Topo

Rafael Reis

Boladas de ex-seleção mataram rival e cegaram fotógrafo: verdade ou lenda?

Branco, em ação pela seleção brasileira na Copa do Mundo-1994 - Getty Images
Branco, em ação pela seleção brasileira na Copa do Mundo-1994 Imagem: Getty Images

11/06/2020 04h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Lateral esquerdo da seleção brasileira em três edições da Copa do Mundo (1986, 1990 e 1994) e com passagem por clubes como Fluminense, Internacional, Grêmio, Corinthians e Flamengo, Branco ficou conhecido pelos mísseis que costumava disparar em cobranças de falta e com a bola rolando.

O alvo desses disparos era sempre a meta adversária, o que lhe rendeu alguns belos e memoráveis gols durante a carreira. No entanto, a força dos seus chutes também provocou algumas tragédias.

No segundo Mundial que disputou, Branco levou à morte um jogador adversário, tamanha a potência do petardo que saiu da sua perna esquerda. Quatro anos depois, na campanha do tetra, um fotógrafo ficou cego ao ser atingido por uma bola disparada pelo brasileiro.

Mas será que essas histórias, que circulam no boca a boca (e, de algum tempo para cá, também nas rede sociais) pelo país há 25, 30 anos são realmente verídicas? Ou será que são apenas mais algumas das várias lendas urbanas que tanto sucesso fazem no mundo do futebol, como o autismo de Lionel Messi e a transexualidade de Marco Verratti?

Para fazer um diagnóstico mais preciso sobre os acidentes provocados por Branco, é necessário inicialmente separar os dois casos.

Primeiro, vamos falar sobre 1990. O jogador que teria sido assassinado pelo brasileiro é o escocês Murdo MacLeod, que enfrentou a seleção na última rodada da fase de grupos do Mundial da Itália.

Durante a vitória por 1 a 0 do Brasil, o ex-meia do Celtic e Borussia Dortmund realmente foi nocauteado por uma pancada de Branco - uma cobrança de falta que atingiu aproximadamente 100 km/h e explodiu em sua cabeça.

MacLeod caiu desmaiado no gramado, foi prontamente atendido e acabou sendo transferido para um hospital. Lá, passou por exames que detectaram uma concussão cerebral. No entanto, ele se recuperou totalmente da lesão e jogou profissionalmente até 1997.

O escocês, que após a aposentadoria passou a trabalhar como comentarista esportivo na TV, em emissoras de rádio e também em jornais impressos, passou por uma cirurgia cardíaca em 2010, mas está vivo até hoje. Atualmente, tem 61 anos e ainda mora em seu país natal.

Já o acidente de 1994 não aconteceu exatamente durante a Copa, mas sim no último amistoso da seleção antes da estreia na competição: uma goleada por 4 a 0 sobre El Salvador, em Fresno, na Califórnia (EUA).

O fotógrafo Luciano Sitolini estava atrás do gol salvadorenho, fazendo a cobertura da partida para um jornal brasileiro, quando sua câmera, que estava encostada no rosto, foi atingida em cheio por uma bolada de Branco.

O estrago foi feio: ele precisou passar por uma cirurgia, levou nove pontos na parte interna do olho e perdeu dois dentes. Mas não perdeu a visão, ao contrário do que diz a lenda urbana bastante conhecida no Brasil, e nem morreu, como defende outra versão da história.

Sitolini, que abandonou a carreira após o acidente e até hoje mora nos Estados Unidos, ainda encontrou Branco depois daquele amistoso. Dias depois do ocorrido, ele visitou a concentração da seleção e foi presenteado com uma camisa e uma bola pelo seu involuntário agressor.