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Rafael Reis

Sem vencer há quase um ano, Schalke se transforma em "Íbis" da Alemanha

Jogadores do Schalke 04 lamentam mais uma derrota no Campeonato Alemão - Lars Baron/Getty Images
Jogadores do Schalke 04 lamentam mais uma derrota no Campeonato Alemão Imagem: Lars Baron/Getty Images

06/01/2021 04h00

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Em 17 de janeiro do ano passado, Suat Serdar e Michael Gregoritsch marcaram os gols da vitória por 2 a 0 do Schalke 04 sobre o Borussia Mönchengladbach. O resultado alimentava os sonhos do time, então quinto colocado no Campeonato Alemão, de voltar à Liga dos Campeões da Europa e talvez até brigar pelo título.

O que o torcedor dos Azuis Reais não tinha como imaginar naquele dia é que ele passaria os próximos 11 meses e meio sem comemorar um outro triunfo do seu clube de coração na Bundesliga.

Desde então, o Schalke disputou mais 30 partidas pela primeira divisão do futebol tetracampeão mundial. Foram dez empates e 20 derrotas no período. Seu ataque marcou só 15 gols e sua defesa foi vazada incríveis 76 vezes.

A lista de vexames inclui ainda um 8 a 0 sofrido contra o Bayern de Munique na abertura desta temporada, duas goleadas por 5 a 0 e mais três por 4 a 0, além, é claro, da lantertinha da elite germânica em 2020/21, com só quatro pontos conquistados em 14 rodadas.

Se não vencer o Hoffenheim, no sábado, o Schalke irá igualar o recorde de maior sequência sem vitórias de um time na história da Bundesliga. Em 1966, o Tasmania Berlim conseguiu emendar 31 tropeços consecutivos, marca que era tratada como "impossível" de ser repetida até pouco tempo atrás.

Para piorar: caso não saia de campo com os três pontos no fim de semana, a equipe de Gelsenkirchen corre o risco de "comemorar" aniversário de um ano sem vencer. Afinal, seu compromisso seguinte, ante o Eintracht Frankfurt, está marcado para 17 de janeiro, exatos 365 dias depois do agora já "histórico" triunfo contra o Gladbach.

E o Schalke não é nenhum Íbis, um clube tão acostumado a perder que até já transformou os fiascos em campo em estratégia de marketing, como fazem os pernambucanos, que costumam se autointitular como o "pior time do mundo".

Pelo contrário, a equipe do Vale do Ruhr é uma das mais populares, poderosas e tradicionais da história da Alemanha. Apesar de não conquistar o campeonato nacional há mais de 60 anos, ela é a quarta maior vencedora da competição em todos os tempos, com sete títulos.

Só na década passada, os Azuis Reais disputaram cinco edições da Liga dos Campeões. E, em todas elas, conseguiram passar pela fase de grupos e chegaram pelo menos às oitavas de final. Em 2011, foram até as semifinais e pararam apenas no Manchester United.

O Schalke tem ainda uma das mais produtivas categorias de base da Alemanha. Foi do seu sistema de formação de jogadores que saíram nomes como Manuel Neuer e Leroy Sané (Bayern de Munique), Mesut Özil (Arsenal) e Julian Draxler (Paris Saint-Germain).

Mesmo tendo arrecadado mais de 250 milhões de euros (R$ 1,6 bilhão) só com venda de jogadores nos últimos dez anos, o clube acumula hoje uma dívida de mais de 200 milhões de euros (R$ 1,3 bilhão) e quase quebrou durante a pandemia.

Com dificuldades para honrar seus compromissos, o clube não consegue mais manter seus melhores jogadores e, consequentemente, manter um time competitivo.

O goleiro Alexander Nübel (Bayern) e o meia-atacante Daniel Caligiuri (Augsburg), dois dos melhores jogadores da equipe nas últimas temporadas, foram embora em fim de contrato e não renderam um centavo sequer ao Schalke. Já a revelação norte-americana Weston McKennie migrou para a Juventus, mas inicialmente apenas por empréstimo.

Com um elenco enfraquecido, o clube se acostumou com as derrotas, virou uma máquina de triturar técnicos (o suíço Christian Gross é o quarto homem diferente a comandar o time desde setembro), tem acumulado uma vergonha atrás da outra e pode voltar a ser rebaixado para a segunda divisão alemã depois de 30 anos consecutivos na elite.