Corinthians fechou com duas empresas para mesmo espaço no basquete feminino
O Corinthians assinou contrato com dois patrocinadores para que eles ocupassem o mesmo espaço na camisa do time de basquete feminino principal do clube.
Um dos acordos foi assinado com a N. Zeppone para que fosse estampada a marca Polpanorte. Esse compromisso começou a valer em 1º de março de 2024 e vai até 28 de fevereiro de 2025.
Porém, a versão do contrato obtida pela coluna foi assinada em 23 de abril e fala em efeito retroativo.
O outro contrato foi feito com a CNK Administradora de Consórcio, detentora da marca Kasinski Consórcio. Firmado em 19 de janeiro de 2024, o compromisso vale até 31 de dezembro deste ano.
Os dois documentos apontam que os patrocinadores têm o direito de divulgar as suas marcas na parte frontal (master) das camisas dos uniformes oficiais de jogo da equipe principal de basquete feminino do Corinthians.
Cada contrato indica que o patrocinador terá exclusividade com relação à parte frontal. "O que significa dizer que o Corinthians não poderá expor, durante a vigência deste contrato, nenhuma outra marca no referido espaço", dizem trechos dos dois documentos.
Nos contratos, Sergio Moura, diretor de marketing licenciado, assina como uma das testemunhas. Não é possível identificar quem assinou como responsável pelo clube, pois a assinatura não é legível. Normalmente, essa responsabilidade é do presidente.
Moura pediu licença por tempo indeterminado na última quinta (23), em meio aos desdobramentos do pagamento de comissão por intermediação do contrato com a VaideBet.
Costas
Apesar de ter assinado para estampar a frente da camisa do time de basquete feminino, a Kasinski Consórcio acabou ocupando a parte traseira do uniforme.
Por e-mail, a coluna perguntou para Leandro Rodrigues, diretor da Kasinski Consórcio, se a empresa concordou com a mudança.
"Sim, a empresa concordou com a alteração do local da estampa da marca", afirmou Rodrigues.
"Foi feito um adendo em que constou a alteração do local da marca para a parte traseira da camisa", completou o diretor da patrocinadora. Ele ainda afirmou que a Kasinski não recebeu nenhuma compensação pela alteração.
O que o Corinthians diz?
A coluna enviou perguntas para a assessoria de imprensa do clube, que informou serem dois contratos com o status de master, um para a frente da camisa e outro para as costas. Porém, a assessoria não soube detalhar se esse arranjo foi feito por meio de um adendo.
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Quero receber"Os patrocinadores não estão em conflito. Estão com as marcas em exposição e está tudo certo. Os contratos passaram pelo jurídico e pelo compliance. E estão vigentes", respondeu a assessoria do Corinthians.
A coluna também enviou mensagem para o superintendente de marketing licenciado. No entanto, ele disse que foi orientado a não dar entrevistas neste momento.
Valores
Para estampar a marca da Kasinski Consórcio na camisa da equipe de basquete feminino, a CNK topou pagar R$ 450.000,00. Neste montante estão incluídos os 5% relativos ao INSS. O acordo prevê o pagamento em 10 parcelas mensais de R$ 45 mil.
A dona da marca Polpanorte aceitou desembolsar de R$ 526.315,79, também já com a porcentagem referente ao INSS. Foram acordadas doze parcelas mensais.
Comissão
Os dois contratos têm pagamento de comissão por intermediação, mas só um é por conta do Alvinegro.
Por intermediar o acordo com a CNK, a GMCF Consultoria e Investimentos em Ativos Judiciais assegurou o recebimento de R$ 50 mil em dez parcelas de R$ 5 mil. A patrocinadora se responsabilizou pelos pagamentos.
A intermediação da negociação com a N. Zeppone foi feita por Rodrigo Bezerra da Silva, empresário individual, de acordo com sua identificação no contrato. O Corinthians pagará como comissão o equivalente a 7% do montante líquido de cada parcela que receber pelo patrocínio.
Apesar da promessa do presidente Augusto Melo de transparência em relação aos contratos assinados pelo clube, ao anunciar o patrocínio da Polpanorte em seu site, o Corinthians não divulgou o valor a ser recebido nem o pagamento de comissão.
Promoção de vendas
O Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da intermediária do contrato com a N. Zeppone mostra que a intermediação não está entre as atividades econômicas da empresa que leva o nome de Rodrigo Bezerra da Silva.
A atividade principal dela é promoção de vendas. As atividades secundárias são treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial e treinamento em informática.
De acordo com Murillo Torelli, professor no curso de Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie, isso não chega a ser um problema para quem paga pelos serviços da empresa. Já a prestadora do serviço pode acabar pagando imposto maior.
"Para o cliente que está contratando [no caso o Corinthians], é muito difícil ele fazer esse tipo de consulta. E eu não enxergo nenhuma penalidade maior para quem contrata uma empresa para exercer uma atividade diferente. O maior ônus talvez seja para o próprio executor dessa atividade fora do CNAE [Classificação Nacional de Atividades Econômicas]. O ônus imediato seria essa questão tributária", afirmou Torelli.
De acordo com o professor, se a empresa no dia a dia trabalha com promoção de vendas, ela não faz nada errado se eventualmente realizar uma intermediação.
A coluna não conseguiu contato por telefone com a intermediadora e enviou perguntas para o e-mail disponível em seu cadastro, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Vale lembrar que, conforme mostrou reportagem da "Gazeta Esportiva", situação parecida envolveu a Rede Social Media Design. A empresa, que intermediou o contrato entre VaideBet e Corinthians não tinha a intermediação entre suas atividades cadastradas quando o acordo foi fechado. Posteriormente, foi feita a adequação.
Camarote
A Kasinski Consórcio atualmente utiliza um camarote na Neo Química Arena. As versões dos contratos de patrocínio ao basquete e ao futebol feminino obtidas pela coluna não citam o espaço no estádio.
Porém, segundo o diretor da empresa, a cessão está prevista contratualmente. "A Kasinski Consórcio patrocinou a Copinha [a equipe do Corinthians na última edição do torneio], o time feminino de futebol e o time feminino de basquete. A cessão do camarote foi parte da negociação para os patrocínios e consta em contrato", afirmou Rodrigues. Em seguida, ele disse que a propriedade faz parte do contrato relativo à equipe de futebol feminino. O Corinthians não respondeu à pergunta sobre o camarote.
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