Brasileiro encara medo em time que tentou jogar de máscara: "Tenho família"
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"Esta situação que estamos vivendo é muito difícil. Tenho medo de pegar coronavírus por causa do meu trabalho. Só continuo fazendo porque tenho que sobreviver, pagar as contas e sustentar minha a família".
O carioca Flávio da Silva, de 47 anos, é um dos poucos treinadores de futebol do planeta que continuam exercendo normalmente sua atividade em tempos de pandemia do novo coronavírus (covid-19).
Ex-comandante do Tigres do Brasil, atualmente na terceira divisão do Rio de Janeiro, ele trabalha há oito meses no Diriangén, vice-líder do Torneio Clausura do Campeonato Nacional da Nicarágua.
O país, localizado na América Central, é um dos poucos que optaram por não interromper suas competições mesmo com a proliferação mundial da doença. Belarus, Tadjiquistão e Burundi são outros lugares onde a bola continua rolando.
"O que dizem para a gente é que estão seguindo os protocolos da OMS [Organização Mundial de Saúde], que recomendam que, dependendo do número de casos que o país possui, é possível manter algumas atividades sem restrição", afirma o técnico.
Até o momento, a Nicarágua confirmou apenas seis casos positivos de coronavírus, todos importados de outros países. Só que esses números são bastante questionados pela ONU (Organização das Nações Unidas), que alega "falta de transparência" do país.
A nação centro-americana é uma ditadura governada desde 2007 por Daniel Ortega, que praticamente não impôs nenhuma medida de combate à covid-19 e tem permitido aglomerações de pessoas nas cidades e praias.
O Diriangén foi o único dos dez clubes da primeira divisão nicaraguense que votou pela interrupção do campeonato e tem usado suas redes sociais para fazer campanhas para que as pessoas fiquem em casa e o futebol seja paralisado.
Além disso, ficou conhecido mundialmente no fim do março por tentar disputar uma partida oficial com todos os seus jogadores utilizando máscaras para se proteger do vírus.
"A ideia foi dos dirigentes, mas teve o meu apoio. O problema é que as máscaras dificultam a respiração. Então, com 30 minutos do primeiro tempo, alguns jogadores já começaram a tirá-la. Estamos tentando colaborar com a vida. Mas, infelizmente, não dá para jogar de máscara".
Flávio tem feito sua parte para diminuir os riscos de contaminação no elenco do Diriangén. As rodinhas de oração dos jogadores foram abolidas, os jogadores foram orientados a chegarem aos treinos já uniformizados, e as preleções pré-partidas têm sido feitas fora do vestiário, já dentro de campo.
Mas ele sabe que todas essas atitudes não são tão efetivas assim no combate da proliferação do vírus.
"Estou até com problema para dormir. Penso assim: durante uma viagem, estamos em 30 no ônibus, não dá para respeitar a distância mínima entre uma pessoa e outra. Se alguém ficar doente, contamina todo mundo. Nós, que trabalhamos com futebol, não estamos protegidos".
Mas, apesar da discordância em relação aos rumos do campeonato nesta pandemia, Flávio faz questão de frisar que adora a Nicarágua e que é grato demais ao país, onde, entre algumas idas e vindas, mora há 12 anos e constituiu família.
"Aqui sou bem tratado e respeitado como nunca fui no Brasil", completa o treinador.
A pandemia de coronavírus começou mais ou menos na virada do ano e já se espalhou por todos os continentes. Até ontem, a OMS confirmava mais de 1,5 milhão de casos da doença em mais de 180 países. Os mortos superavam a casa dos 92 mil.
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