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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Como Roman Abramovich, de saída do Chelsea, transformou o futebol mundial

Roman Abramovich ainda é dono do Chelsea, mas clube está à venda - Ian KINGTON / AFP
Roman Abramovich ainda é dono do Chelsea, mas clube está à venda Imagem: Ian KINGTON / AFP

05/03/2022 04h00

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A invasão da Ucrânia pelo exército russo e as consequentes sanções aplicadas pelos países do Ocidente a pessoas e empresas que possuem alguma ligação com Vladimir Putin vão tirar Roman Abramovich do Chelsea. E, com isso, também encerrar uma história que foi essencial para a construção do cenário atual do futebol mundial.

O magnata de 55 anos já anunciou seu afastamento da administração do atual campeão da Liga dos Campeões da Europa e, nesta semana, também colocou à venda as ações do clube do qual é dono desde 2003.

Ao longo dos últimos 19 anos, o russo transformou uma equipe que quase nunca era campeã (havia conquistado só um título inglês em quase um século de história) em uma das maiores potências do planeta.

Na "era Abramovich", o Chelsea venceu cinco edições do Campeonato Inglês, a liga nacional mais rica e badalada do planeta, e duas Champions. Mais que isso: influenciou outros bilionários e grupos de investidores cheios da grana a entrar no futebol e seguir a mesma fórmula.

Manchester City (família real de Abu Dhabi) e Paris Saint-Germain (governo do Qatar) provavelmente não seriam hoje forças do primeiro escalão europeu se não fosse o Chelsea bancado pelo dinheiro russo.

É claro que Abramovich não foi o primeiro endinheirado a transformar a história de um time de futebol. Corrado Ferlaino fez isso com o Napoli (de Diego Maradona) na década de 1980. A Parmalat repetiu a dose com o Parma nos anos 1990. E houve tantos outros inúmeros casos.

Mas, até a chegada ao Chelsea do bilionário que enriqueceu com a dissolução da União Soviética e que participou da ascensão de Putin ao poder, o perfil mais comum de dono de um clube de futebol na Europa era aquele do "endinheirado" da própria comunidade que resolvia investir na sua equipe de coração.

Não era o caso de Abramovich. Ele era um estrangeiro, com passado bem suspeito e repleto de manchas não muito bem identificadas, que viu no futebol uma oportunidade de, não só ganhar mais dinheiro, como também melhorar sua imagem no país onde escolheu viver, a Inglaterra.

E com um detalhe essencial: tinha muito mais dinheiro do que quase todos os proprietários de clubes adversários. Não à toa, gastou 2,3 bilhões de euros (R$ 12,8 bilhões) em reforços desde 2003 e fez do Chelsea o time do planeta inteiro que mais torrou dinheiro no Mercado da Bola no período.

Para fazer frente à dinheirama dos londrinos, os outros clubes tiveram de se render também a donos cada vez mais ricos e passaram a entregar seu comando para gente sem vínculo anterior com futebol: fundos de investimento (norte-americanos, na maioria das vezes) ou bilionários polêmicos ligados a países do Oriente.

Com isso, o fosso existente entre os times mais ricos (justamente aqueles que contam com esses financiadores a la Abramovich) e os não tão abastados assim cresceu consideravelmente, o que diminui bastante a ocorrência de zebras nos campeonatos nacionais e continentais da Europa.

O Chelsea iniciou a rodada deste fim de semana da Premier League inglesa na terceira colocação, com 50 pontos conquistados em 25 partidas. O líder Manchester City, que já jogou 27 vezes, tem 16 pontos a mais. Entre eles, ainda há o Liverpool (60 pontos).

Os "Blues" também estão com meio caminho andado para chegarem novamente às quartas de final da Champions. A equipe londrina derrotou o Lille por 2 a 0, no confronto de ida das oitavas e pode perder até por um gol de diferença na França, no dia 16, que ainda obtém a classificação.