Perrone

Perrone

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Renato prova que Textor deu brecha para técnicos desviarem foco em derrotas

Ao lançar suspeitas de manipulação de resultados em jogos do Brasileirão, John Textor deu a treinadores e dirigentes que têm dificuldades para falar sobre as derrotas de seus times o que eles queriam: mais um motivo para desviar o foco e pressionar a arbitragem.

É o que se pode concluir, por exemplo, da atitude de Renato Gaúcho no último sábado (27). O treinador deixou o banco de reservas e levou seus jogadores com ele antes de terminar a partida em que o Grêmio perdeu para o Bahia por 1 a 0.
O protesto aconteceu após a Diego Costa, que já tinha sido substituído, ser expulso.

"Temos que pensar no futebol brasileiro. Até onde a CBF, o [Wilson Luiz] Seneme [presidente da Comissão de Arbitragem da CBF] querem que o campeonato ande naturalmente? Ou será que temos que dar mais atenção para o que diz o presidente do Botafogo [John Textor, dono da SAF botafoguense]", disse Renato em um dos trechos de sua entrevista coletiva após a derrota.
O treinador também afirmou: "Se ouviu que o presidente do Botafogo gritou, foi um alarde. Agora... Será? Será mesmo que só gritou? Vai ficar por isso mesmo? Não vai ter investigação? Pergunto para os responsáveis".
Renato falou até em fazer os pontos necessários para evitar o rebaixamento do Grêmio e botar a molecada para jogar, abdicando da briga do título. Seria uma responsabilidade a menos para ele.
O curioso é que todo o barulho feito não foi motivada por um lance que teria decidido o jogo.
A explosão de Renato aconteceu por causa da suposta interferência do presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Baiana, Jailson Macedo Freitas. Ele teria feito a denúncia para o quarto o árbitro que culminou na expulsão de Diego. O treinador também se queixou de que o juiz Braulio da Silva Machado não puniu com rigor faltas e a cera do Bahia.
Ao citar Textor para explicar sua revolta, o técnico gremista levou o assunto para um campo mais complexo. As denúncias do norte-americano viraram até tema de CPI no Senado.
Um técnico de outro time falando sobre as acusações de Textor repercute, ganha espaço na imprensa e nas redes sociais.
Ou seja, em vez de o debate em torno do Grêmio ser a segunda derrota do time em quatro jogos no Brasileirão, é a suposta manipulação de resultados. E isso sem nenhum lance escandaloso ser apontado pelo treinador indignado.
Perder para o Bahia fora de casa não é uma vergonha para o Grêmio, que venceu dois jogos na competição.
Mas, grande parte dos treinadores brasileiros preferem falar de arbitragem quando perdem e de tática só quando ganham.
Textor abriu uma larga estrada para os que gostam de desviar o foco, evitando debater publicamente os problemas de seus times e suas próprias falhas.
É inegável que a arbitragem brasileira é péssima. Não se discute que os elementos que Textor afirma ter para apontar a suposta manipulação precisam ser examinados por quem é competente para esse tipo de investigação.
Porém, ao fazer as denúncias publicamente sem revelar as supostas provas, justamente depois de o Botafogo perder um título brasileiro que parecia ganho, Textor fez um favor à turma do desvio de foco. Ele preparou o terreno para quem preferir plantar teorias da conspiração em vez de explicar maus resultados.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes