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Rafael Reis

REPORTAGEM

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1º brasileiro da 'era Abramovich' revela como era relação com magnata russo

Alex defendeu o Chelsea durante 5 temporadas e venceu a Champions - Getty Images
Alex defendeu o Chelsea durante 5 temporadas e venceu a Champions Imagem: Getty Images

13/05/2022 04h00

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Durante 19 anos, o torcedor do Chelsea acostumou-se a ver Roman Abramovich gastando rios de dinheiro para transformar a equipe londrina em uma das maiores forças do futebol europeu e dando as caras nas tribunas de Stamford Bridge para ver seus empregados transformarem o pesado investimento financeiro em resultados esportivos.

Pela fama que conquistou ao longo das últimas duas décadas, o magnata russo, que concluiu na semana passada a venda do clube depois de um desgastante processo deflagrado por seu papel na Guerra na Ucrânia, parecia ser uma figura tão onipresente que se confundia com o próprio Chelsea.

Mas, de acordo com o ex-zagueiro brasileiro Alex, que vestiu a camisa dos "Blues" em 134 oportunidades e fez parte do elenco vencedor da Liga dos Campeões da Europa na temporada 2011/12, a realidade não era bem essa.

"Era muito raro o Abramovich dar as caras no clube. Quem decidia tudo e tinha contato direto com os jogadores era a Marina [Granovskaia, braço-direito do russo] e o Peter [Kenyon, na época chefe-executivo do clube]. Eu mesmo demorei um cinco ou seis meses para vê-lo pela primeira vez", disse o ex-jogador, em entrevista por telefone ao "Blog do Rafael Reis".

Integrante da mesma geração do Santos que revelou Diego e Robinho, Alex foi, ao lado do também zagueiro Alcides Eduardo, o primeiro jogador brasileiro contratado pelo magnata. Eles assinaram com os londrinos na janela de transferências da temporada 2004/05, a segunda do Chelsea sob tutela do russo.

Só que, na época, o ex-santista não conseguiu visto de trabalho para atuar na Inglaterra e precisou ser emprestado durante três anos para o PSV Eindhoven. Apenas em 2007, ele obteve a autorização necessária para se juntar aos "Blues.

"Nos cinco anos em que passei no Chelsea, poucas foram as vezes em que ele entrou no nosso vestiário. Ele sempre ia a Stamford Bridge, principalmente nos jogos da Champions. Mas, depois que acabava a partida, normalmente saía do camarote direto para casa."

As exceções geralmente aconteciam depois de eliminações no torneio continental. E uma delas, após a queda nas oitavas de final de 2009/10 merece destaque até hoje nas memórias do brasileiro.

"As reuniões eram muito longas, e ele ficava muito bravo. Teve uma vez que ele ficou especialmente irritado. Perdemos para a Inter de Milão, e o técnico era o José Mourinho [três vezes campeão inglês pelo Chelsea]. Acho que eles nunca se deram bem. Então, foi dolorido demais. No dia seguinte, o Abramovich foi ao centro de treinamento e cobrou bastante. Mas ele tinha razão: jogamos muito mal aquela eliminatória."

Apesar de considerar que Abramovich era um dono de clube menos participativo que Silvio Berlusconi e Nasser Al-Khelaifi, de Milan e Paris Saint-Germain, respectivamente, outros times que o brasileiro defendeu na Europa, Alex reconhece que a importância do russo na história do Chelsea é única e não terá como ser apagada da história.

"Se eu fosse torcedor do Chelsea desde molequinho, esse cara seria um Deus para mim. É um homem que veio de outro país, pegou um clube que não era conhecido internacionalmente e transformou em uma potência", completou.

Abramovich foi "forçado" a vender o Chelsea depois de o governo do Reino Unido congelar as contas do clube como forma de punição pela proximidade entre o magnata e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, responsável pela invasão da Ucrânia.

A transação foi anunciada há uma semana. Para assumir o comando do atual campeão da Champions, o consórcio comandado pelo norte-americano Todd Boehly, acionista do Los Angeles Lakers (basquete) e do Los Angeles Dodgers (beisebol), irá desembolsar US$ 3,1 bilhões (R$ 16,1 bilhões).

O dinheiro, no entanto, não irá engordar a fortuna do antigo dono da agremiação londrina. Já que Abramovich está proibido de mexer em suas finanças, o acordo de venda prevê que o dinheiro fique inicialmente congelado em uma conta para depois ser investidos em entidades filantrópicas.

A transação ainda precisa receber aval da administração fiscal do Reino Unido e também da Premier League, entidade que organiza o Campeonato Inglês. Apesar da natureza incomum do negócio, que só aconteceu por conta de uma guerra e inicialmente não era do desejo do vendedor, essas autorizações devem sair até o fim do mês.

Além das questões financeiras e burocráticas, o Chelsea ainda tem um restinho de temporada para jogar e uma decisão pela frente.

O time comandado pelo técnico alemão Thomas Tuchel joga amanhã, a partir das 12h45 (de Brasília), a final da Copa da Inglaterra, torneio que venceu pela última vez em 2018 e sua única chance de título para não passar 2021/22 em branco no cenário inglês —venceu só a Supercopa da Europa.