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Rafael Reis

REPORTAGEM

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A história do lateral do Galatasaray dado como cego que voltou a jogar

Omar Elabdellaoui precisou passar por 11 cirurgias para recuperar a visão e voltar a jogar - Divulgação
Omar Elabdellaoui precisou passar por 11 cirurgias para recuperar a visão e voltar a jogar Imagem: Divulgação

13/03/2022 04h00

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"Você nunca voltará a enxergar como antes e provavelmente não conseguirá voltar a jogar futebol profissionalmente."

Não foi apenas uma ou duas vezes que o lateral direito norueguês Omar Elabdellaoui, do Galatasaray, ouviu esse diagnóstico de algum médico depois da mais trágica comemoração de Réveillon da sua vida.

Na virada de 2020 para 2021, o jogador resolveu soltar fogos de artifício para celebrar a entrada no novo ano. Só que um dos rojões explodiu próximo ao seu rosto. Fragmentos do artefato entraram nos olhos e provocaram lesões semelhantes a queimaduras de terceiro grau nos seus globos oculares.

"Eu só sentia que tinha algo no meu olho e que precisava limpá-lo até que notei que meu rosto estava queimando por completo. Tudo ficou preto", relatou Ellabdellaoui, em entrevista ao jornal britânico "Guardian".

"Nos primeiros dias, eu não tinha nenhum tipo de controle. Tudo estava escuro, e eu não sabia se era dia ou noite. O tempo virou algo irrelevante. Só percebia que tinha muita gente e barulho. As vozes ficam muito mais altas quando você ouve tudo e não consegue ver. Por isso, sentia muito medo."

Os diagnósticos também não ajudavam. Enquanto seu olho esquerdo dava sinais de melhora (depois de alguns dias, o lateral começou a notar um feixe de luz na sua visão), o direito não reagia. A possibilidade de ter de encerrar a carreira prematuramente, aos 29 anos, parecia uma realidade da qual não haveria como escapar.

Levado aos Estados Unidos para se consultar com o médico Edward Holland, pioneiro no transplante de córnea, recebeu um prognóstico ligeiramente mais animador: a chance de recuperar a visão do olho direito era de 5% a 10%.

Foi o suficiente para Ellabdellaoui se encher de esperança e mergulhar no tratamento.

Durante os seis meses seguintes, o norueguês foi submetido a 11 cirurgias. "Foi o paciente mais motivado que já vi. Sua perseverança para recuperar a visão inspirou a mim e a minha equipe. Ele pularia no meio de círculos de fogo se pedíssemos", disse Holland.

Todo o esforço foi recompensado no dia 21 de fevereiro. Treze meses depois do acidente que o deixou cego durante algum tempo e que por pouco não antecipou o fim da sua carreira, Ellabdellaoui voltou aos gramados e, de cara, já participou dos 90 minutos da vitória por 3 a 2 sobre o Göztepe, pelo Campeonato Turco.

Desde então, o lateral norueguês já participou de outros dois jogos. No momento, a única diferença perceptível entre ele e os outros jogadores do clube turco que tem utilizado durante os treinos e partidas para proteger os olhos e evitar que boladas ou cotoveladas produzam novas lesões no local.

Treinado pelo espanhol Domènec Torrent, aquele mesmo que substituiu Jorge Jesus e dirigiu o Flamengo durante três meses e meio em 2020, o Galatasaray faz uma campanha desastrosa no futebol turco.

Apesar de ser o maior campeão da história do seu país (22 anos), o clube entrou na rodada deste fim de semana da primeira divisão nacional ocupando apenas a 12ª colocação e muito mais próximo da zona de rebaixamento (oito pontos) do que do líder da competição, o Trabzonspor (32 pontos).

O adversário de amanhã é o Besiktas, outro integrante do "trio de ferro" da Turquia, que também está longe de viver seus melhores momentos (é o sétimo na tabela de classificação).

A temporada só não está 100% trágica porque o Galatasaray já está nas oitavas de final da Liga Europa. E, com o empate sem gols conquistado contra o Barcelona, na Catalunha, na semana passada, está a uma vitória simples de avançar para a próxima fase. O confronto de volta, em Istambul, está marcado para quinta-feira.