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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por conflito com a Rússia, Shakhtar não pode jogar em casa desde 2014

Dodô é um dos jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia - Stanislav Vedmid/Getty
Dodô é um dos jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia Imagem: Stanislav Vedmid/Getty

25/02/2022 04h00

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Treze vezes campeão ucraniano, vencedor de uma edição da Copa da Uefa (hoje Liga Europa) e casa de algumas dezenas de jogadores brasileiros ao longo das últimas duas décadas, o Shakhtar Donetsk carrega o nome da sua cidade.

Mas o fato é o clube que se tornou conhecido por ser o "mais brasileiro do futebol europeu" já não tem o direito de mandar seus jogos em Donetsk há quase oito anos. E a culpa é de um conflito com a Rússia.

Em 2014, quando o governo de Vladimir Putin patrocinou seus primeiros ataques ao território ucraniano, o Shakhtar ficou sem casa. Seu estádio, a Donbass Arena, foi bombardeado nos confrontos armados entre o exército ucraniano e as forças separatistas pró-Rússia.

Sem-teto, a equipe do uniforme laranja e preto já teve três casas provisórias desde então. Primeiro, começou a mandar seus jogos em Lviv (a mais de 1.000 km de Donetsk). Em 2017, mudou-se para Kharkiv. E, desde o fim da temporada 2019/20, joga na capital Kiev.

A cidade onde o Shakhtar nasceu e viveu durante as primeiras oito décadas da sua história é a mais importante de Donbass, uma das duas regiões que o governo russo reconheceu como independente no começo da semana.

Antes mesmo dos novos conflitos armados na Ucrânia, Putin já defendia que a região de Donetsk era mais russa do que ucraniana, já que abrigava muitas famílias que ficaram "presas" por lá depois da dissolução da União Soviética.

Foi por Donbass, aliás, que o governo russo deu início ontem aos ataques contra o território ucraniano. Nas palavras dele, a operação na região tinha como objetivo defender o povo separatista dos "oito anos de genocídio" provocados por Kiev.

Mas a guerra não ficou restrita à área onde fica Donetsk. Segundo o governo da Ucrânia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o exército da Rússia está praticando uma "invasão total" ao país e bombardeou várias cidades de diferentes regiões.

Ontem, os jogadores brasileiros e integrantes de comissão técnica que trabalham no Shakhtar e no Dínamo de Kiev, os dois clubes mais importantes de lá, gravaram um vídeo em conjunto pedindo ajuda ao governo brasileiro para deixar em segurança o país.

Atualmente, 13 jogadores nascidos no Brasil defendem o Shakhtar (um deles, o centroavante Júnior Moraes, é naturalizado ucraniano). Os nomes mais conhecidos são os meias Maycon e Alan Patrick, o meia-atacante Pedrinho e o atacante David Neres. Já o Dínamo conta com o meia-atacante Vitinho.

Por conta do conflito, o Campeonato Ucraniano foi suspenso. Com 18 das 30 rodadas inicialmente previstas já disputadas, o Dínamo tem 47 pontos e ocupa a liderança da liga. O Shakhtar aparece na sequência, com 45.

Todos os clubes ucranianos que disputavam competições continentais nesta temporada (Liga dos Campeões, Liga Europa e Conference League) já estão eliminados, o que libera a Uefa de precisar tomar uma decisão sobre realocação de partidas.

A seleção da Ucrânia ainda disputa uma vaga na Copa do Mundo, mas já não atuaria como mandante na repescagem das eliminatórias.

O time comandado por Oleksandr Petrakov tem mais duas partidas pela frente na corrida para participar do Qatar-2022. No dia 24 de março, vai enfrentar a Escócia, em Glasgow. Caso ganhe, jogará a classificação contra o vencedor do confronto entre Gales e Áustria, novamente na casa do seu adversário.