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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Lobby europeu tirou espaço de técnicos brasileiros no exterior, diz ex-Flu

Alexandre Gama dirige o Buriram United, da Tailândia - Thananuwat Srirasant/Getty Images
Alexandre Gama dirige o Buriram United, da Tailândia Imagem: Thananuwat Srirasant/Getty Images

27/03/2021 04h00

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Até alguns anos atrás, encontrar treinadores brasileiros trabalhando no exterior era tarefa das mais simples. Alguns países, como Japão, Coreia do Sul, Qatar e Emirados Árabes, tinham seus bancos de reservas simplesmente dominados por "professores" do país mais vitorioso do futebol mundial.

Só que a situação mudou radicalmente de uns tempos para cá. Hoje em dia, mesmo no mercado asiático, dá para contar nos dedos os técnicos tupiniquins que conseguem arranjar um emprego longe das nossas fronteiras.

Para quase todo mundo, essa escassez de oportunidades é reflexo do processo de decadência vivido pela escola brasileira depois da conquista da Copa do Mundo 2002. Mas não é assim que pensa Alexandre Gama, ex-comandante das categorias de base do Fluminense que construiu a maior parte da sua carreira do outro lado do mundo.

"Estou na Tailândia há sete anos e sou o técnico mais importante do país. A gente sabe que, no mundo do futebol, os clubes costumam copiar o que está dando certo. Então, por que nenhum outro time daqui contrata um técnico brasileiro, mesmo com o sucesso que eu faço?", questiona, em entrevista por telefone ao "Blog do Rafael Reis".

De acordo com o treinador, que já levantou 12 taças desde que chegou ao país e atualmente dirige o Buriram United, a perda de espaço dos treinadores brasileiros no mercado internacional, sobretudo no asiático, é culpa de uma forte campanha de lobby feita pelos europeus.

"Eles vieram para cá atrás de dinheiro e logo perceberam que a melhor forma de garantir que sempre teria espaço para eles trabalharem por aqui seria construir políticas de reserva de mercado", explica.

Segundo Gama, associações europeias passaram a ceder não apenas técnicos, mas também dirigentes para trabalhar nas mais variadas federações nacionais asiáticas. E, uma vez no poder, esses cartolas começaram a "colocar regras que dificultam muito a vida dos brasileiros" e ajudam seus compatriotas.

A principal delas é a obrigatoriedade da apresentação da licença de treinador emitida pela Uefa para trabalhar em alguns campeonatos nacionais da Ásia, algo que poucos brasileiros possuem, já que normalmente eles são formados "na prática" ou em cursos feitos dentro do próprio país.

"Quando eu estava no Qatar, consegui subir para a primeira divisão [com o Al-Shahaniya]. Então, me avisaram que eu só poderia trabalhar na elite se tivesse uma licença da Uefa. Eu achei um absurdo porque tinha a licença asiática, mas não adiantava. Meu irmão chegou a mandar uma reclamação formal para o Itamaraty. De tanto que reclamei e por causa do meu currículo, eles acabaram cedendo", relembra.

Além de Tailândia e Qatar, Gama também trabalhou no futebol dos Emirados Árabes e na Coreia do Sul, onde chegou a ser auxiliar da seleção. No Brasil, ele dirigiu interinamente o Flu e comandou Inter de Limeira, Macaé, Volta Redonda e Madureira.

"Não estou falando que os europeus estão errados. Eles tiveram uma visão muito boa e acabaram tomando conta do futebol. Acho que a CBF tinha que fazer a mesma coisa, vir para o exterior e, assim, melhorar as oportunidades de trabalho dos técnicos brasileiros."

Apesar das ideias defendidas por Gama, os treinadores brasileiros têm enfrentado um cenário negativo até mesmo dentro do seu próprio país. No ano passado, sete dos 20 times da primeira divisão (Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras, Santos, Internacional, Vasco e Botafogo) recorreram em algum momento a técnicos estrangeiros.

Além disso, as duas temporadas mais recentes no futebol nacional foram dominadas por clubes sob comando de mentes portuguesas. Em 2019, o Flamengo, de Jorge Jesus, ganhou a Libertadores e a Série A. No ano seguinte, foi a vez do Palmeiras, de Abel Ferreira, faturar o título continental e também vencer a Copa do Brasil.