Hipóteses de desvio de grana do Corinthians e furto estão no radar policial
Lavagem de dinheiro, furto qualificado, desvio de recursos, apropriação indébita e falsidade ideológica. Esses são alguns dos crimes que a polícia acredita que podem estar no rastro do caso envolvendo a intermediadora do contrato entre Corinthians e VaideBet. A Rede Social Media Design, paga pela intermediação, fez transferências para uma empresa em nome de uma mulher supostamente usada como laranja.
As hipóteses de ações criminosas estão indicadas no documento que determinou o início dos trabalhos policiais. Trata-se do ato inicial da Verificação de Procedência de Informações aberta pelo delegado Tiago Fernando Correia, da 3ª Delegacia do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) na última segunda (27).
O procedimento é tratado também como Investigação Preliminar Sumária. O objetivo é conseguir um conjunto mínimo de provas para justificar a necessidade de instauração de Inquérito Policial.
Trecho do documento que sustenta o início da investigação preliminar diz o seguinte:
"Levando em conta que a aparente existência de irregularidades na intermediação da negociação do aludido clube com a 'VaideBet', noticiada em veículos midiáticos como o maior contrato de publicidade da história, traz em si possíveis indícios de desvios e malversação de recursos financeiros, a configurar, sem prejuízo de outras tipificações penais, apropriação indébita, furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, delitos estes perseguidos mediante ação pública incondicionada...".
O delegado não explicou cada possível ação criminosa. Porém, a polícia crê que, em tese, o desvio de recursos se daria no caso de o Corinthians desembolsar uma quantia para pagar pela intermediação do contrato de patrocínio sem que ela tenha ocorrido. Ou seja, dinheiro que seria do Alvinegro teria parado em outros bolsos.
A polícia quer saber se a Rede Social trabalhou mesmo na intermediação do contrato. Na hipótese de ela ter recebido sem trabalhar, o desvio de dinheiro pode configurar furto qualificado ou apropriação indébita. Esses crimes também teriam ocorrido se, mesmo havendo intermediação, o dinheiro voltasse para um dirigente. Todas essas hipóteses estão no radar da polícia neste início de operação.
Segundo disse o delegado à coluna, um dos objetivos do trabalho é justamente saber se a Rede Social prestou mesmo o serviço de intermediação.
O Corinthians se comprometeu a pagar R$ 25,2 milhões de forma parcelada para a Rede Social.
Conforme mostrou a coluna a de Juca Kfouri no UOL, a intermedidadora recebeu R$ 1,4 milhão como parte da comissão e fez transferências para a Neoway.
A empresa que acolheu o dinheiro está em nome de Edna Oliveira dos Santos, que recebe o Bolsa Família e mora em uma comunidade pobre no litoral de São Paulo. Ela afirma que desconhecia ser dona da empresa.
Este fato sustenta a suspeita de lavagem de dinheiro. A polícia quer saber se Edna teve documentos furtados. Eles poderiam ter sido usados para a abertura da empresa sem seu conhecimento. Se alguém se passou por Edna, assinou requerimentos por ela ou movimentou contas da Neoway, praticou falsidade ideológica.
No início de seu ofício, o delegado cita a reportagem escrita por Kfouri e uma investigação feita pela mesma delegacia sobre possíveis crimes relacionados a gestões anteriores como motivações para sua decisão.
Parte do documento diz: "A partir das circunstanciadas notícias propagadas em diversos portais da internet (a exemplo da retratada no programa Cartão Vermelho, de Juca Kfouri, veiculada no Canal UOL e datada de 20.05.2024), e considerando que esta 3ª Delegacia mantém investigação em curso para apuração do crime de lavagem de dinheiro e de infrações penais correlatas supostamente cometidas em gestões passadas do Sport Club Corinthians...".
A investigação sobre atos de antigas administrações do Corinthians foi iniciada em 2023, após o Ministério Público receber denúncia anônima.
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A assessoria de imprensa do clube informou que a agremiação "não irá se manifestar sobre a investigação, pois o clube também pediu esclarecimentos internos".
No último dia 20, o Alvinegro divulgou esta nota sobre o caso: "O Sport Club Corinthians Paulista tomou conhecimento da acusação publicada na imprensa na tarde desta segunda-feira (20) e reafirma que todas as negociações, incluindo patrocínios, se deram de forma legal com empresas regularmente constituídas. O clube destaca que não guarda responsabilidade sobre eventuais repasses de valores a terceiros. Caso sejam apresentadas quaisquer provas de ilícitos, estes serão discutidos junto ao Conselho Deliberativo para providências que se fizerem necessárias".
No último domingo, a coluna pediu para Alex Cassundé, dono da Rede Social, explicar as transferências para a Neoway. A mensagem não foi respondida.
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