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Como Putin usou o futebol (e o esporte em geral) para consolidar seu poder
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Benito Mussolini levou a Copa do Mundo-1934 para a Itália. Adolf Hitler fez questão de organizar os Jogos Olímpicos de Berlim-1936. E monarquias do Oriente Médio não param de investir na compra de clubes de futebol na Europa.
A cartilha dos governos autocratas e/ou autoritários é clara: colocar dinheiro no esporte (especialmente no futebol, a modalidade mais popular do planeta) é uma forma das mais eficazes de melhorar sua imagem no cenário internacional e obter validação externa para regimes que normalmente não gozariam de simpatia fora das suas fronteiras.
E esse mandamento foi seguido à risca por Vladimir Putin, o presidente da Rússia e líder da ofensiva contra a Ucrânia, que já dura uma semana e meia e tem deixado muita gente temerosa com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.
No comando da nação de maior extensão territorial do planeta, o autocrata recebeu uma Copa do Mundo (2018) e uma edição dos Jogos Olímpicos de inverno (Sochi-2014), colocou seu país no calendário da F-1 e sediou Mundiais das mais variadas modalidades.
Foi também durante seu governo que a Rússia protagonizou um escândalo de doping em massa amparado pelo Estado para obter melhores resultados esportivos, o que tirou dos atletas russos o direito de competir sob sua bandeira na Olimpíada de Tóquio, no ano passado.
No futebol, a atuação de Putin não ficou restrita a sediar um Mundial. O presidente incentivou que oligarcas e velhos aliados seus saíssem pela Europa comprando clubes que consequentemente carregariam o nome da Rússia para além das suas fronteiras.
O caso mais conhecido é o de Roman Abramovich, magnata que enriqueceu com a dissolução da União Soviética e foi um dos articuladores que o presidente ao poder, que adquiriu o Chelsea em 2003 e o transformou em um poderoso time com dois títulos da Liga dos Campeões da Europa.
Putin também fez tudo que estava ao seu alcance para tentar fazer do Zenit São Petersburgo, uma espécie de equipe oficial do seu regime, em potência de relevância internacional. O clube, que só tinha um título nacional, antes da chegada do seu torcedor ilustre ao poder, foi comprado em 2005 pela Gazprom, a maior estatal da Rússia.
Cheio da grana, ganhou sete edições do Campeonato Russo desde então. Também venceu uma Copa da Uefa (hoje chamada de Liga Europa, em 2007/08) e chegou duas vezes aos mata-matas decisivos da Liga dos Campeões).
O presidente também encheu de incentivos o Krasnodar, que pertence ao ex-enxadrista Sergey Galitsky, outro dos seus aliados. O clube já nasceu durante o governo Putin, não precisou passar pelas ligas amadoras que formam a divisão mais baixa do futebol russo e conseguiu até se classificar para uma edição da Champions.
A comunidade futebolística tem promovido ações de boicote em massa contra a Rússia por conta da guerra na Ucrânia.
O país foi suspenso por tempo indeterminado pela Fifa e pela Uefa, o que tirou da seleção o direito de disputar a repescagem das eliminatórias da Copa-2022 e dos seus clubes a possibilidade de participar das competições europeias da próxima temporada (caso a sanção dure até lá).
Além disso, a sede da decisão da atual edição da Champions foi tirada de São Petersburgo e levada para Saint-Denis, nos arredores de Paris.
Vários clubes de outros cantos da Europa que possuem algum vínculo com a Rússia também estão fazendo de tudo para cortar essa conexão. O Schalke 04, da segunda divisão da Alemanha, rompeu contrato com a Gazprom, que era sua principal patrocinadora.
Mas o caso de maior repercussão vem da Inglaterra, que tem aplicado fortes sanções aos russos com negócios no país. Abramovich se afastou da administração do Chelsea e resolveu também colocar o clube à venda para empresários/fundos de investimento que não sejam russos.
Ao contrário do Campeonato Ucraniano, que está paralisado em virtude da guerra, o futebol na Rússia segue a pleno vapor e teve sua rodada do último fim de semana disputada normalmente. O Zenit, o time oficial de Putin, lidera a disputa com 44 pontos conquistados em 20 partidas.
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