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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Perto do fim de jejum, Milan superou calote e desdém de candidato a ídolo

Rafael Leão é um dos protagonistas do Milan, que está prestes a ser campeão italiano - Reprodução/Twitter/AC Milan
Rafael Leão é um dos protagonistas do Milan, que está prestes a ser campeão italiano Imagem: Reprodução/Twitter/AC Milan

14/05/2022 04h00

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Segundo maior vencedor da história da Liga dos Campeões da Europa e um gigante do futebol internacional que passou os últimos tempos adormecido, o Milan pode encerrar neste fim de semana seu maior jejum de títulos italianos em mais de sete décadas.

Onze anos depois de faturar o scudetto pela última vez, o clube rossonero recebe a Atalanta, amanhã, a partir de 13h (de Brasília), na expectativa de não dar chance ao azar e encerrar a espera pela taça já uma rodada antes do fim da Serie A.

Para isso, o Milan (80 pontos) precisa sair de campo com a vitória e torcer para que sua arquirrival, a Inter de Milão (78) não faça o mesmo contra o Cagliari, fora de casa, em jogo que começa um pouquinho mais tarde, às 15h45 (também de Brasília).

Outra possibilidade para a chegada do título antecipado é empatar sua partida e os atuais campeões nacionais, os únicos que ainda podem evitar sua festa, sofrerem uma derrota no fim da tarde.

Mas, independente da forma ou da data da conquista, a possível vitória do Milan nesta edição do Campeonato Italiano será a redenção de uma das camisas mais pesadas do futebol mundial e de um clube que temeu deixar de ser grande.

Desde o seu último título nacional, conquistado lá em 2010/11, o time de San Siro só conseguiu se classificar mais três vezes para a Champions, viu um investidor apontado como seu "salvador da pátria" aplicar um belo calote e enfrentou o desprezo daquele jogador que parecia destinado a ser o maior ídolo para toda uma geração de jovens torcedores.

O declínio do Milan tem tudo a ver com falta de dinheiro. Apesar de o futebol ser um mercado que gera mais grana a cada ano, seu faturamento atual (216,3 milhões de euros, ou R$ 1,1 bilhão, na temporada passada) é consideravelmente mais baixo do que era lá em 2006 (305,1 milhões de euros, ou R$ 1,5 bilhão), época em que frequentava o andar de cima da Europa.

Por isso, o torcedor rossonero se encheu de esperança quando o sempre polêmico Silvio Berlusconi (ex-premiê italiano que passou 30 anos como dono do clube) anunciou, em 2017, a venda das suas ações para o empresário chinês Li Yonghong.

Só que o negócio que prometia colocar o Milan novamente entre os grandes do futebol europeu era um "cheque sem fundos". O comprador não pagou os 32 milhões de euros (quase R$ 170 milhões, na cotação) que pegou emprestado para viabilizar a transação e entregou o clube como garantia.

Com isso, o clube foi parar nas mãos do credor do Yonghong, o fundo de investimentos norte-americano Elliott Management Corporation, que não tinha tenta vontade assim de se meter com futebol.

Mesmo assim, a empresa continua até hoje sendo a administradora do Milan, ainda que a agremiação esteja oficialmente à venda desde o ano passado e esteja prestes a ser negociada com um fundo do Bahrein, o Investcorp.

Com a diminuição das receitas, os grandes jogadores foram se distanciando cada vez mais do gigante italiano. Nomes como Thiago Silva, Clarence Seedorf, Andrea Pirlo, Ronaldinho Gaúcho, Alessandro Nesta e Zlatan Ibrahimovic (quando estava no auge técnico) deixaram o clube e nunca receberam reposição à altura.

Quando conseguiu produzir nas suas categorias de base um jogador "world class", o goleiro Gianluigi Donnarumma, promovido a titular com 16 anos, o Milan acreditou que havia encontrado um pilar para a reconstrução da sua equipe e um nome para ser a nova versão de "Paolo Maldini", ex-defensor idolatrado por lá, que passou a carreira toda no clube e cuja história se confunde com a trajetória rossonera.

Só que esse não era o desejo do arqueiro. Donnarumma passou boa parte da sua estadia em San Siro brigando com a diretoria para receber aumentos salariais, permitiu que seu contrato terminasse e foi embora para o Paris Saint-Germain sem deixar um centavo para o time formador como indenização pela transferência. Para surpresa de zeros pessoas, ganhou fama de "traidor".

O Milan que agora pode encerrar seu jejum na Itália não tem as mesmas estrelas do seu último time campeão. Ibrahimovic é sim um astro consagrado, mas já bateu nos 40 anos e nem mais vem sendo titular.

A base do elenco comandado por Stefano Pioli é formada por jogadores jovens e que custaram relativamente pouco (lembram da decadência econômica do clube?), como o atacante português Rafael Leão (ex-Lille), artilheiro do time na Serie A, e o lateral esquerdo francês Theo Hernández, que não deu certo no Real Madrid e deslanchou depois que chegou ao Calcio.

Além dos ainda candidatos ao título, Milan e Inter, a Itália será representada na próxima edição da Champions por Napoli e Juventus. Por outro, os três rebaixados para a Série B ainda estão em aberto. Cagliari, Genoa e Venezia cairiam se o campeonato terminasse agora. Mas Salernitana, Spezia e Sampdoria ainda estão ameaçadas.