Parceria do Corinthians amplia pressão sobre Leila. Sobra até para Galiotte
O anúncio do Corinthians de que irá arrecadar R$ 370 milhões em três anos com sua nova patrocinadora máster, a VaideBet, reaqueceu entre conselheiros do Palmeiras a discussão sobre os contratos do clube com Crefisa e FAM.
A oposição ganhou nova munição para contestar os valores pagos pelas empresas da presidente palmeirense, Leila Pereira, e para cobrar esclarecimentos sobre os acordos.
A movimentação respinga até no ex-presidente Maurício Galiotte, criticado por parte dos opositores por assinar em 2021 compromisso com os valores atuais.
O fato de Leila ter dito em outubro do ano passado que aumentaria a quantia paga por suas companhias se visse documentos com provas de que a camisa corintiana gerava receita de R$ 123 milhões anuais na época também alimenta a discussão nos bastidores.
"O que eu falei naquela entrevista, eu ratifico aqui. Está comprovado esse valor?", disse Leila nesta terça (16), referindo-se ao patrocínio do maior rival de seu clube.
Sem reajuste
Segundo Augusto Melo, presidente corintiano, a VaideBet pagará R$ 10 milhões por mês. Ou seja, R$ 120 milhões anuais em três anos de compromisso, além de R$ 10 milhões de luvas já pagas, segundo ele.
Além do espaço principal na camisa do time masculino profissional de futebol do Corinthians, o contrato coloca a marca da casa de apostas no time feminino de futebol e nas equipes de futsal e basquete.
"Nós tínhamos um contrato melhor. Agora já fomos superados pelo Corinthians. Vou cobrar a Leila na próxima reunião do Conselho, vou dizer: "já está na hora de reajustar o patrocínio. Olha quanto a Crefisa cresceu patrocinando o Palmeiras", disse o conselheiro José Corona Neto, que já criticou duramente a presidente no Conselho Deliberativo.
Juntas, Crefisa e FAM pagam R$ 81 milhões fixos anuais ao Palmeiras. Esse valor é o mesmo desde 2019. Em 2021, durante mandato de Galiotte, foi feita a última renovação pelo mesmo valor fixo até dezembro de 2024.
Com bônus por metas alcançadas, o Palmeiras pode receber mais R$ 39 milhões. Assim, se todos os gatilhos forem acionados, a receita chega a R$ 120 milhões.
Galiotte
Parte dos opositores responsabiliza Galiotte pelo fato de o Palmeiras ter hoje o que eles chamam de contrato defasado. A reclamação é que o ex-presidente aceitou valores que já eram pagos em 2019. E que, além de não conseguir um aumento, não avaliou que no final de 2024 a quantia estaria "envelhecida".
De acordo com essa análise, Galiotte teria falhado também por não considerar a possibilidade de aquecimento no mercado de patrocínio esportivo. O incremento dos contratos acabou acontecendo com a concorrência entre os sites de apostas pelas camisas dos clubes.
Porém, a responsabilização de Galiotte pelos valores pagos por Crefisa e FAM não é unânime na oposição. Outra linha de raciocínio sustenta que ele tinha pouco poder de negociação diante de uma aliada política e candidata única à sua sucessão.
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Quero receberA coluna enviou mensagem para Galiotte perguntando porque ele aceitou o contrato sem reajuste nos valores, mas o ex-presidente não respondeu.
Quem defende o acordo justifica que, quando o contrato de patrocínio foi renovado, os valores estavam acima dos praticados no mercado.
O argumento é o de que na ocasião, mesmo sem aumento em relação à quantia paga desde 2019, o montante oferecido pelas empresas de Leila era muito superior ao que os candidatos a patrocinar clubes topavam pagar. Na coletiva desta terça, Leila lembrou que, pelo Palmeiras, o acordo foi assinado pelo ex-presidente, não por ela.
Conflito de interesses
O acerto do Corinthians com uma marca que paga mais do que Crefisa também alimentou o discurso de que há conflito de interesses no fato de o Palmeiras ser patrocinado pelas empresas de sua presidente.
O ponto atacado é que, enquanto o clube quer ganhar mais do que o rival, a patrocinadora, em tese, vai negociar para pagar o mínimo possível. Só que a mesma pessoa está nas duas pontas do negócio.
Por outro lado, parte dos opositores entende que é indiferente quanto o Corinthians arrecada com seu novo patrocinador. Isso por acreditarem que Leila não pode aparecer nos dois lados do balcão no Alviverde. Assim, independentemente de Crefisa e FAM pagarem mais ou menos do que a patrocinadora corintiana, haverá problema. Nesta terça, Leila afirmou que ainda em 2024 fará uma concorrência com interessados em patrocinar o clube.
Transparência
O barulho feito pelo novo patrocínio anunciado pelo rival também recolocou em discussão pedido feito pelo integrante do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) Roberto Silva ao órgão para ver os contratos do Palmeiras com Crefisa e FAM e seus aditivos. "Fiz o pedido em 29 de novembro e até agora não vi os contratos", disse Silva, crítico da atual gestão.
"Enviei um e-mail para ele explicando que o departamento jurídico vai marcar uma data para ele ver os contratos. Todos os integrantes do COF podem ver o que quiserem", disse Carlos Ricardo Degon, presidente do Conselho de Orientação e Fiscalização.
Ele afirmou que o pedido foi feito numa época (fim de ano) em que o COF tem uma série de compromissos para cumprir. Depois disso, Degon diz que entrou em férias e retoma as atividades na próxima segunda. "Até a presente data, não recebi contato do jurídico", declarou Silva.
Pressão
Na oposição também existe relato de que o anúncio dos valores do novo patrocínio corintiano gerou cobrança até nos conselheiros.
Torcedores passaram a pressionar alguns deles para que tomem providências em relação aos valores pagos pelas empresas de Leila.
A resposta da presidente
A coluna enviou perguntas relacionadas aos temas abordados na reportagem para o departamento de comunicação do Palmeiras. A seguinte nota foi recebida como resposta:
"A presidente Leila Pereira concedeu nesta terça-feira uma entrevista de cerca de 1h50 e respondeu a diferentes questionamentos relacionados à parceria entre Palmeiras e Crefisa. No momento, Leila não vê necessidade de voltar a se manifestar sobre este assunto".
Uma das perguntas feitas pela coluna é se os bônus pagos por metas foram reajustados em relação ao acordo assinado em 2019.
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