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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Como o City transformou um time da 2ª divisão no maior comprador do Uruguai

Jogadores do Montevideo City, time uruguaio do grupo que quer comprar o Bahia - Divulgação/Torque City
Jogadores do Montevideo City, time uruguaio do grupo que quer comprar o Bahia Imagem: Divulgação/Torque City

20/04/2022 04h20

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Próximo de um acordo para assumir o controle do departamento de futebol do Bahia, o City Group Football transformou completamente a história de um modesto e jovem clube uruguaio.

Em 2017, o conglomerado dono do Manchester City e de outros nove times espalhados por quatro continentes fez sua primeira aquisição no futebol sul-americano ao comprar o Club Atlético Torque, uma equipe fundada apenas dez anos antes e que tinha papel de figurante na segunda divisão do país de Luis Suárez e Edinson Cavani.

Cinco anos se passaram desde então, e o Montevideo City (seu nome após ser rebatizado pelos novos proprietários) não apenas se estabeleceu na elite do Campeonato Uruguaio, como se tornou o clube que mais gasta com a contratação de jogadores em todo o país.

De acordo com o "Transfermarkt", site especializado na cobertura do Mercado da Bola internacional, o time do uniforme azul celeste responde por incríveis 85% de todo o investimento feito em reforços por equipes uruguaias nas duas últimas temporadas.

Dos 9,4 milhões de euros (R$ 47,3 milhões) gastos desde o segundo semestre de 2020 com a compra de direitos econômicos de jogadores de futebol na nação que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, nada menos que 8 milhões de euros (R$ 40,3 milhões) saíram dos cofres do City.

Só nesse período, o Torque fez as duas contratações mais caras de toda a história uruguaia: o meia-atacante Santiago Rodríguez (ex-Nacional), que custou 4,3 milhões de euros (R$ 21,6 milhões), e o centroavante Nicolás Siri (ex-Danubio), por quem pagou 3,1 milhões de euros (R$ 16 milhões).

Ainda segundo o "Transfermarkt", o Montevideo City possui hoje o terceiro elenco mais valioso do Uruguai (10,9 milhões de euros, ou R$ 52,4 milhões), menos apenas do que os preços de Peñarol e Nacional, as duas maiores e mais tradicionais forças do país.

Apesar de ainda não ter conseguido ser campeão nacional, o clube já começou a ver esse pesado investimento dar frutos. No ano passado, jogou pela primeira vez uma competição continental (Copa Sul-Americana). E, nesta temporada, participou das fases preliminares da Libertadores —foi eliminado nos pênaltis pelo Barcelona de Guayaquil, do Equador.

É pensando nessa possibilidade de projeção que o Bahia pretende se transformar no "City brasileiro". A proposta de venda da sua SAF (Sociedade Anônima do Futebol) por R$ 650 milhões ainda precisa ser analisada pelo comitê deliberativo e aprovada pela assembleia dos sócios para que o negócio seja concretizado.

O City Football Group existe desde 2013, mas seu embrião nasceu em 2008, quando o xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, integrante da família real de Abu Dhabi, comprou o Manchester City. Desde a aquisição, a equipe inglesa, que estava longe de ser uma das maiores potências do seu país, já faturou cinco títulos da Premier League e chegou uma vez à decisão da Liga dos Campeões da Europa —nesta temporada, já está nas semifinais.

Contando todos os times da empresa, já são 42 taças levantadas em oito países diferentes. Só o Lommel (Bélgica) e o Sichuan Jiuniu (China) não foram campeões de nada desde que entraram para a "família".

Caso o City vire o acionista majoritário do Bahia, ele será o primeiro conglomerado que dirige um time realmente acostumado a brigar por títulos no primeiro escalão da Europa a ingressar no mercado brasileiro.

Quem dirige o Botafogo é John Textor, que é acionista minoritário do Crystal Palace, equipe do meio de tabela da Inglaterra. Já o possível dono do Vasco é o fundo 777 Partners, que está prestes a oficializar a compra e também controla do Genoa, vice-lanterna do Italiano. E o Cruzeiro está nas mãos do ex-atacante Ronaldo Fenômeno, proprietário do Valladolid, da segunda divisão espanhola.

Há ainda o caso do Red Bull Bragantino, que pertence à mesma empresa dona de Leipzig (Alemanha), Salzburg (Áustria) e New York (Estados Unidos). Apesar de suas equipes já terem feito várias campanhas expressivas até mesmo no cenário internacional, os troféus mais expressivos conquistados por elas foram do não tão expressivo assim Campeonato Austríaco.