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ReportagemEsporte

Consultoria vai de trunfo a tema espinhoso para direção do Corinthians

Um dos momentos mais polêmicos da recente reunião do Conselho Deliberativo (CD) do Corinthians, na última segunda (14), aconteceu quando foi abordado o contrato do clube com a Ernst & Young (EY).

A apresentação da Comissão de Justiça do órgão informou aos presentes que um dos contratos assinados entre as partes prevê a possibilidade de análise de dados de ex-dirigentes alvinegros e até de seus parentes.

Em resposta à coluna, por meio de sua assessoria de imprensa, o clube afirmou que houve um erro na interpretação do contrato feita pela comissão.

Em seu trabalho, a comissão sustentou que não recebeu da direção todos os relatórios que pediu sobre a atuação da EY. Apenas um teria sido entregue, segundo conselheiro que acompanhou o levantamento.

A informação no Conselho é de que a empresa ainda cobra valores do clube e que o contrato não foi formalmente rescindido. Na prática, a EY já não atua no Parque São Jorge.

À coluna, a diretoria negou que a rescisão não tenha sido oficializada e que o Alvinegro tenha dinheiro para pagar à Ernst. A EY disse que não pode falar sobre o assunto (leia as respostas das duas partes no final do texto).

O pacote de informações levado para a reunião pela comissão mostra como o acordo com a EY foi de trunfo da diretoria comandada por Augusto Melo a espinhoso para a direção.

Ao assumir a presidência, Augusto anunciou com pompa a contratação da empresa para ela prestar uma consultoria ao Alvinegro.

Em linhas gerais, o trabalho seria fazer um raio x da situação do clube e indicar os caminhos a serem seguidos.

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O presidente tratava a iniciativa como sinal de que a profissionalização da agremiação marcaria seu mandato.

Internamente, com o avanço dos trabalhos, membros da gestão afirmavam que a consultoria mostraria erros da diretoria anterior, liderada por Duilio Monteiro Alves.

Nas redes sociais, parte da torcida corintiana entendeu que seriam investigadas as ações do grupo que estava no poder desde 2007 no melhor estilo caça às bruxas. Na ocasião, Augusto negou que esse fosse o objetivo.

Hoje, o presidente tem que lidar com cobranças de conselheiros envolvendo o acordo com a consultoria.

O que diz o contrato

Foram vários contratos assinados com a EY. Segundo o trabalho da Comissão de Justiça, um deles cita ex-dirigentes e seus parentes.

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Trecho desse documento diz que seriam analisados sete dos principais contratos assinados pelo Alvinegro nos últimos seis anos. Estariam sob análise 35 "transações/pagamentos", cinco por contrato.

Está escrito que haveria "mapeamento dos dirigentes da antiga gestão do Corinthians - incluindo abertura familiar".

Também está determinado que "os dirigentes que serão objeto do 'background check' (checagem de antecedentes) serão validados previamente com o Corinthians".

Em seguida, o documento explica que haverá "identificação de participações em empresas e relacionamentos" e "cruzamento dessa informação com as estruturas das empresas analisadas".

A revelação dessa análise gerou revolta entre parte dos conselheiros de oposição. Eles entenderam que o clube contratou uma empresa para investigar ex-cartolas e seus parentes.

Segundo fontes no Conselho, Augusto foi questionado sobre o tema na última reunião e disse desconhecer o trabalho envolvendo ex-dirigentes e familiares deles. Em resposta à coluna, o Corinthians afirmou que não existiu essa análise.

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A reportagem apurou que o trabalho descrito no contrato verifica possíveis conflitos de interesse e descumprimentos de regras internas.

Nesses casos, é feita uma análise nas estruturas das empresas envolvidas nos contratos verificados. É identificada a teia de relacionamentos delas. São usados dados públicos, como os disponíveis em cartórios e redes sociais. Nessa pesquisa, podem ser localizados, eventualmente, parentes de diretores, neste caso, de ex-dirigentes.

A Comissão de Justiça, conselheiros e ex-diretores cobram a diretoria para apresentar os resultados da análise feita pela EY nos contratos firmados pela antiga gestão. Eles querem saber se alguma irregularidade foi encontrada.

A coluna enviou mensagem para o ex-presidente Duilio para saber sua opinião sobre o tema, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

O que diz a EY

Por meio de sua assessoria de imprensa, a EY enviou a seguinte nota ao ser questionada pela coluna:

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"Por questões de confidencialidade, a EY não comenta ou divulga detalhes sobre procedimentos envolvendo seus clientes, ex-clientes ou projetos. A EY reforça que segue rigorosos padrões e processos éticos e de compliance, de acordo com as regulações vigentes".

O que diz o Corinthians

Confira as respostas enviadas pelo departamento de comunicação do clube para as perguntas a respeito de assuntos abordados neste post.

Pergunta - De acordo com apresentação feita pela Comissão de Justiça no Conselho Deliberativo, a diretoria do Corinthians não entregou para ela relatórios elaborados pela EY. Procede que, apesar dos pedidos da comissão, os relatórios não foram entregues? Se sim, por quê?
Resposta -
Todas as informações solicitadas pelas comissões feitas pelo Conselho Deliberativo do Clube foram acatadas desde que os pedidos tenham sido feitos com antecedência e com organização.

Pergunta - Documento que faz parte do acordo entre EY e Corinthians indica que a empresa analisaria os 7 principais contratos firmados nos últimos seis anos. A análise contaria com 'background check e screening'. Como funcionam estas análises? Segundo o mesmo documento, fazem parte desses dois procedimentos "mapeamento dos dirigentes da antiga gestão, incluindo abertura familiar". O que isso significa? O que exatamente a EY investigou de ex-dirigentes e seus parentes? Quais dados foram levantados?
Resposta -
Documentos internos e os relatórios feitos por qualquer consultoria contratada pelo clube não serão expostos na imprensa.

Pergunta - Essas análises que atingem ex-dirigentes e seus familiares chegaram a ser feitas? Como serão ou foram usados os dados levantados?
Resposta -
Essa analise não foi feita. Houve um erro na interpretação do contrato feita pela Comissão.

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Pergunta - Na última reunião do CD Augusto disse desconhecer que o trabalho da EY envolvia investigar ex-dirigentes e seus parentes? Ele não assinou o contrato? Quem assinou?
Resposta -
A reunião do CD é sigilosa e não deve ser comentada na imprensa.

Pergunta - O contrato com a EY já foi oficialmente rescindido?
Resposta -
Sim.

Pergunta - O Corinthians ainda deve para a EY?
Resposta -
Não.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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