Torcidas organizadas já derrubaram ditadura no Egito: verdade ou lenda?
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Não é de hoje que torcidas de futebol desempenham um papel político. Nove anos atrás, as organizadas de Al Ahly e Zamalek, os dois clubes mais populares do Egito, juntaram suas forças contra o ditador Hosni Mubarak, conseguiram derrubá-lo e estabeleceram um regime democrático no país.
Bem, pelo menos é essa a história que vem circulando com força pelo Whatsapp e nas redes sociais do Brasil nos últimos dias, desde que grupos de torcedores organizados de vários times nacionais se reuniram para protestar contra o governo Bolsonaro e em prol da democracia.
Mas será que os ultras egípcios foram tão importantes assim no movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe? Ou será que essa é apenas mais uma das várias lendas urbanas que tanto sucesso fazem no mundo do futebol, como o autismo de Lionel Messi e a transexualidade de Marco Verratti?
Falar que os Ahlawy e White Knights, organizadas de Al Ahly e Zamalek, respectivamente, foram os responsáveis diretos pela derrubada do ditador que, ao lado do Exército, governou o Egito durante 30 anos é um pouco de exagero.
No entanto, é inegável que as torcidas de futebol participaram ativamente das ações de pressão popular que levaram Mubarak a renunciar e proporcionaram aos egípcios o direito de escolherem seu sucessor.
A prova disso é que, durante os protestos na praça Tahir, o que não faltavam eram manifestantes trajados com camisas dos dois clubes e equipados com bandeiras, faixas e outros tipos de utensílios que remetiam aos times ou às suas organizadas.
Quase uma década depois da eclosão da Primavera Árabe no Egito, ainda é impossível precisar qual foi o tamanho exato da responsabilidade dos ultras no movimento. Mas o que se imagina é que as manifestações tenham se aproveitado bastante das redes de comunicação já existentes entre os torcedores, principalmente no começo do movimento, para ganharem força e tomarem as ruas do Cairo.
E o que aconteceu no Egito depois da queda de Mubarak dá fôlego para essa versão.
Após o fim da ditadura, os habitantes do país norte-africano tiveram eleições diretas para presidente. Mas o vencedor do pleito, Mohamed Morsi, ocupou o cargo por apenas um ano antes de ser derrubado por um novo golpe militar.
Em fevereiro de 2012, enquanto uma junta militar governava o país à espera da eleição presidencial, ocorreu o desastre de Port Said, um massacre ocorrido durante confronto entre torcedores de Al-Ahly e Al-Masry, que matou 74 pessoas, quase todas apoiadoras do Al-Ahly.
Jogadores e dirigentes do clube acusaram que a briga foi, na verdade, uma emboscada planejada pelos militares como ato de vingança pela Primavera Árabe e alegaram que o fato de os policiais presentes no estádio não terem feito nada para evitar a tragédia era uma prova disso.
Em 2015, quem acusou o Exército de revanche foram os torcedores do Zamalek. Na semana em que os estádios egípcios reabriram para a presença de espectadores após três anos fechados ou com arquibancadas vazias, pelos menos 19 fãs da equipe morreram nos arredores da arena onde o clube se apresentaria.
A versão da polícia é que os apoiadores do clube estavam sem ingresso e se pisotearam ao tentar invadir o estádio à força. Já os fãs do Zamalek se disseram vítimas de uma armadilha e relataram ter sido atacados pela força militar.
Juntos, os dois clubes mais poderosos do Egito venceram 53 dos 60 campeonatos nacionais já disputados. O Al-Ahly tem 41 títulos, contra 12 do seu principal rival e, pelo menos desde o começo da década, aliado político.
No Brasil, integrantes da Gaviões da Fiel (Corinthians) e torcedores de alguma forma vinculados a Anatorg (Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil) realizaram no último fim de semana protestos em 14 Estados contra o presidente Jair Bolsonaro e em favor da democracia.
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