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Por que o futebol brasileiro acredita que só Portugal produz bons técnicos?
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Na virada do ano, o Flamengo entrevistou vários treinadores até se decidir pela contratação de Paulo Sousa. Entre os nomes com quem a diretoria rubro-negra conversou, estavam profissionais adeptos de um futebol propositivo, outros que curtem um jogo reativo e ainda alguns de perfil mais motivacional. Apenas uma característica unia todos eles: a nacionalidade portuguesa.
O Corinthians está seguindo a mesma linha desde que demitiu Sylvinho, há duas semanas e meia. Quase todos os nomes imaginados pelo comando do clube alvinegro, inclusive o escolhido Luís Castro (que ainda não foi anunciado), vêm do mesmo lugar: a antiga metrópole do Brasil.
O sucesso feito por Jorge Jesus (Flamengo) e Abel Ferreira (Palmeiras), que venceram as últimas três edições da Libertadores à frente de equipes tupiniquins, abriu as portas do futebol brasileiro para os técnicos lusos.
Até aí, não há nenhum problema (muito pelo contrário, afinal esse intercâmbio é bastante valioso até para os profissionais daqui).
Só que para tudo há um limite. E o lado negativo dessa moda que está se tornando obsessão é que já há clubes, dirigentes e torcedores no Brasil que acreditam que só Portugal produz grandes treinadores. Por isso, importar um professor da terra de Cristiano Ronaldo é visto sempre como a melhor opção.
É claro que há fatores que facilitam a adaptação de um treinador português no Brasil e aumentam suas chances de fazer sucesso desse lado do Oceano Atlântico. O primeiro é óbvio: a língua, o que facilita demais a comunicação.
Mas existe também o costume de trabalhar com jogadores do futebol pentacampeão mundial, já que Portugal é o país que mais contrata compatriotas de Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo (são 125 só nesta temporada da sua primeira divisão).
O que muitos brasileiros têm esquecido é que nem todos os treinadores lusos são "diferenciados" e, muito menos, a melhor opção para seus clubes. Ricardo Sá Pinto e António Oliveira, por exemplo, passaram recentemente por Vasco e Athletico-PR e de lá foram embora sem deixar grandes marcas.
Além disso, há outros lugares no mundo capazes de produzir "professores" tão bons ou até melhores do que aqueles que vêm da terrinha. Isso sem contar que nem sempre ir atrás de um estrangeiro é mesmo a escolha mais adequada.
Ainda que esteja em alta como jamais antes esteve no cenário internacional da bola e que tenha espalhado suas crias por clubes importantes da Europa, Portugal ainda passa longe de ser a escola "número um" de técnicos do planeta.
Nos últimos 30 anos, somente três treinadores portugueses conseguiram o título de alguma das cinco principais ligas nacionais do Velho Continente. José Mourinho foi campeão inglês (2004/05, 2005/06 e 2014/15), espanhol (2011/12) e italiano (2008/09 e 2009/10), Artur Jorge levantou o título na França (1993/94) e Leonardo Jardim também venceu a Ligue 1 (2016/17).
Técnicos alemães, espanhóis, franceses, italianos e holandeses tiveram desempenho muito superior no período. Só que eles quase nunca são especulados por aqui (a passagem do catalão Domènec Torrent pelo Flamengo, em 2020, foi uma rara exceção).
Os argentinos, que tanto sucesso fazem em toda a América do Sul e que têm trabalhos importantes na Europa (Diego Simeone já ganhou dois títulos espanhóis com o Atlético de Madri e Mauricio Pochettino lidera o Paris Saint-Germain), também ficaram em segundo plano.
Antonio Mohamed, por exemplo, só dirige o Atlético-MG porque Jorge Jesus não quis vir para o campeão brasileiro. Já Juan Pablo Vojvoda comanda o Fortaleza porque seria difícil para o clube cearense, de orçamento inferior aos gigantes do país, bancar um salário balizado pelo valor do euro, como é o dos portugueses.
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