Ao ameaçar punir CBF e clubes, Fifa age como se fosse superior à Justiça
Em nova carta enviada em conjunto com Conmebol ameaçando suspender a CBF, a Fifa age como se tivesse mais autoridade em território nacional do que a Justiça brasileira.
Como mostrou a coluna de Rodrigo Mattos no UOL, a federação internacional diz em documento encaminhado para a CBF que se a confederação realizar eleições sem seu aval, a entidade nacional sofrerá um processo. Em caso de suspensão, segundo a mensagem, a seleção brasileira e os clubes do país ficariam fora de competições internacionais.
A Fifa exige que a CBF não faça a nova eleição determinada pela Justiça antes da chegada de representes dela e da Conmebol para avaliarem a situação. Se o presidente em exercício da confederação, José Perdiz, acatar a ordem, ele afrontará decisão judicial.
Perdiz foi indicado pela Justiça para assumir a presidência no lugar de Ednaldo Rodrigues, destituído do cargo na mesma decisão. Assembleias realizadas pela CBF foram anuladas, incluindo votação que elegeu Ednaldo.
No último dia 12, ele assinou o termo de compromisso como interventor da CBF com a obrigação de realizar eleição presidencial em 30 dias. A Fifa diz que chegará ao Brasil com a Conmebol na semana do dia 8 de janeiro. Assim, se esperar pela entidade internacional para organizar a votação, Perdiz provavelmente irá desrespeitar a decisão da Justiça.
O estatuto da Fifa diz que as entidades filiadas a ela são obrigadas a resolver suas questões sem a "indevida influência de terceiros", incluindo autoridades do Estado.
Ou seja, a Fifa acredita que o sistema organizado por ela deve ser imune aos poderes judiciários dos países. Trata-se de um mundo paralelo no qual a federação internacional é a autoridade máxima.
Em outras palavras, a Fifa diz em sua nova carta algo como: "esqueçam o que a Justiça diz. Quem manda sou eu". Esse autoritarismo está no DNA da entidade que controla o futebol mundial. A mesma arrogância foi demonstrada por aqui durante os preparativos para a Copa de 2014 com as exigências feitas ao governo brasileiro.
Para fazer valer a insana lógica de que ela assume o papel que deveria ser do Judiciário, a Fifa toca num ponto sensível para os brasileiros: seus times de futebol e a seleção mais vitoriosa do planeta em mundiais.
A paixão futebolística, no entanto, não deve servir como cortina de fumaça diante uma realidade clara. A Fifa não tem mais poder do que a Justiça de um país. No caso envolvendo a CBF, a interferência externa é a da entidade internacional.
Deixe seu comentário