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Seleção nômade, Afeganistão não disputa partida oficial em casa há 18 anos
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Novamente sob comando do grupo radical islâmico Taleban, que tomou a capital Cabul no último fim de semana, o Afeganistão praticamente não teve momentos de paz para poder jogar futebol neste século.
A seleção asiática, apenas a 153ª colocada no ranking da Fifa, passou as duas últimas décadas sendo acolhida por outros países do continente e não disputa uma partida oficial em casa há 18 anos.
A última vez que os afegãos mandaram um jogo de competição no seu próprio território foi nas eliminatórias da Copa do Mundo-2006. Em 23 de novembro de 2003, eles receberam o Turcomenistão e perderam por 2 a 0 (já haviam sido derrotados por 11 a 0 na partida de ida).
E a partida só pôde ser disputada no estádio Nacional de Cabul, o principal do país, porque a região estava sob forte proteção do exército norte-americano, que vivia a fase de "Guerra ao Terror" no Oriente Médio pós-atentados de 11 de setembro de 2001.
Mas os EUA nunca conseguiram de fato levar paz ao Afeganistão. Sem segurança para poder continuar mandando jogos em casa, a modesta seleção teve de buscar alternativas para continuar se mantendo em atividade no cenário internacional do futebol.
Amparados pela Fifa, os afegãos viraram nômades. Nas eliminatórias das Copas de 2010 e 2014, jogaram como mandantes no vizinho Tadjiquistão. Já no qualificatório do Mundial de 2018, sua sede foi o Irã. E no de 2022, alternaram-se entre o Qatar e novamente o Tadjiquistão.
Além disso, também disputaram partidas de torneios regionais ou continentais em Bangladesh, Nepal, Paquistão, Quirguistão, Sri Lanka, Malásia, Laos e nas Maldivas.
Apesar de pouco expressiva no cenário internacional, a seleção afegã até conquistou um título no meio dessas excursões para o exterior. Em 2013, venceu pela primeira vez o campeonato da Federação de Futebol do Sul da Ásia (SAFF), jogado no Nepal, com uma vitória por 2 a 0 sobre a Índia na decisão.
Durante esses 18 anos de afastamento, o Afeganistão só pode disputar dois amistosos em casa. As partidas contra o Paquistão (3 a 0, em 2013) e Palestina (0 a 0, em 2018) serviram principalmente como teste de segurança para avaliar se a equipe poderia retornar definitivamente para casa, o que nunca aconteceu.
Mesmo sem poder receber seleções estrangeiras para partidas oficiais, o país conseguiu manter entre 2012 e 2020 um campeonato nacional disputado anualmente. Na temporada passada, oito times participaram da competição, que teve o Shaheen Asmayee como campeão.
Só que o grosso da equipe nacional do Afeganistão continua sendo formada por jogadores que vivem em outros cantos do mundo, longe dos perigos da guerra e com melhores condições para desenvolver suas habilidades esportivas.
Dos 26 integrantes da última convocação da seleção, apenas quatro jogavam no próprio país. E nove nasceram no exterior. São filhos ou netos de refugiados e emigrantes que foram para longe em busca de paz.
Dois dos jogadores que atualmente defendem o time asiático são norte-americanos de berço. Os irmãos Adam e David Najem nasceram e cresceram no estado de New Jersey e tiveram de lidar durante a vida toda com o estigma de pertencerem à comunidade afegã nos EUA.
O exército norte-americano ocupou o Afeganistão para lutar contra o Taleban logo depois dos atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, e permaneceu durante duas décadas por lá.
Neste ano, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que trará suas tropas de volta para a América. Antes mesmo da retirada ficar completa, o grupo extremista voltou a crescer, recuperou territórios perdidos e retomou a capital, gerando um pesado cenário de incertezas na região.
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