguir a demissão de seu antigo chefe.
O caminho escolhido pela diretoria da SAF do Botafogo deixa a equipe com um treinador novato num momento delicado.
Hoje, fica evidente que o grande erro da direção foi não ter agido para estancar o desgaste entre os jogadores e Lage e não deixar a situação chegar ao ponto que chegou.
Fica claro também que largar a responsabilidade da troca de treinador nos ombros dos atletas não é uma opção segura. Um dos problemas é a pressão natural que é criada sobre os jogadores. A sensação de ter obrigação de ser campeão após conseguir trocar o chefe não é confortável.
Nesse cenário, o sofrimento botafoguense serve de lição para os dirigentes de seus concorrentes. É preciso evitar se tornar refém das vontades dos atletas.
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