No Flamengo, rótulo de técnico especial de Tite desbota
Durante a maior parte do tempo em que esteve na seleção brasileira, Tite foi tratado como intocável por grande parte da imprensa. Suas falhas, principalmente na Copa de 2022, demoram para ser apontadas.
A queda no Qatar, no entanto, gerou discussões sobre o desempenho do treinador, mas nada que abalasse drasticamente sua imagem.
Em vez de dirigir um clube europeu, Tite desembarcou no Flamengo como top de linha.
A contratação pelo rubro-negro gerou a oportunidade de vermos se ele estava num nível superior em relação aos técnicos dos clubes brasileiros. A badalação em torno de seu nome poderia sugerir enganosamente que ele estava mais para elite europeia do que brasileira.
O trabalho no Flamengo devolveu Tite a um ambiente ao qual ele estava acostumado antes de ir trabalhar na CBF.
Treinar um clube significa se expor com mais frequência do que numa seleção. Apesar de a exposição, para o bem e para o mal, ser maior numa Copa do Mundo, a rotina numa equipe gera mais jogos e entrevistas coletivas. A cobrança da torcida é constante, não esporádica. Assim, a chance de desgaste diário da imagem de um treinador aumenta.
A derrota do Flamengo para o Botafogo por 4 a 1, pelo Brasileirão, no último domingo (18), retrata isso.
Tite foi criticado por comentaristas e há torcedores nas redes sociais pedindo sua demissão. Na entrevista coletiva após o clássico, ele discutiu com um dos entrevistadores, na contramão do clima de palestra que dominava a maioria de suas sessões com a imprensa na seleção.
Ou seja, a rotina no Flamengo tirou Tite do pedestal em que ele estava nos tempos de CBF e o faz viver a dura rotina dos treinadores que atuam no Brasil.
Seu trabalho no Flamengo, quarto colocado no Brasileirão, não pode ser considerado ruim. Mas poderia ser bem melhor.
O desempenho de Tite até aqui mostra que ele não sobra no mercado nacional como sobrava ao ir para a CBF.
Isso tem muito a ver com a chegada de treinadores estrangeiros que elevaram o nível no país. Entre eles, está Artur Jorge, que bateu Tite no duelo de domingo e está na liderança do Brasileiro com o Botafogo.
O treinador rubro-negro, neste momento, parece ter que lutar por sua permanência no cargo a cada rodada, sem uma capa de supertécnico.
Ele ainda está entre os melhores em atividade no Brasil, mas seu rótulo de especial está desbotado. Não há injustiça nisso.
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