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Rafael Reis

Como o Palmeiras mudou de cara para vencer Mundial e por que ficou no quase

Jogadores do Palmeiras lamentam derrota para o Manchester United na final do Mundial 1999 - Kimimasa Mayama/Reuters
Jogadores do Palmeiras lamentam derrota para o Manchester United na final do Mundial 1999 Imagem: Kimimasa Mayama/Reuters

01/06/2020 04h00

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Quem ainda tem na cabeça o Palmeiras campeão brasileiro de 2018 e se empolgou ao ver na televisão a conquista da Libertadores-1999, exibida ontem pela Globo, corre risco de ter uma grande surpresa se decidir assistir também à decisão do Mundial Interclubes daquele ano.

Tudo que falam sobre aquele jogo é verdade. Apesar da derrota por 1 a 0, a equipe alviverde foi melhor que o Manchester United, criou mais chances de gol e foi prejudicada pela arbitragem.

Mas, o que quase ninguém lembra é que, na tentativa de conquistar um título mundial "indiscutível", o Palmeiras abdicou completamente do estilo de futebol que marcou a carreira do seu treinador, Luiz Felipe Scolari.

Para fazer frente a um dos elencos mais poderosos da época, que contava com David Beckham, Paul Scholes e Ryan Giggs, entre outros, e ao badalado técnico Alex Ferguson, Felipão não foi Felipão.

As surpresas começaram logo na escalação. O centroavante bom no jogo aéreo e usado para a equipe ficar com a bola depois dos chutões (Oséas, em 1999, e Deyverson, em 2018) ficou no banco e o ataque teve dois velocistas: Paulo Nunes e o colombiano Faustino Asprilla.

Quando a bola rolou no Japão, ficou ainda claro que o Palmeiras havia estudado a fundo o United e montado um outro jeito de jogar bola mais propício a fazer danos no campeão europeu.

Os chuveirinhos, usados a rodo na campanha vitoriosa na Libertadores, quase não deram as caras. Os laterais Arce e Júnior subiram menos ao ataque. E o jogo fluiu muito mais pelo meio, com rápidas trocas de passe, do que pelos lados do campo.

Assim, adaptando às características do adversário, o Palmeiras foi superior ao United durante parte considerável dos 90 minutos. Só que esbarrou em dois problemas que o velho Felipão sabia que existiam e que o novo Felipão não conseguiu consertar.

O primeiro era a deficiência defensiva de Arce. Um dos jogadores mais importantes do time alviverde, o paraguaio era excepcional no ataque e também na bola parada, mas deixava a desejar na marcação.

No Mundial, o camisa 2 foi incapaz de segurar Giggs, que jogava aberto pela ponta esquerda. O galês participou de praticamente todas as ações ofensivas dos ingleses e criou o lance do gol de Roy Keane: aquele cruzamento com falha histórica de Marcos, que o irlandês empurrou para as redes.

Mas, além do erro lá atrás, o Palmeiras sofreu com a falta de um especialista na arte de fazer gols. Ele não existia em campo e nem mesmo no banco de reservas, já que Oséas não era tão goleador assim e Evair, já veterano, havia se tornado muito mais um criador de jogadas do que alguém que as concluía.

Essa deficiência já havia aparecido na Libertadores. E a prova disso é que o artilheiro do time na competição foi um zagueiro, Júnior Baiano, com cinco gols.

Se contasse com um goleador mais confiável, o Palmeiras possivelmente teria empurrado para as redes alguma das seis chances reais que criou durante a partida (o United só ameaçou de fato em três oportunidades). A mais impressionante delas, uma finalização de dentro da pequena área de Oséas que foi nas mãos do goleiro Mark Bosnich.

E aí, talvez não sentiria tanta falta do gol marcado por Alex, anulado em um impedimento que não existiu, e nem reclamaria do azar de ter dominado o United e, mesmo assim, sair de campo derrotado.

O Palmeiras que abriu mão do DNA de Felipão para ser campeão mundial cumpriu só metade do objetivo: jogou para isso, mas não conseguiu o título que hoje tanto atormenta seus torcedores nas redes sociais.