Por que Lazio, vice na Itália, é considerada o time mais fascista do mundo?
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Cantos racistas contra torcedores negros, críticas à diretoria por contratar jogadores de origem judia, proibição de presença feminina nos degraus de arquibancada mais próximas ao gramado e idolatria por um jogador que comemorou uma vitória fazendo um gesto eternizado pelo principal ditador da história da Itália.
Não é à toa que a Lazio, vice-líder do Campeonato Italiano e que tenta impedir o nono título nacional consecutivo da Juventus, carrega a fama de ser o clube de futebol mais fascista do mundo.
O time romano, que tem quatro pontos e um jogo a menos que a Velha Senhora na classificação do Calcio, faz hoje (24), contra a Atalanta, fora de casa, sua primeira partida desde o retorno da competição após a pandemia do novo coronavírus (Covid).
Os ultras, apoiadores mais radicais do clube e que realmente possuem envolvimento com grupos de extrema-direita, não poderão ir ao estádio, que estará com portões fechados. Mas, de dentro de suas causas, certamente estarão venerando aquele que consideram ser o torcedor mais ilustre do clube, Benito Mussolini.
Curiosamente, o pai do fascismo e comandante da Itália entre 1922 e 1943 não era tão fanático assim pela Lazio. Ele era tão torcedor do clube quanto do Bologna, da Roma (que, inclusive, ajudou a fundar) e de que qualquer outro time que lhe ajudou a utilizar o futebol como instrumento de propaganda do regime.
Mas nenhuma equipe abraçou tanto (e por tanto tempo) as ideias do ditador quanto a laziale. Resultado: Mussolini virou sócio da Lazio e passou a frequentar os jogos do clube, que só seria campeão nacional pela primeira vez em 1974, quase 30 anos após sua morte.
E o maior episódio dessa idolatria aconteceu já neste século. Em 2005, após uma vitória sobre a Roma, o ex-atacante Paolo di Canio, que sempre se declarou um admirador das ideias do ditador, festejou a vitória fazendo o "Saluto Romano", gesto tradicional adotado pelos fascistas em sinal de respeito ao "Duce".
O nome de Mussolini também aparece com alguma frequência em faixas exibidas pelos ultras da Lazio, torcedores que já foram punidos por usarem fotos de Anne Frank (criança judia que foi morta pelos nazistas e deixou um diário que se tornou best-seller global) para provocar a arquirrival Roma e incontáveis cânticos racistas.
Outro episódio marcante aconteceu no começo da década de 1990, quando o clube contratou o meia holandês Aron Winter. Primeiro negro a vestir a camisa da Lazio, ele também era descendente de judeus, o que irritou profundamente os torcedores mais radicais.
O ex-jogador passou quatro anos em Roma, período no qual teve que conviver com vaias e ofensas racistas vindas da própria torcida do clube que defendia, além de eventuais suásticas (o mais famosos símbolo nazista) estampadas em faixas e cartazes contra ele no estádio Olímpico.
Campeã italiana pela última vez há exatos 20 anos e longe da disputa da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa desde 2008, a Lazio estava vivendo uma temporada dos sonhos antes da pandemia.
O time dirigido por Simone Inzaghi e que conta com três brasileiros no elenco (Luiz Felipe, Lucas Leiva e André Anderson) ocupa a vice-liderança do Calcio e estava apenas um ponto atrás da Juventus quando a competição foi paralisada, em março.
Além disso, tem a melhor defesa da competição (só 23 gols sofridos), o artilheiro do país em 2019/2020 (Ciro Immobile, com 27 bolas nas redes) e já festejou um título na temporada, a Supercopa da Itália, conquistada justamente sobre a Juventus.
Os dois melhores times da Bota na atualidade ainda têm um encontro marcado na sequência da temporada. A possível "final antecipada" do Italiano será disputada no dia 20 de julho e valerá pela 34ª rodada do campeonato.
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