Topo

Rafael Reis

Por que é injusto terminar a Liga dos Campeões desta temporada em campo

Neymar comemora a classificação do PSG para as quartas de final da Champions - Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images
Neymar comemora a classificação do PSG para as quartas de final da Champions Imagem: Aurelien Meunier - PSG/PSG via Getty Images

22/05/2020 04h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Interrompida desde o começo de março devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a Liga dos Campeões da Europa precisa ser cancelada e declarada sem vencedor nesta temporada. Essa é uma questão básica de justiça.

Devido às formas diferentes como cada país têm lidado com a crise sanitária e com a conclusão dos seus calendários futebolísticos, é simplesmente impossível que todos os times sobreviventes disputem uma reta final do torneio continental em equidade de condições.

Caso realmente seja concluída, a Champions colocará frente a frente times que estarão em pelo menos três estágios técnico-físicos diferentes: haverá aqueles que estarão em ritmo de pré-temporada, sem disputar uma partida oficial há cinco meses, os que estarão em voo de cruzeiro e os desgastados por uma sequência interminável de compromissos em um número reduzido de dias.

E, nesse cenário, é impossível falar em qualquer tipo de justiça, algo essencial para qualquer tipo de competição.

O maior problema é a França, que já classificou o Paris Saint-Germain para as quartas de final e ainda tem o Lyon brigando por vaga na sequência do torneio. Como o governo de Emmanuel Macron proibiu a disputa de qualquer evento esportivo no país até setembro, a Ligue 1 foi cancelada, e os clubes do país ficaram sem calendário até o fim da temporada.

Ou seja, Neymar, Kylian Mbappé, Edinson Cavani e companhia teriam de encarar os confrontos finais da Champions depois de um longo período de inatividade, com todos os problemas provocados por ela. Apesar de estarem bem fisicamente, eles seriam expostos a partidas decisivas estando completamente sem ritmo de jogo, por mais que estivessem treinando.

Por outro lado, as equipes espanholas, inglesas e italianas chegariam à fase final do torneio completamente destruídas pelo calendário exaustivo que devem enfrentar para completar a temporada. Como suas ligas nacionais só devem retornar em meados do próximo mês, os clubes desses países podem enfrentar maratonas de até 15 partidas em 45 dias e em pleno verão europeu.

Uma sequência desse porte, logo após um período de tão longa inatividade, deve provocar uma onda de problemas físicos e lesões musculares. Em resumo: vários jogadores não poderão disputar a Champions. E os que puderem, provavelmente estarão extremamente cansados.

Quem pode se dar bem com tudo isso são as equipes da Alemanha. Como a Bundesliga já retornou no último fim de semana e está prevista para terminar em 27 de junho, os clubes germânicos não estarão com a língua de fora no fim da temporada e terão tempo de se preparar exclusivamente para o torneio continental.

E tudo isso sem prejudicar muito o ritmo de jogo, já que o período de inatividade será pequeno, e eles poderão organizar amistosos para manter a forma, algo que os franceses não podem fazer em seu próprio país.

Por causa de tudo isso, se a Champions tiver um campeão em 2019/2020, ele terá de ser acompanhado por um grande asterisco, o asterisco da injustiça.

Apesar de desrespeitar a máxima da equidade de condições entre todos os clubes participantes, a Liga dos Campeões dificilmente será cancelada. A ideia da Uefa é realizar a reta final da competição em agosto, após o encerramento dos campeonatos nacionais desta temporada.

Segundo o jornal "As", o plano da entidade é realizar as quartas de final em jogo único (para não prejudicar ainda mais os franceses) e criar um quadrangular final com quem passar para a semifinal. Essa espécie de "Super Champions" seria disputada em Istambul, na Turquia, que já estava prevista como palco para a decisão deste ano.

PSG, RB Leipzig, Atalanta e Atlético de Madri já estão classificados para as quartas. Os outros quatro confrontos das oitavas (Real Madrid x Manchester City, Chelsea x Bayern de Munique, Lyon x Juventus e Napoli x Barcelona) só tiveram as partidas de ida realizadas e ainda têm pendentes mais 90 minutos de futebol, cada.

Segundo informações da OMS (Organização Mundial de Saúde), a pandemia da Covid-19 já infectou mais de 4,7 milhões de pessoas em quase todos os países do globo. O número de mortes decorrentes da doença já ultrapassou a casa dos 318 mil.