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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Seleção novata na Copa Africana tem só 2 jogadores nascidos no próprio país

Seleção de Comores disputa pela 1ª vez a Copa Africana - Divulgação
Seleção de Comores disputa pela 1ª vez a Copa Africana Imagem: Divulgação

10/01/2022 04h00

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O lateral direito Abdallah Ali Mohamed e o atacante Ibrahim Djoudja são os "estranhos no ninho" na seleção de Comores, que disputa pela primeira vez na história a Copa Africana de Nações.

Dos 28 jogadores convocados para o torneio continental, apenas o defensor do Lausanne (Suíça) e o centroavante do TS Sporting (África do Sul) nasceram na minúscula ilha do Oceano Índico, cuja população não chega nem a 900 mil pessoas.

Todos os outros atletas que estreiam hoje na competição mais importante que a seleção comorense já disputou, contra o Gabão, a partir das 16h (de Brasília), foram importados da França.

Com falta de material humano para montar um time minimamente competitivo se usasse apenas habitantes ou ex-habitantes da ilha, o técnico Amir Abdou (que também é francês e descendente de comorenses) passou os últimos sete anos à caça de filhos ou neto de imigrantes do país africano para reforçar seu elenco.

Muitos deles sequer sabiam que a terra dos seus antepassados contava com uma seleção de verdade (Comores só foi aceita como filiada da Fifa em 2005). Outros achavam uma grande fria embarcar em uma equipe de resultados tão modestos, que chegou a ocupar a 187ª colocação do ranking da Fifa na década passada.

"É muito difícil para um país pequeno, apenas com um projeto, fazer com que jogadores digam: 'quero defender Comores'. Nós não tínhamos muita coisa para oferecer", afirmou Abdou, em entrevista à CNN.

O primeiro "estrangeiro" a dizer sim para o convite do treinador foi o meia Fouad Bachirou, um jogador formado nas categorias de base do Paris Saint-Germain e que, em 2014, quando foi contatado, atuava no futebol sueco. Até hoje, ele continua fazendo parte da seleção.

Aos poucos, Abdou foi conseguindo reforços mais pesados. O goleiro Ali Ahamada (ex-Toulouse) e o meia Rafidine Abdullah (ex-Olympique de Marselha) passaram pelas seleções de base da França antes de jogarem por Comores. E o atacante El Fardou Ben Nabouhane já disputou partidas da Liga dos Campeões da Europa por Olympiakos e Estrela Vermelha.

Os resultados melhoraram junto com o nível técnico do elenco. Depois de chegar a amargar nove partidas consecutivas sem vencer nos primeiros anos do trabalho do seu treinador atual, Comores agora mais ganha do que perde e já chegou a aplicar até mesmo uma goleada por 7 a 1 (contra Seychelles, em setembro).

A inédita vaga para a Copa Africana foi conquistada com a segunda colocação em um grupo com Egito e Togo (ambos com participações em Mundiais), além do Quênia. No torneio continental, a seleção estreante tem Gabão, Gana e Marrocos como adversários na primeira fase.

Inicialmente programada para o começo do ano passado, a Copa Africana foi adiada em 12 meses por conta da pandemia da covid-19 e está sendo disputada até o dia 6 de fevereiro.

Esse é o último torneio de seleções relevante no cenário internacional antes do Mundial do Qatar, que acontecerá entre novembro e dezembro. Cinco nações africanas terão vaga na competição, mas nenhuma delas foi definida até o momento.

A CAN é jogada desde 1957 e tem o Egito como maior campeão. A equipe do craque Mohamed Salah, um dos finalistas do prêmio de melhor jogador do mundo na temporada passada, já levou a taça sete vezes, a última em 2010.

A Argélia é a atual detentora do posto de melhor seleção do continente. Em 2019, ela faturou o segundo título da sua história ao derrotar Senegal (de Sadio Mané, companheiro de Salah no Liverpool) na decisão.