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Há 70 anos, liga pirata também peitou Fifa e levou Di Stéfano para Colômbia
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O anúncio da criação da Superliga europeia caiu como uma bomba no mundo do futebol. Doze dos clubes mais poderosos do planeta simplesmente anunciaram que pretendem deixar de disputar a Liga dos Campeões para jogar anualmente um torneio organizado por eles mesmos e sem critérios esportivos na definição dos participantes.
Assim que a competição foi anunciada, Fifa e Uefa já emitiram comunicados de descontentamento com a ideia. As entidades também fizeram inúmeras ameaças aos times e jogadores que embarcarem nesse processo de ruptura.
O que pouca gente sabe é que essa não é a primeira vez que as organizações que gerenciam com o futebol mundial são atacadas pela criação de uma liga pirata. Há pouco mais de 70 anos, a Colômbia rompeu com o sistema, organizou um campeonato nacional clandestino e conseguiu contratar alguns dos principais craques do planeta na época.
Em 1948, o empresário Alfonso Senior, recém-empossado presidente do Millonarios de Bogotá, viu na greve de jogadores que assolava a Argentina e na crise econômica que tomava conta da Europa no pós-Segunda Guerra Mundial a oportunidade perfeita para fazer o futebol colombiano decolar.
Com apoio de outros empresários endinheirados do país, criou um campeonato nacional desvinculado da Federação Colombiana de Futebol (e, consequentemente, da Fifa) e com salários muito mais altos do que as outras nações costumavam pagar.
Como não precisava respeitar as regras globais da modalidade, a División Mayor (ou Dimayor, como ficou mais conhecida) também aboliu o limite de jogadores estrangeiros por time e a necessidade de pagamento de indenização aos clubes cujos atletas resolvessem migrar para a nova liga.
Considerando-se livres das amarras contratuais com os clubes que então defendiam (o famoso passe), vários atletas do primeiro escalão do futebol sul-americano passaram a tratar a Colômbia como um eldorado onde poderiam ganhar muito dinheiro.
Boa parte dos jogadores do River Plate, o time mais forte do continente na década de 1940, abandonou a Argentina para jogar na "liga pirata". Entre eles estavam dois dos maiores craques da equipe: Alfredo Di Stéfano e Adolfo Pedernera, que foram para o Millonarios.
A liga colombiana também atraiu alguns dos campeões da Copa do Mundo-1950 com a seleção uruguaia e um ou outro europeu -a dupla formada por Charles Mitten (ex-Manchester United) e Neil Franklin (ex-Stoke City) vestiu as cores do Independiente Santa Fé.
Dentre os brasileiros, o nome mais conhecido que se aventurou no campeonato "ilegal" da Colômbia foi Heleno de Freitas. Um dos primeiros grandes ídolos do Botafogo, trocou o Vasco pelo Junior de Barranquilla. Lá, caiu nas graças do escritor Gabriel García Márquez, que se apaixonou pelo futebol do atacante.
A farra organizada por Senior durou apenas três temporadas. Em 1951, pressionada pela Fifa e por clubes de outros países, a Federação Colombiana reconheceu a Dimayor como um autêntico campeonato nacional e colocou ordem na casa.
Os jogadores que haviam sido contratados ilegalmente teriam de ser devolvidos aos seus antigos clubes em um prazo de no máximo três anos. E os times que continuaram disputando a competição tiveram de começar a respeitar as regras contratuais normais na hora de buscar reforços.
Depois da liga colombiana, nenhum outro campeonato organizado à revelia da Fifa conseguiu ter o mesmo impacto. Mas isso não significa que eles deixaram de acontecer. Em 2011, a entidade entrou em pé de guerra com a Indonésia por causa da criação de uma competição alternativa.
Agora, a briga promete ser mais pesada. Afinal, o "campeonato pirata" tem a chancela dos clubes que integram o primeiro escalão do futebol mundial, contam com boa parte dos melhores jogadores do planeta e com um número para lá de expressivo de torcedores.
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