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Corinthians: conselheiro vê falta de providências após relatar ato racista

Cerca de sete meses depois de apresentar denúncia na qual afirma ter sido vítima de fala racista em reunião do Conselho Deliberativo (CD) do Corinthians, Luiz Ricardo Alves, o Seedorf, cobra explicações da Comissão de Ética e Disciplina do órgão sobre a apuração do caso.

O conselheiro eleito pela chapa fundada por Augusto Melo, atual candidato à presidência pela oposição, afirma que ainda não foi ouvido pela comissão. Em e-mail encaminhado no último dia 11 à secretaria do conselho, o conselheiro afirma que o órgão não realizou ações sobre o caso, alvo de inquérito policial.

Seedorf acusa o conselheiro situacionista Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne, de proferir às seguintes palavras em reunião do Conselho em 24 de abril: "Cala a boca, seu neguinho, vai tomar no c...".

Na ocasião, Evangelista negou ter feito a ofensa com cunho racista. Afirmou ter dito "fica quieto aí, amiguinho".

Quando o caso foi levado à Comissão de Ética e Disciplina, o presidente do órgão era André Luiz Oliveira, o André Negão. Ele se licenciou do cargo para ser o candidato da situação à presidência no pleito do próximo sábado (25).

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, André disse que tomou todas as medidas cabíveis em relação à ocorrência enquanto presidiu o órgão. Ele afirma que designou um relator, que é o responsável pelos procedimentos seguintes.

A coluna pediu para André esclarecer o andamento do caso na comissão diante das alegações de Seedorf até o momento em que ele era o presidente. Porém a resposta foi que não seria possível dar mais informações porque o regulamento da comissão prevê sigilo sobre o procedimento (leia a resposta completa ao final do texto).

Sua assessoria de imprensa usou o mesmo argumento para informar que não poderia revelar o nome do relator nomeado por André.

A coluna telefonou para o atual presidente do órgão, Paulo Roberto Almeida Souza, na última sexta-feira (17). Ele afirmou que só falaria com este colunista na terça, quando não atendeu às ligações e não respondeu às mensagens de texto.

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Pedidos

Em setembro, Alves enviou e-mail para a secretária do Conselho Deliberativo, Roberta Andrade, com cópia para o endereço eletrônico da presidência do clube, formulando as seguintes perguntas:

1) O caso foi passado para comissão de ética?

2) Se foi passado, quando foi e quem é o relator do caso?

3) Foi instaurado processo junto à comissão de ética?

4) Se sim, em que fase está o processo atualmente?

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5) Da parte do acusado, já foi tomada alguma providência ? Alguém foi ouvido?

Em novembro, alegando não ter obtido resposta, o conselheiro enviou novo comunicado para a secretária do conselho encaminhando novamente a mensagem anterior.

No novo contato, ele diz que após 198 dias da apresentação da queixa ele não havia sido procurado e ouvido pela comissão.

"No começo de novembro, o André [Negão] falou numa live da Gaviões que o caso está em andamento. Como, se a vítima e nenhuma das 24 testemunhas foram ouvidas? Depois que ouvi isso, mandei novo e-mail para a secretária da comissão", afirmou Alves à coluna.

Em novo contato na última terça, ele disse que ainda não tinha recebido as respostas para as quatro perguntas feitas.

"O que estou pedindo não tem nada a ver com política do clube. É uma questão de dignidade. Teve um sonoro 'cala boca neguinho, vai tomar no c?' na reunião do conselho", disse Alves.

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"Sigo acreditando que a comissão de ética poderia, sim, ter ao menos me ouvido, ter ouvido as testemunhas na sequência. Vale ressaltar que estamos em uma reunião oficial do Conselho Deliberativo do chamado time do povo. Não podemos achar que é normal alguém dizer em alto e bom som 'cala boca neguinho, vai tomar no c?', com dezenas de testemunhas, e nada disso ser ao menos checado, as partes ouvidas", acrescentou Alves.

Ele também criticou diretamente o ex-presidente da comissão, André Negão. "Simplesmente engavetar e tratar como se nada tivesse acontecido, não soa bem. Principalmente porque estamos falando de um [ex-] presidente da comissão de ética do SCCP, tão negro e afro-brasileiro quanto eu", declarou o conselheiro.

Polícia

Em 24 de abril, Alves registrou ocorrência no 52° Distrito Policial. Em 17 de julho, atendendo à intimação feita como parte do inquérito policial, ele prestou depoimento na delegacia e confirmou a acusação contra Evangelista.

Na ocasião, o conselheiro disse que teve uma crise emocional, ficou muito envergonhado por ter sido humilhado na frente de mais de 200 pessoas e que até aquela data tinha vergonha de ir ao clube.

Três dias depois, o conselheiro corintiano Claudinei Alves foi ouvido como testemunha pela polícia e fez relato semelhante.

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Em outubro, o Ministério Público concordou com o aumento de prazo pedido pelo delgado João Batista Filogonio, que conduz o inquérito.

Licença

Evangelista pediu licença do Conselho até a última terça. Indagado pela coluna sobre o afastamento e se foi chamado para prestar depoimento na comissão de ética, o conselheiro enviou a seguinte mensagem, com letras maiúsculas, para este colunista:

"Jornaleiro, não tenho que dar satisfação da minha vida, ok. Você para fazer filme de horror não precisa nem de máscara. Vai ser horrível assim na casa do c...".

O que disse André Negão

Leia na íntegra a resposta enviada pela assessoria de imprensa de André Negão.

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²"André Luiz de Oliveira sempre pautou sua participação no Corinthians, em todos os seus cargos, com decoro e ética exigidos nas funções.

Causa estranheza que o Blog do Perrone tente condenar André Luiz de Oliveira por um ato supostamente cometido por outro conselheiro ao mesmo tempo em que silencia sobre os áudios absurdos comprovadamente gravados por Augusto Melo, em que o candidato da oposição comete racismo contra a cozinheira do União Barbarense.

O Clube do Povo não pode ser comandado por alguém que chama uma funcionária de "gorda negrona" e é por isso que serei o primeiro presidente preto da história do Corinthians.

Sobre o tema específico de Mané da Carne, enquanto presidente da Comissão de Ética, ALO adotou todas as medidas cabíveis para a ocorrência. A denúncia foi recebida com base em um Boletim de Ocorrência apresentado e, na sequência, providenciada a sua autuação. André Luiz designou posteriormente um relator responsável por presidir a instrução processual do caso.

Segundo o regulamento, os andamentos posteriores competem ao relator designado, consistente na oitiva das partes, testemunhas e relatório final para julgamento da comissão.

Por uma questão de cumprimento do regulamento da Comissão de Ética e Disciplina do Conselho Deliberativo, que obriga que o processo corra em sigilo, não é possível dar mais informações.

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Vale ressaltar que o caso também já não está sob responsabilidade de André Luiz de Oliveira há quase cinco meses, já que ele se licenciou em junho para poder se dedicar à campanha"

[Nota da coluna: Este colunista não tentou condenar André, apenas enviou perguntas a respeito do tema desta reportagem. Sobre o áudio citado na resposta, em post publicado no último dia 14, antes de enviar as perguntas para André, a coluna incluiu link da reportagem do colunista do UOL Diego Garcia sobre perícia que mostra que as mensagens são de autoria de Augusto Melo].

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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