Por que não existem técnicos negros trabalhando na Champions?
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Kingsley Coman, francês de nascimento, mas filho de imigrantes do arquipélago caribenho de Guadalupe, fez o gol que deu o título da última Liga dos Campeões para o Bayern de Munique. Neymar, Kylian Mbappé, Presnel Kimpembe, Alphonso Davies, Serge Gnabry e David Alaba foram alguns dos outros negros que participaram há dois meses da decisão europeia.
Representatividade racial não está sendo um grande um problema nos gramados do torneio interclubes do planeta. De acordo com levantamento visual feito pelo "Blog do Rafael Reis", pelo menos 28% dos 949 jogadores inscritos na fase de grupos são negros.
Mas essa diversidade não consegue ultrapassar as quatro linhas do campo de jogo. Afinal, quando fazemos um raio-x dos treinadores envolvidos na corrida pela "Orelhuda", a situação é completamente diferente.
Todos os 32 técnicos à frente dos times que disputam a Champions nesta temporada têm exatamente o mesmo perfil: são homens de pele clara e sem nenhuma característica física muito evidente de antepassados pretos.
É isso mesmo: dentre todos os clubes que brigam pelo posto de melhor da Europa em 2020/2021 não há sequer um que tenha apostado suas fichas em um treinador negro.
Esse racismo estrutural não é exclusividade da Liga dos Campeões. Dentre os 98 técnicos que trabalham na primeira divisão dos cinco principais campeonatos nacionais do Velho Continente (Inglês, Espanhol, Italiano, Alemão e Francês), apenas três fogem do padrão racial dominante no mundo da bola.
Nascido em Senegal e campeão mundial com a seleção francesa em 1998, o ex-volante Patrick Vieira dirige o Nice. O português Nuno Espírito Santo, que é originário de São Tomé e Príncipe, comanda o Wolverhampton. E o Parma é dirigido por Fabio Liverani, italiano de família materna oriunda da Somália.
As três exceções não escondem um assunto que o futebol insiste em fingir que não existe, mas que os números provam que está encravado em seu DNA: o preconceito existente contra treinadores que não são brancos.
Já há várias décadas, os clubes mais importantes do planeta usam e abusam do talento negro na montagem dos seus elencos. Mas, quando é hora de escolher um nome para comandar esses jogadores, quase sempre fazem mais do mesmo e fogem da diversidade racial.
Alguns negros importantes da história recente do futebol mundial já detectaram esse problema e levantaram a voz contra o preconceito existente nos bancos de reservas.
No ano passado, o ex-atacante camaronês Samuel Eto'o, que brilhou por Barcelona e Inter de Milão, afirmou em entrevista ao francês Canal + que pensa em ser treinador, mas que é desmotivado pelo sistema a seguir essa carreira.
"Existem muitos treinadores africanos que possuem a credencial para treinar uma equipe [mas não são contratados]. Simplesmente, não existe confiança. Se desconfia [dos técnicos negros], somos vistos como seres de segunda classe", disse.
Já o ex-meia holandês Clarence Seedorf, um raro preto que dirigiu um time do primeiro escalão europeu (Milan), afirmou no começo do mês, ao site "Goal", que a tolerância com seu trabalho é menor por causa da cor da pele.
"Essa é uma luta que temos travado durante toda nossa carreira, porque nem sempre podemos provar o que estou dizendo porque é um sistema, é um racismo sistemático e escolhas. Mas para focar especificamente nos jogadores negros que querem se tornar treinadores e as oportunidades que eles têm, isto não é para ser comparado, você pode ir para uma lista de jogadores que jogaram no meu nível e não [estão] tendo a oportunidade".
A segunda rodada da fase de grupos da Champions será disputada entre hoje e amanhã. A não ser que exista alguma mudança de calendário nos próximos meses, o sucessor do Bayern no posto de campeão europeu será conhecido no dia 29 de maio, no estádio Olímpico Atatürk, em Istambul (Turquia).
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